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Aquarela Negra de Debret (Unidos de Vila Santa Tereza -
2015)
Fechou-se o baú de viagem.
Debret bradou: “- Adeus, terra amada, adeus!” Uma lágrima afrancesada rolou. O destino era o Brasil, de Portugal e D. João VI. Desembarcou em choque. Estupenda natureza! Explosão de cores! E andarilhou a descobrir a negritude tropical! Maravilhado, ia pintando a natureza, o colorido negro, o suor escravo. Viu que a rua era um espaço de negros trabalhadores, vendedores de carnes e flores, Mas também de quituteiras e artesãos que juntavam migalhas para comprar a alforria. Encantou-se com os mistérios da fé, fosse com as irmandades religiosas negras – Salve o Rosário e Nosso Senhor Jesus Cristo dos Orixás! – fosse com escravos ciganos que, misteriosamente, previam o futuro. Saravá, amém, axé! Retratou os negros – os comerciantes, mas também os comercializados – do Mercado do Valongo. Alguns deles, tal qual tigres rajados de um branco de excrementos ao sol, tinham a árdua tarefa de carregar os dejetos dos senhores em tonéis de madeira. Tudo Debret retratava. Extasiado. Chocado. Emocionado. Se o escravo era o pé e o braço da casa grande, Debret demonstrava pintando as mãos que cozinhavam o alimento, As tolas senhoras que só andavam, na casa e na rua, carregadas em liteiras e redes, Os seios das amas que alimentavam aos sinhozinhos, Os corpos das negras que saciavam os desejos mais sórdidos do senhor. Tudo, tudo, pintava Debret Até quando esqueciam os dissabores e brincavam de ser feliz Viravam ao avesso e teciam a própria liberdade Em batuques, risos-choro, taca-farinha! Mas o “brancote” foi-se embora para o seu país, Contava que lá era frio, não tinha calor Faltava um Brasil ali na França para ser a sua inspiração Sentiu saudades… Deixou seu legado e percebeu Que mesmo com o dia-a-dia de resistência e sofrimento O negro deveria ser pincelado em forma de arte A mais linda arte humana! Autor do Enredo: Vinicius Ferreira Natal, Colaboração e Desenvolvimento: Diogo Villa Maior e Thiago Lacerda |
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