Sinopse Viradouro 2009
Vira-Bahia,
pura energia (Viradouro - 2009)
"Até que os leões
tenham suas histórias,
Os contos de caça glorificarão sempre o caçador"
Provérbio Africano
A sabedoria ancestral da África, mãe-pátria-terra-da-vida,
hoje mora na Bahia.
Ela evoca situações de sobrevivência na natureza,
e mais do que nunca, é adequada ao nosso convívio social.
Ela pode salvar nossos relacionamentos.
O Brasil (17ª colocação no ranking dos poluidores),
em processo de desenvolvimento, e com boas possibilidades
de pautar etapas de seu crescimento industrial em tecnologias
limpas,
tem potencial para se destacar no mercado de crédito de carbono.
Dentro deste panorama,
a Bahia
ocupa um lugar de destaque,
tendo a primeira metodologia brasileira aprovada pelo
Conselho Executivo de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo, em
Genebra.
Enredo: "Vira-Bahia, pura energia!"
Carnaval 2009
1- "Diga aí, Viradouro, meu dengo!"
Digo sim: é sobre a encantada Bahia, umbigo do Brasil, encontro
do Orum/Ayê.
E como a cultura é o chão do nosso Brasil, que é criado e
recriado constantemente, vai aqui nosso canto de fé nas energias
renováveis.
- O fóssil é passado, "véi"; se liga no combustível
do futuro...
Do infinito, nesta corrida contra o tempo, quase eterna busca,
surgem o biocombustível nos braços abertos do Bonfim, senhor da
doçura.
É festa nas terras celebrantes do sem-fim, pois não importa
quão longa é a noite, o dia virá certamente...
- Vissi, pobre mortal, se avexe: a onda massa, é a bio-massa!
2- Verde combustível, porreta matriz energética.
Deus fez uma linda cidade, dando-lhe o nome do próprio filho. Os
tambores ecoam seus sons pelas ruas do Pelourinho multicor, em
casario de ver-a-vida. Sobe e desce de ancas amadianas e vadios
vadinhos. Escambo de sapiência popular.
O Orum sempre disse que o conhecimento é como um jardim, se não
for cultivado, nada pode ser colhido; e que conhecer não é a
coisa principal, mas sim as ações! São deuses que bradam
espadas, chamam o vento e dobram rugas do tempo, vaticinando: há
energia verde limpa que vem das entranhas de Ayê (terra).
O novo canto de Ossanha das matas, deus da ecologia e padroeiro
dos naturalistas, celebra as sementes perfeitas cultivadas em
solo baiano, é a agricultura que faz sumir carbono, mecânica do
sustento renovável.
3- "No tabuleiro da baiana tem.... Ricinus communis,
a mamona metida a besta!"
Pisar a terra dura do semi-árido, que como a planta é selvagem,
tóxico e resistente.
O caroço verde e espinhento da mamona, grãos oleaginosos e
velho conhecido dos meninos do interior do Brasil como munição
ideal para estilingues, passou a ter uma vocação insuspeitada
como fonte de energia social. E o sertão da Bahia entrou no
mapa-múndi das forças alternativas.
Encostar em esquinas-tabuleiros transbordantes da verdinha,
porque aqui tudo é perto, toda hora tá cedo, e planta mamona
que resolve, esse óleo é limpeza.
4- Oxente, Mainha, vixi que tem dendê na panela e no
motor!
Sabor de dengo. Costa do dendê.
Preta panela de moqueca coral, banho de óleo de palma cheiroso,
pele morena à cravo e canela. Tira um pouco do tempero e enche o
tanque de dendê!
- Quer andar de carro velho, amor? Então venha: completa e
envenena com a quentura da fervura baiana.
5- Axé, o protócolo de Kioto é meu rei!
-Que consumição: o carbono tá a peso de ouro, será que o
mundo vai bater a caçuleta?
Abençoado porto seguro a jorrar metano tirado do lixo,
protegendo as águas, mar da vida. Ponte-cordão umbilical que
flutua sobre o aminiótico Atlântico; pau-brasil possuindo
Europa, África, o mundo.
Os países ricos precisam cumprir o Protocólo do Bem e diminuir
a emissão de gases poluentes, e nós, no Brasil, é que temos a
solução. É na Bahia onde temos terra, sol, água e gente boa
para trabalhar; Bahia parideira formosa de filhos que mais que
nascer, estréiam.
- Reduzam os gazes, olha o buraco! O oceano está subindo, senão
o sertão vai virar mar!
6- Êta povo arretado, recicla Bahia.... Me amarro num
bagaço!
... E pra completar o clima, Maculelê do Etanol, rei da
valentia.
- Eu sou um menino, minha mãe soube me educar, quem anda em
terras alheias,
pisa no chão devagar...
Dançar a dança que os escravos praticavam no meio dos
canaviais, com cepos de cana nas mãos, substituindo armas de
verdade. Porque daí vem o bagaço, que é arma contra o
desperdício e o esgotamento.
O sol está ficando forte nas divinas plantações recheadas de
talos; as cores já estão mais vivas sobre a luta; as roupas
cada vez menores na terra da mestiçagem.
- Você já foi a Bahia, nega? Pois vá: O vento não quebra um
bambu que a ele se dobra.
7- Ópaíó: O trovão das Usinas da Alegria na Chapada
Diamantina!
Lavoura de sonho. A roda da fortuna começou a girar no sertão:
as usinas estão a todo vapor. São relâmpagos do progresso!
-Agora, é só chover... Tempestade e justiça....
E como chuva é trovão, terminamos esta prece pelo
biocombustível-Brasil no raio de luz do encontro, no infinito,
dos deuses vermelho-e-branco apaixonados. Porque na floresta,
enquanto as ramas discutem, as raízes beijam-se. E o beijo de
Yansã em Xangô sela o carnaval da zuada, a folia de amores
proibidos, amores no infinito...
Amantes enlaçados pela luz que racha o paraíso, reflexo de
heranças. Trovão da sedução: a lâmina da espada de fogo da
deusa das tempestades, que contribui para a fertilidade do solo,
encontra o punho do destemido.
- Se você soubesse o valor que o preto tem, tu tomava um banho
de piche....
Milton Cunha
Carnavalesco
Glossário do Baianês que embala o Enredo:
Meu dengo- saudação carinhosa; Orum- Lugar no Infinito onde os
Deuses habitam; Ayê- A terra habitada pelos homens;
"Véi"- Corruptela para "velho", camarada,
amigo; Vixe- exclamação para qualquer coisa; Se aveche- se
apresse; É massa!- é legal; Porreta- bacana; Amadianas-
qualificativo dos que pertencem ao universo de Jorge Amado;
Vadinhos- parecidos com o bom-vivant Vadinho, primeiro marido de
Dona Flor; Ossanha- Deus da Ecologia; Metida a besta- se achando
importante; É limpeza- sem problemas; Consumição- Encheção
de saco, agonia; preocupação. Bater a caçuleta- Morrer;
Maculelê- dança dos escravos; Da zuada- barulho forte
Fontes consultadas:
Dicionário de Baianês; Site da Petrobrás; Site Recicla Bahia;
Site Bio-Diesel Brasil, wikipedia.org.