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Da Magia de um Olhar surge o Circo no Vilar (União do Vilar Carioca - 2022)

Da Magia de um Olhar surge o Circo no Vilar (União do Vilar Carioca - 2022)

APRESENTAÇÃO

Alô-alô, grande público, eu cheguei. Cheguei para ficar e alegrar o seu dia a dia, alegria, alegria na cidade, vem de lá da antiguidade, a minha fantasia. Não ouse me chamar de “Xing Ling”, me respeite, pois eu sou cinco estrelas (ou mais), já encantei de Esparta ao Egito, na paz ou no conflito, aqui estou “namastê”! Eu lhe saúdo com meu samba e meu agito, veja como sou bonito, eu já encantei você.

Pode crer que ainda sou o “Máximo” na arena ardente, palco da sobrevivência, com irreverência enfrento o meu leão diário, hoje aqui é meu cenário, o de amanhã já não sei. Meu otimismo é itinerante e me faz gigante neste imenso picadeiro, o “Anfiteatro” é o meu Rio de Janeiro, espaço “Real das Artes” de um malandro brasileiro!

Meu sonho vem do olhar da preta velha mandingueira, gira baiana no terreiro a noite inteira, pro show da vida não ter fim. O cinto aperta e a magia é a labuta, tenho fé, não fujo à luta e até empresto um dindim. No sobe e desce em ladeiras e vielas, resistir para existir, meu lema, é realidade. Dignidade não é fruto de um dilema, é direito garantido, artista-cria das favelas.

Aplausos! Sou a UNIÃO DO VILAR CARIOCA, que com ousadia e muita criatividade, vou mostrar que aqui é samba de verdade!

Autor do texto: Cléo Meirelles

 

SINOPSE DO ENREDO

Circo é meu Vilar, é comunidade

Em sua arte de sonhar com o novo alvorecer

Palhaço é “funkeiro”, Bailarina é “passista”

E o dom da vida é ser “malabarista”

É com esta estrofe que iniciamos a contar nosso enredo para o carnaval de 2022. A ideia central é apresentar e valorizar a sobrevivência nas comunidades do Rio de Janeiro, enquanto arte popular, em especial a do Vilar Carioca, lançando um novo olhar sobre a arte circense. Para isto, apresentaremos as origens do circo na antiguidade até a chegada no Brasil, através dos povos nômades, os ciganos, suas adaptações, transformações e, por último, o que seria o CIRCO NO VILAR.

DA ANTIGUIDADE AOS DIAS DE HOJE

A arte milenar circense era praticada por diversas civilizações antigas, entre elas a chinesa, a indiana, a grega, a egípcia e a romana. O primeiro registro da composição do circo, que se aproxima ao que conhecemos na atualidade, se deu em Roma, com o nome de “Circus Maximus” (século IV a.C.), com capacidade para, aproximadamente, 150 mil pessoas. Este circo era um espaço de lutas, domínio de feras e exibição de habilidades humanas diferenciadas para entretenimento da população. Deste mesmo modelo de apresentações, após o incêndio do “Circus Maximus”, surgiu o famoso Coliseu (40 a.C.), mas para um público muito menor.

Com o passar dos tempos, já na Idade Média, as apresentações circenses foram aperfeiçoadas e, cada vez mais, diversificadas, com artistas populares que se apresentavam em espaços públicos. Mas o circo como conhecemos hoje, com picadeiros, malabaristas, shows equestres, etc., só surgiu no século XVIII, na Inglaterra. Uma grande referência foi o Anfiteatro Real das Artes, criado pelo cavaleiro inglês Philip Astley, em 1768.

A chegada do circo ao Brasil se deu no século XIX com a vinda de famílias de artistas europeus e, com eles, os ciganos que, por sua característica nômade, espalharam a arte circense por diversas regiões do país, sendo perseguidos por não respeitarem religiões e leis locais. Aqui, alguns personagens foram adaptados como, por exemplo, o palhaço, que na Europa era calado e melancólico, tornando-se, um símbolo do riso, das piadas, da irreverência e da alegria. Todavia, algumas atrações como exibições de figuras exóticas, domínio sobre feras (leões, elefantes e ursos) e adestramento de diversos animais (serpentes, cães, macacos, etc.) se mantiveram.

A imagem do circo sempre esteve atrelada ao povo, enquanto o “grande público” promotor de todo o êxtase, que devolve aos artistas a valorização desta arte milenar em forma de aplausos. O circo é considerado uma arte popular, que sempre ocupa locais estratégicos, onde o fluxo de pessoas seja frequente, respeitando as preferências dos seus espectadores, com espetáculos de grande interação, principalmente com o público infantil.

As crianças sempre preferiram os momentos em que os palhaços e os animais faziam suas aparições nos espetáculos circenses, mas os debates e criação de um PL sobre a proibição da utilização de animais em circos no Brasil levaram muitas pessoas a se afastarem destes espaços de cultura milenar. Apesar da compreensão sobre a necessidade de salvaguardar a vida dos bichos, ao mesmo tempo é difícil dissociá-los dos espetáculos, por conta das origens. Esta ruptura, digamos assim, causou a queda nas bilheterias, a degradação de algumas companhias de circo menores e, principalmente, fez notar a falta de diálogo entre o poder público brasileiro e os artistas circenses, que levam em conta alternativas encontradas em países como Chile, Bolívia e Estadas Unidos, que, ainda, permitem a presença de animais nos espetáculos.

CIRCO NO VILAR

O enredo pretende enaltecer o circo, enquanto arte popular, mostrando, também, as realidades das formas de sobrevivência do povo carioca nas comunidades. É um olhar poético, que se propõe a estabelecer uma comparação entre o espetáculo circense e o espetáculo da vida, mostrando alguns personagens, que, como os artistas, constantemente, criam e recriam formas inovadoras de lidar com o dia a dia.

Nas comunidades cariocas a atração principal é a resistência, sem perder o otimismo, a alegria e a esperança, mesmo em uma realidade hostil e extremamente carente. Os malabarismos estão presentes nos sinais das vias expressas, mas, também, no ato diário de enfrentar a falta de mobilidade e precário acesso a políticas públicas de primeira necessidade. A mágica fica por conta de subsistir com a baixa remuneração, fazendo multiplicar os proventos recebidos, vendendo guloseimas e uma série de outros produtos nos transportes públicos, comidas, bebidas e artesanatos. O “globo da morte” é vivenciado pelos mototáxis, que se aventuram em seu ir e vir, sendo alvos constantes de disparos certeiros nas investidas das operações policiais, bem como de linhas chilenas. Contudo, as comunidades não são somente palcos da dor, pois são espaços de promoção de cultura, lazer e entretenimento. Os “funkeiros” transformam esta tristeza em alegria e ostentação, assim como o poderoso palhaço em suas apresentações. Nas quadras das escolas de samba, as passistas se tornam bailarinas, encantando a todos os sambistas com sua dança expressiva. As irreverentes e carismáticas “Drag Queens”, como a mulher barbada, assumem a parte exótica em suas aparições, que ora espantam, ora encantam sempre com uma poderosa mensagem a ser apreciada.

A vida nas comunidades se constrói e se desconstrói, constantemente, sendo protagonizada por muitos personagens-artistas, com uma única finalidade: resistir para existir. A Escola de Samba UNIÃO DO VILAR CARIOCA, com criatividade, se utiliza da magia deste novo olhar, para mostrar que as comunidades podem ser vistas como grandes circos a céu aberto, bem como o circo pode ser visto como uma comunidade de artistas itinerantes, sob um céu de lona, na mesma arte pela sobrevivência. Deste exercício metamórfico surge o CIRCO NO VILAR, ressignificando conceitos, derrubando preconceitos e contribuindo para a construção de um mundo melhor.

UNIÃO DO VILAR CARIOCA é samba de verdade!

Pesquisa, desenvolvimento e texto: John-John Schmitz e Cléo Meirelles