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Zezé Motta – A Deusa de Ébano (Acadêmicos do Sossego - 2017)
Zezé Motta – A Deusa de Ébano (Acadêmicos do Sossego - 2017)

Ora yê yê “Oxum”, ora yê yê minha mãe! Ecoam tambores para lhe reverenciar!

Nascida na terra da “cana caiana”, foi minha “frágil força” que me impulsionou a mostrar mais que minhas “sete faces” no ilusório cenário artístico. Assim, aos palcos de Dionísio subi para deixar de ser eu e ser muitas outras.

O que tive de enfrentar para traçar meu caminho “pouco me importa”. Para alcançar um destino “romântico” sofri muito “castigo”. Pelo meu “negrito” jeito de ser, “ai de mim”, incomodei bastante a civilizada sociedade que “dança” com hipocrisia.

Reconhecida pelo meu talento, minha luz é quem “prateia” as minhas conquistas ao longo de uma vitoriosa carreira de atriz e cantora. Hoje, em estado de graça, alcanço o auge de minha vida como cantriz. “O samba mandou me chamar” para me elevar à categoria de Deusa de Ébano, nessa emocionante homenagem carnavalesca.

Comecei no teatro, estreando profissionalmente como atriz na polêmica obra de Chico Buarque, “Roda Viva”, peça censurada pela ditadura. Fiz rir e chorar. Participei de outro importante espetáculo, “7 – O musical”, fazendo com “paixão” o que mais gosto nessa vida: atuar e cantar.

Foi a sétima arte que me deu a esperada fama. “Magrelinha” com “o dengo que a nega tem” e uma sensualidade à flor da pele, numa mistura de raça e cor. Dei vida a personagens marcantes nos filmes “Quilombo”, “Águia na Cabeça”, “Orfeu” e, sobretudo, “Xica da Silva”, que me imortalizou e me lançou ao estrelato internacional.

Paralelamente à vida de atriz, aos poucos brotou a cantora. Nas boates Telecoteco e Balacobaco, nas quais primeiro tive “o direito à vida” de cantar as “dores de amores”, de soltar minha voz, na “doce esperança” de mostrar este meu outro dom, o meu canto de resistência que tanto fascina, para “ter você comigo”, bem mais perto de mim. Meu sorriso largo transborda minha alma “feiticeira” na alegria de viver.

Atuar e cantar. Sempre soube que era essa a “chave dos segredos” que realiza esta mulher guerreira e mística na ribalta, que veio ao mundo numa “trovoada” para ser atrevida e, com atitude, conquistar tudo o que quer, com “decisão” e muita sabedoria.

“O sangue não nega” o furor que se avassala dentro de mim e me torna, mesmo sem eu querer, uma “divina criatura”. Aos olhos dos meus fãs, uma diva. Por isso, “onde o sol bate e se firma”, abrem-se as cortinas para que eu possa me doar por inteira, realizada, na “divina saudade” de uma “negra melodia”.

A “senhora liberdade” abriu as asas sobre mim, me dando força para lutar contra o preconceito. Meu “pecado original” e uma intensa consciência racial só reforçam minha militância nas causas do negro, pelas quais lutarei até o fim com “autonomia”.

No horário nobre da televisão me joguei no “corpo a corpo”, rompendo os grilhões do racismo por um amor proibido entre uma mulher negra e um homem branco. E da intolerância fui “a próxima vítima”, vivendo uma rica empresária numa sociedade que não aceita a ascendência em igualdade da “negritude” brasileira.

Agora, brilhando nesse sagrado palco da folia, “crioula” com muito orgulho e dignidade, “trocando em miúdos”, venho aqui me apresentar no meu melhor papel:

- “Muito prazer, eu sou Zezé”!

Pesquisa e texto: Julio Cesar Farias
Carnavalesco: Marcio Puluker