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Banananás
- O encontro da Rainha Mariola Banana Pacova do Congo e d'Angola com o
Rei Amazônico Ananás Ibá-Cachi, da Corte dos
Abacaxis de Serpa (Acadêmicos do Sossego - 2015)
Justificativa do Enredo Em 2015 ocorrerá o "Encontro de
Niterói com a África". O Grêmio Recreativo Escola
de Samba Acadêmicos do Sossego, do Largo da Batalha, aceita o
convite para participar das comemorações e se
propõe a carnavalizar o diálogo transcultural entre os
reinos africanos da costa e as nações indígenas
brasileiras. Para isso, traz os frutos que se tornaram, positiva e
negativamente, emblemas de tropicalidade e Brasil - a banana e o
ananás, o nosso abacaxi.
Ambos nos levam à África; ambos batalham pela preferência dos fregueses, dia a dia, nos mercados daqui e de lá (inclusive no Mercado Popular onde atualmente a Sossego ensaia); ambos desfilam vaidosos nas avenidas do carnaval - disso todos sabem. Mas eles também representam um conjunto de discussões identitárias que, no tom anedótico das histórias populares, transformaremos em fantasias e alegorias na Estrada Intendente Magalhães. Na folia da Sossego, a Banana é a Rainha das Frutas, majestade que veio da África; o Abacaxi, um Rei Amazônico, a presença Tupi-Guarani. Todo cuidado é pouco: nem tudo que reluz é ouro, o abacaxi pode ser azedo. Descascar abacaxi é dose, mas das cascas se faz o vinho - o aluá. E se alguém escorregar numa casca de banana? Sambemos e desfrutemos o doce prazer da vida... pra tudo se acabar na quarta-feira, numa feira pertinho da gente, cenário de Tarsila do Amaral. Escolha o seu escudo e viaje! Sinopse do Enredo BANANANÁS O encontro da Rainha Mariola Banana Pacova do Congo e d'Angola com o Rei Amazônico Ananás Ibá-Cachi, da Corte dos Abacaxis de Serpa I - A Banana, da África ao Brasil Conta a história que na costa africana, no tempo das Navegações, a Banana valia ouro. Não era nativa de lá, veio de longe, do Oriente, e chegou mesmo a ser trocada por marfim, diamantes, pelo mais desejado dos metais da terra. Cobiçada, virou plantação. Por vários nomes era chamada, de mahonjo, em quimbundo, a banana, na Guiné. Quanto ao significado, dividia opiniões: de um lado, uma fruta sagrada que certamente existia no Éden - a Musa do Paraíso; do outro, o prazer do pecado: a tentação de Adão e Eva e a astúcia da serpente. O que não se discute é que os cachos amarelos gostavam do sol e do solo africanos. A fruta deu nome a uma vila perto de Cabinda, em Angola, e a um porto, no Congo. Tivesse o seu Trono Real, seria a Rainha Mariola Banana do Congo e d'Angola, a soberana Rainha das Frutas. Mas nem tudo era doce na terra dos imbondeiros: dos portos africanos, inúmeros navios de escravos e mercadorias (bananeiras, inclusive) saíram rumo ao Novo Mundo - a diáspora negra, as travessias forçadas. A Rainha chegou ao Brasil, aportou na nossa praia e conheceu os parentes distantes. Aqui, cultivava-se a Pacova, versão ácida e rija que precisava ser levada ao fogo. Diante do novo cenário, difundiu-se a qualidade africana - "engana-fome", boa de comer crua. A Rainha venceu a Pacova. Abrasileirou-se. A mistura só fez aumentar e hoje há diversos tipos, todos arregimentados pelo título BANANA. O problema é que no Brasil já existia um Rei coroado - e aí a história complica. II - O Ananás, do Brasil à África Dos frutos encontrados aqui, nenhum causou maior espanto que o Ananás, o equivalente vegetal ao susto de um rinoceronte. Os primeiros exploradores acreditavam que ele reinava na Amazônia, às margens do Abacaxis, rio que emprestou o nome a uma tribo de índios guerreiros. Ibá e Abá, homens e frutos, valentes e cheirosos. A coroa, a textura, o perfume, daí o nome e a fama - o Rei ideal para a Rainha africana? As coisas não são tão simples. A Banana chegou, o Ananás se foi embora: nos tumbeiros cruzou o mar, na África desembarcou. Fez o caminho inverso e tratou logo de se espraiar, adaptou-se ao litoral, espetou as savanas. O Rei Ananás Ibá-Cachi, da corte dos Abacaxis - aldeia rebatizada Serpa. De Angola ao Senegal, tornou-se o glorioso fruto. Africanizou-se. Lá, até hoje é chamado ANANÁS, coroa e cocar na cabeça. Mas se engana quem acreditar que ele abandonou o Brasil-pandeiro. Era esperto, o fruto espinhoso: fez do idioma disfarce e por aqui mudou de nome. Da palavra Ananás só ficou o cheiro (e o nome científico Ananas comosus). Triunfou Abacaxi, palavra confusa para um fruto cafuzo, caboclo, mulato, mameluco - mutante. E desde então disputa o casal a realeza das nossas quitandas. III - Banananás - Batalha e batuque no Mercado Popular do Largo Muitas luas e marés depois, a disputa abocanhou Niterói, lugar que remete ao Éden: tem as praias de Adão e Eva, a Enseada do Bananal e o Morro do Abacaxi. A aldeia de Serpa, do Amazonas, virou Itacoatiara; outra sincronicidade: Niterói também tem a sua Itacoatiara, bairro, praia, Costão. Na Grota do Surucucu não se via a famosa serpente? Nos arredores da Grota cresceu a Sossego e no Largo da Batalha (o cenário perfeito para o nosso enredo, o refúgio de Araribóia) ressoam as caixas-de-guerra e os caixotes de madeira. Uma feira reúne o povo: o Mercado Popular do Largo, primo-irmão dos mercados africanos. Em bancas, tendas e calçadas os vendedores de Bananas e Abacaxis formam anonimamente os seus exércitos e declaram a barulhenta guerra dos preços. Qual o fruto mais brasileiro? Afinal, temos uma cara? Marchinhas inocentes, visões estereotipadas? Banana nanica, bananada de ananás? E a liquidez do abacaxi? No fundo, os briguentos se amam - e podem figurar, juntos, em um mesmo turbante com balangandãs. É briga de amor frutoso. BANANANÁS! O povo escolheu o samba e a passista riscou o ponto. Tem comida de gente e comida de Santo. Um afro-samba tropicalista! Eu, que não sou bobo nem nada, girei o facão, fiz a capoeira. Muitas histórias os feirantes contaram, as quituteiras encheram sacolas, mexeram os doces nas panelas, e a Batalha se acabou em festa, mistura de congo e umbigada, casamento de índio com negra, desfile de escola de samba. - Olha a Banana! Olha o Abacaxi! E lá da África vem a resposta: - Olha a Banana! Olha o Ananás! Quem falou foi um papagaio. Made in Macunaíma. Adeus. Fui! Gabriel Haddad e Leonardo Bora, carnavalescos Dedicado aos "feirantes" Dudu (a afro-tropicalidade curumim) e Alexandre (30 carnavais no caixote, prata da casa, artista e arteiro da Acadêmicos do Sossego). Motivado criticamente pelos textos O mais popular africanismo no Brasil, sobre a palavra banana, e Guerras do Ananás e do Abacaxi, sobre a etimologia do fruto de mesmo nome, presentes, ambos, na coletânea Made in Africa, de Luís da Câmara Cascudo. |
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