Sinopse Tuiuti 2008
Cartola,
teu Cenário é uma Beleza (Tuiuti - 2008)
O homem que deu a Estação
Primeira de Mangueira seu nome e suas cores, aquele que em todo o
mundo é o nome mais conhecido da Mangueira, uma escola
freqüentemente acusada de tradicionalista, fechada em si mesma,
avessa a quem vem de fora, não é uma cria do morro. Angenor de
Oliveira, que se transformou em sinônimo da Mangueira, é um
carioca da zona sul, onde viveu a maior parte da infância, e só
foi descobrir a Rua Visconde de Niterói por acaso.
Nascido em 11 de outubro de 1908, no Catete, filho de Sebastião
Joaquim de Oliveira e ainda Gomes de Oliveira, mudou-se com a
família em 1915 para o vizinho baisso de Laranjeiras, que no
inicio do século 20 formava com o primeiro, e mais Botafogo, um
rico e importante núcleo de samba e sambistas, com alguns dos
melhores ranchos, blocos e cordões da cidade, e gafieiras como a
Flor do Abacate. E foi em Laranjeiras que influenciado pelo pai,
o menino Agenor encontrou o samba. Aprendeu a tocar violão, e
depois cavaquinho, observando o pai, e desfilou no rancho
Arrepiados, dos funcionários da fabrica de tecidos Aliança, que
tinha as cores verde e Rosa que ele mais tarde daria à sua
Estação Primeira.
Com 11 anos mudou-se com a família para o Buraco Quente, do
Morro da Mangueira, zona norte do Rio, entre São Cristóvão e
Engenho Novo. Agenor abandonou os estudos e começou a trabalhar
como tipógrafo em uma gráfica da Avenida Mem de Sá, no Centro.
Aos 15 anos com a morte da mãe, abandonou o morro e passou a
trabalhar como pedreiro, usando, para proteger a cabeça, um
chapéu-coco, confundido pelos colegas com uma cartola, que se
transformou no apelido famoso.
Cartola gostou da Mangueira e vice versa. Ele participava de
rodas no morro, compunha, mas não podia sair em nenhum dos
blocos da comunidade por que ele e seus amigos bebiam, brigavam,
falavam palavrões e caiam na farra. A solução foi criar um
bloco só para eles. No nome o grupo debochava do conceito que o
morro tinha deles: BLOCO dos ARENGUEIROS.
O bloco teria saído pela primeira vez no carnaval de 1927. Mas
já no ano seguinte cartola defendia a união de todos os blocos
do morro(Bloco da Tia Tomásia e Bloco do Mestre Candinho) para
criação de uma Escola, fundada em 28 de abril de 1928 com cores
Verde e Rosa do Arrepiados de Laranjeiras e o nome de Estação
Primeira.
Carola conquistou fama do morro, sua concepção harmônica, suas
melodias e versos são simplesmente maravilhosos. Mestres da
Música como os maestros Villa Lobos e Stokovsky foram ao Buraco
Quente conhece-lo e tomar conhecimento de sua obra.
Teve suas músicas gravadas por cantores como Francisco Alves,
Mário Reis e Cramem Miranda, participou em 1940, das gravações
realizadas com o Maestro Leopold Stokovski a bordo do navio
uruguai, como parte da política da boa vizinhança implementada
pelo governo dos Estados Unidos, e ainda teve um programa na
rádio Cruzeiro do Sul, chamado A Voz do Morro, ao lado de Paulo
da Portela. Com ele, e mais Heitor dos Prazeres, Cartola montou o
trio Carioca, que fez vários shows em São Paulo no início de
1941.
Mas a seguir veio o período mais difícil, marcado pela
meningite de Cartola, a morte de sua mulher Deolinda e um
afastamento da Mangueira.
Levado de volta à Estação por Carlos Cachaça, seu parceiro
mais fiel, acabou se reencontrando com Eusébia Silva do
Nascimento Silva do nascimento, a ZICA, que ele conhecera antes
de unir-se a Deolinda.
O Zicartola ficava na Rua Carioca que foi um dos redutos do samba
no asfalto e tinha em seus palcos, além do próprio Cartola,
nomes como Zé Kéti, Nélson Cavaquinho, Élton Medeiros, Ismael
Silva, Clementina de Jesus, Ciro Monteiro, Elizeth Cardoso, Bello
de Carvalho, João do Vale e Paulinho da Viola.
Também se tornou um ponto de encontro de grandes sambistas e
outros músicos da época, como Nara Leão, Carlos Lyra, Antônio
Carlos Jobim, Sílvia Telles e outros.
A experiência durou até 1965, quando o Zicartola fechou as
portas, derrotado pela inexperiência administrativa do casal.
Mas tinha pelo menos, sido suficiente para mostrar a importância
de Cartola, que em 1974 lançou seu primeiro disco, Cartola, pelo
selo Marcus Pereira. A ele se seguiram Verde que te quero rosa,
em 1977 e Cartola 70 anos, em 1979.
Angenor de Oliveira morreu de câncer em 30 de novembro de 1980,
deixando obras-primas como As Rosas não Falam, o Mundo é um
Moinho, o Sol Nascerá, Não Quero amar Mais a Ninguém entre
outras.
Através de suas canções, o povo brasileiro pôde entender um
pouco mais a vida e como lidar com o dia a dia de uma maneira
mais poética no coração.
Tinha sabedoria suficiente para saber o quanto estava adiante de
seu tempo, o quão importante seria os Brasileiros um dia
perceberem a mensagem que Espíritos Africanos o designaram para
levar a terras distantes.
Hoje em dia, o mundo inteiro percebe.
Cartola não existiu. Foi um sonho que tivemos.
Nelson Sargento
Dado Importante para compositores: exaltar os 80 Anos de
Mangueira
Eduardo Silva (carnavalesco
do Paraíso do Tuiuti)