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Dona Marta Mexe o Caldeirão da Pantera (Mocidade Unida de Santa Marta - 2013)
Dona Marta Mexe o Caldeirão da Pantera (Mocidade Unida de Santa Marta - 2013)

E beijando o rio de asfalto com nome de santo por onde escorre uma cidade que não descansa – São Clemente –, ergue-se Marta, outra santa, mas que também é dona, Dona Marta, quituteira de mão cheia, prendada e miscigenada. É ela, peito e bucho fartos, sangue de branco, índio e negro, a dona de um autêntico caldeirão - e quem nos apresenta uma receita com sabor multirracial, cultural e do balocobaco. Eis o morro, meus bons! Abre-se o cortiço dos poetas, dos loucos, dos sonhadores, do povo e, nas suas entranhas, lá está um borbulhante espaço de convivência onde manifestações, gentes e propostas circulam com liberdade. A vassoura que espanta o lixo vira estandarte na folia e é a mesma da mulher com buço por raspar que corre atrás do marido mulherengo no bar da esquina. Eita! Com mulher de bigode nem o Diabo pode!

A santinha vira moça formosa quando cai a noite, os trabalhadores são de enxada, terno ou bermudão, o sambista chacoalha a caixa com os fósforos que esquentam o rango. Tem até padre que bate uma bolinha com a molecada, o pastor amigo de benzedeira, curimba até o sol raiar, nos terreiros das batucadas. Tudo termina, claro, em café da manhã farto na laje, e o céu se enfeita de pipas e de um azul incomparável, para mais um dia acontecer. Dona Marta não se cansa de se debruçar sobre ela mesma, tal qual a namoradeira na janela com seu batom e vestido de chita, e vive a contemplar o colorido festival costurado em seu vestido de ladeiras, escadarias, becos e vielas grafitados.

Mas no carnaval vira pantera, a felina da Avenida e dos bailes de máscaras, que se junta à mocidade unida do morro para festejar. Aliás, é na festa, em qualquer uma, que o brasileiro se iguala, se encontra, se apinha, sem distinções quaisquer. Ora, no caldeirão da pantera não poderia ser diferente! Mesa posta e som na caixa, Dona Marta abre as portas para tribos que vêm de cá e lá, “o baile todo!”, lado A e lado B, num democrático festival de misturas, arte-movimento. Regional, tradicional, transnacional, o morro tem ritmo de berço, exportado e importado, um vaivém sem alfândega e fronteiras. Do funk que ecoa a decibeis mil nas caixas de som ao velho e bom pagode de raiz, não faltam espaços e roteiros para furdunço.

É a rádio-comunidade unindo também corações românticos, trilha sonora para a novela da vida real que acontece indiferente à metrópole a 120 por hora lá embaixo. Tem forró nordestino, tecnobrega, a turma do gospel e até mesmo os nada afinados cantores de banheiro. E se falta água, é um tal de ajuda aqui e acolá, sobe e desce balde, mas as sinfonias de chuveiro sempre estarão garantidas. Morro é música, estilo e culinária. Tem aroma gostoso no ar, e então partem caravanas de todo canto – a pé, de van, piuí, tic-tac, batucando no busão, mas à la saltão plataforma, só na pose de grã-finas. Até Michael Jackson, o legítimo, se misturou ao caldeirão. E dessa panela... Bem, dessa panela – que mais parece uma cartola de mágico –, saem cuscuz, pé de moleque, pamonha, algodão doce, pirulito, picolé, uma praça inteira para brincar de ser feliz e jamais abandonar a porção criança. Dona Marta estende a toalha, põe mais água naquele feijão preto divinal e manda colocar outra cadeira. Afinal, no coração (e na mesa) da velha dama, sempre cabe mais um.

Senhoras e senhores, bem-vindos ao caldeirão da pantera!

Comissão de Carnaval e autores do enredo: Eduardo Gonçalves, Fábio Fabato, Gabriel Haddad, Leonardo Bora, Rafael Gonçalves, Vinicius Natal, Vítor Saraiva.

Carnavalescos: Eduardo Gonçalves, Gabriel Haddad, Leonardo Bora, Rafael Gonçalves e Vítor Saraiva.

Sinopse: Fábio Fabato

Roteiro de desfile: Eduardo Gonçalves, Gabriel Haddad, Leonardo Bora, Rafael Gonçalves, Vítor Saraiva.