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12 de dezembro de 2025, nº 107 Leia as colunas anteriores de Carlos Fonseca Coluna anterior: A Noite em que o Carnaval Sambou no Ritmo do Tri de Senna Coluna anterior: As Curtas Aventuras de Mestre Marçal por Niterói Coluna anterior: Guia das Disputas de Samba-Enredo - Edição 2026 Coluna anterior: Reedição longe do ninho... Sambas cantados sob outros pavilhões RETROSPECTIVA
DO CARNAVAL 2025 (PARTE 1): TERREIRO DE LAÍLA, UMA GRANDE JOGADA
– A AVENIDA NOS OLHOS QUE TUDO VÊ
O inevitável último mês do ano chegou. É tempo de olhar pra trás,
tirar a poeira da história e recordar tudo o que fizemos, aquilo que deixamos
de fazer, renovar as velhas promessas de toda época. É tempo de retrospectivas.
E sem fugir às tradições, esta coluna volta de onde tudo começou pra passar a
limpo mais um ano que passa. Se desse pra resumir bem resumido, o 2025 do carnaval seria
definido em quatro palavras: mudança, novidade, pressa, perdas. Mudança nas
estruturas do próprio desfile. Novidade em escolas que chegaram e vão chegar ao
desfile principal. Pressa na construção de um carnaval que não tarda a chegar.
Perdas de quem nunca imaginaríamos dizer adeus antes da hora. Mas... como chegamos até aqui? Além da consagração de suas
campeãs, o carnaval passou por muita coisa neste 2025. E é o que vamos
relembrar a partir de agora. O quilombo Beija-Flor vence num ano de simbolismos Um carnaval de novidades, muitas novidades. A começar pela estreia
do formato de três dias de desfile no Grupo Especial – os já tradicionais
domingo e segunda foram unidos à terça-feira. Na esteira da mudança principal,
o julgamento mudou critérios e as notas passaram a ser fechadas ao final de
cada dia. O tempo pra cada escola se apresentar na Sapucaí aumentou: 80 minutos
– mais os dez para o esquenta. E a Beija-Flor evocou seu griô Laíla
(1943-2021) pra emocionar a avenida e voltar aos caminhos da vitória: campeã,
encerrando sete anos de jejum, a escola de Nilópolis conquistou seu 15° título
fazendo pontuação máxima e superando a vice-campeã Grande Rio por apenas um
décimo (270 contra 269,9) – Imperatriz (um décimo atrás da vice), Viradouro,
Portela e Mangueira (ambas em empate triplo) completaram o G-6. Uma décima
quinta estrela de vários simbolismos: o enredo “Laíla de Todos os Santos, Laíla
de Todos os Sambas” deu ao carnavalesco João Vitor Araújo seu primeiro
campeonato na carreira e a despedida perfeita para Neguinho da Beija-Flor após
50 anos de avenida.
Mas o querido leitor deve se lembrar daqueles famosos versos
cantados por Benito di Paula (homenageado pelo Águia de Ouro, em São Paulo,
onde falaremos mais a frente): “nem tudo pode ser perfeito, nem tudo pode ser
bacana”. O novo formato de julgamento carioca tomou paulada de todos os lados.
E com razão. Se pela sorte que premia os incompetentes a campeã foi justa, o
resultado final como um todo gerou questionamentos de público e crítica: os
décimos não descontados à Beija-Flor pela faixa enrolada da última alegoria, o
retorno da Portela ao desfile das campeãs no lugar do Salgueiro (sétimo colocado,
que reclamou publicamente e depois recuou), o oitavo lugar da Vila Isabel a
despeito de todo o tom monótono e deja-vu apresentado na avenida e,
principalmente, o rebaixamento da Unidos de Padre Miguel. O Boi Vermelho, que
voltou ao Especial, teve muitos motivos pra reclamar: das notas e da esdruxula
justificativa de Ana Paula Rodrigues em samba-enredo, acusada de racismo
religioso ao apontar “excesso de termos em iorubá” na letra. E pra encerar o
coreto, até o som dos curimbós (ou a falta dele) na Grande Rio foi motivo de
polêmica... Vixe Maria! A hora de uma ascendente estreante Na Série Ouro marcada pela superação de Império Serrano, Unidos da
Ponte e Unidos de Bangu após o grave incêndio na fábrica de fantasias em Ramos
que as atingiu diretamente (o Império perdeu todas as fantasias e ambas
desfilaram sem ser julgadas), a vitória foi da Acadêmicos de Niterói,
que desbancou bandeiras tradicionais como Estácio, Porto da Pedra e União da
Ilha, e chega pela primeira vez (fazendo barulho) ao Grupo Especial com apenas
três desfiles de vida – a escola, vale lembrar, “herdou” o espólio da
Acadêmicos do Sossego, desativada em 2022. Alvo de boataria polêmica durante o
pré-carnaval, a União de Maricá ficou apenas em quinto. A nota triste fica para
o rebaixamento da São Clemente, que deixa a Sapucaí após 41 anos – a Tradição
também caiu. A Unidos do Jacarezinho retorna ao Sambódromo treze anos
depois com o título da Série Prata. Outra novidade do ano: pela primeira vez desde 2010 a apuração da
Série Ouro foi realizada em dia separado a do Grupo Especial (dessa vez, na
quinta pós-carnaval).
O jogo virou em azul e rosa A Roseira apostou e ganhou. Com o universo dos jogos na mão, a
escola da Brasilândia uniu o tecnicismo do julgamento com a leveza e o colorido
que o enredo pedia. O título não parecia mais ser um sonho distante. Mas quem
pensou que seria fácil? Ainda que a apuração fosse imprevisível, nem os mais
loucos roteiristas poderiam prever que Águia de Ouro e Camisa Verde e Branco,
longe de ser cotadas ao campeonato, disputariam o caneco até o último quesito.
Os muitos décimos perdidos na reta final trataram de colocar as coisas no
lugar. E precisou da última nota de Evolução para a Rosas de Ouro soltar
o grito de campeã depois de 15 anos. No placar final, vantagem sobre a
vice-campeã Tatuapé nos critérios de desempate. Gaviões da Fiel, Mocidade
Alegre e o surpreendente (por ser considerado candidato ao rebaixamento) Camisa
Verde e Branco fecharam o G-5. Cotada para o título, a Tucuruvi acabou – inacreditavelmente – rebaixada junto a Mancha Verde. O samba-enredo do Rosas dizia que “o jogo vai virar”. E o
oitavo título veio de virada.
' É tempo de liberdade e felicidade Na disputa pelo Acesso 1, a Tom Maior resgatou o clássico
enredo sobre Angola para ser campeã e reconquistar a vaga no Grupo Especial um
ano após seu polêmico rebaixamento. Mas a grande novidade ficou pro
vice-campeonato: depois de várias batidas na trave, a Mocidade Unida da Mooca
enfim conquistou o sonhado acesso à elite do samba paulistano tendo Ailton
Krenak como enredo. X-9 Paulistana e Unidos de São Lucas foram “devolvidas” ao
Grupo de Acesso 2, dando lugar à Pérola Negra e Camisa 12.
E foi o Acesso 2 que produziu uma das cenas mais emocionantes do
ano: o trono vazio reservado à Seo Carlão do Peruche na última alegoria do
desfile que a Filial o homenageou – o “cardeal” faleceu quatro dias antes. A
escola terminou em terceiro lugar.
Um título pelos olhos de Sebastião O sorriso octacampeão foi registrado na quarta-feira. Celebrando a
carreira do fotógrafo Sebastião Salgado (naquela que seria sua última homenagem
em vida), a Independente de Boa Vista conquistou o campeonato em
Vitória, encerrando um jejum de 5 anos sem títulos. Residente em Paris, Salgado
não participou do desfile mas enviou mensagens à escola pelas redes sociais. O
fotógrafo morreu em maio. Grande destaque do carnaval capixaba no ano, a Chegou o Que
Faltava (e o irresistível “tira a canga do boi”) ficou com o vice-campeonato, à
frente da MUG. Última colocada, a Imperatriz do Forte seria rebaixada mas
acabou mantida. Após o carnaval, foi feita uma grande reformulação nos desfiles
do Sambão do Povo: o Grupo Especial passou a ter 10 escolas e desfilará em dois
dias (sexta e sábado) a partir do ano que vem – além da Andaraí, campeã do
segundo grupo, Pega no Samba e Rosas de Ouro ascenderam do Grupo A pra elite.
As agremiações restantes do antigo Grupo A e as quatro do antigo Grupo B se
uniram para formar a nova Série Ouro, que desfila nas datas oficiais do
carnaval.
Outras campeãs pelo país - Imperadores do Samba, campeã do carnaval de Porto Alegre
pela vigésima segunda vez; - X-9 Pioneira, campeã do carnaval de Santos pela vigésima vez; - Folia do Viradouro, campeã do carnaval de Niterói pela
sexta vez; - Imperatriz de Olaria, campeã do carnaval de Nova Friburgo
pela décima primeira; - Imperadores do Sol, campeã inédita do carnaval de Uruguaiana; - Imperatriz da Zona Norte, campeã do carnaval de Cruz Alta
pela oitava vez (sendo um bicampeonato consecutivo); - Consulado, campeã do carnaval de Florianópolis pela oitava
vez; - Bole-Bole e Quem São Eles, campeãs do carnaval de
Belém
Mas o carnaval nem sempre é o brilho e o colorido da avenida. Carnaval também é saudade. No próximo capítulo da retrospectiva, faremos um tributo aos nomes que fizeram (e ainda fazem) a festa que nos deixaram em 2025.
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