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O Circo do Menino Passarinho (Acadêmicos do Sossego - 2016)
Canta, passarinho, canta!
Canta sem parar! Canta Juriti, canta Bem-te-vi Canta Curió e Sabiá! Refrão do samba de enredo do Acadêmicos do Sossego de 1984, “Natureza: o show não pode parar” (adaptado) Sinopse do Enredo (em linguagem de primavera, na cor azul) Ai, sossego de terras pisadas por mim... E os silêncios caídos como folhas Nos limites de uma tarde aberta... Nem posso mais dar saltos-mortais nos ventos. Agora Eu passo as minhas horas a brincar com palavras. Brinco de carnaval. Como não furar lona de circo para ver os palhaços? Aprendera no circo, há idos, que a palavra tem que chegar ao grau de brinquedo Para ser séria de rir. Manoel de Barros Deu corda nas engrenagens da mente, mambembe. Há sempre um caracol na cuca, girando em invenção perpétua. Se a “palavra poética tem que chegar ao grau de brinquedo para ser séria”, é preciso, pois, brincar! A revoada gorjeou em festa: chegou a caravana pantaneira, a trupe dos andarilhos, a manhã-passarinho, na raiz do mato! Ali, na terra onde os quintais são maiores que o mundo, o circo armou sua lona. Memória inventada? Magia de pequeno! O Menino do Mato, Menino Passarinho, no infinito das estripulias, mal acreditou no que os seus olhos viram. Pingava o sol no florescer das águas. Entre árvores e cascatas, teve início o turbilhão de graça. Tinha um quê de triste o Cachorro Vira-Lata, palhaço por opção. A turma não perdia o tom e a soprano explodiu cantando – estourou dentro dos sons (e a voz, ela era azul, como azul era o perfume que exalava, como azul era o mistério do menino - que era de bugre e de brejo, rupestre, aprendiz dos Marandovás e da nobreza do chão do mato). Arranha na corda-bamba, saltos e cambalhotas: podia, tal sinfonia? E assim se esculpia o orvalho. Famílias sem dor nas costas equilibravam universos: os galhos pararam para ver a maravilha. Camaleão, ilusionista velho, pintou-se em um arco-íris. Mil cores se contorciam e a tarde caía branda, lenta, escorada nos arvoredos. O mundo se recriava. As luzes tremelicaram quando o show se tornou bizarro: então trapezistas voaram, o Tatu se mostrou Canastra, o menino petrificado – era imenso o Jacaré feroz, no picadeiro da vida e da morte. Encarou-o e viu estrelas. Dançou com a Onça-Pintada. Bailarina, branca de espuma e nuvem, a Garça brilhou sozinha. “As garças quando alçam se entardecem”, murmurou baixinho, assim, quase nada – porque é no nada, no pouco, no cisco, no mínimo, é aí, nas coisas pequeninas, sementes e formigas, que dorme a poesia. Fez girar o seu globo da sorte. “Quando eu crescer eu vou ficar criança”. “O meu amanhecer vai ser de noite.” “Eu queria crescer pra passarinho...” Se era lona ou se era o céu, rasgou como quem rasga o sono. Socós e Borboletas o levaram para longe; agarrou-se na crina do vento, beijou a face da Lua. Virou, grandemente, poeta. Sonhou em azul-sossego. Brincou de fazer carnaval. Em homenagem ao centenário de Manoel de Barros, o pantaneiro fazedor de amanhecer Dedicado ao menino Gustavinho, que pegou carona na lira e voou...; que sonhou em ver, novamente, o “show da natureza” no Sossego Gabriel Haddad e Leonardo Bora - carnavalescos |
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