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Axé Milton Gonçalves! No Catupé da Santa Cruz (Santa Cruz - 2022)
AXÉ, MILTON GONÇALVES!
No Catupé da Santa Cruz. Hoje a coroa da Acadêmicos de Santa Cruz gira majestosa e carregada de axé. E busca nas entrelinhas do passado as origens da minha história. E assim, abençoada pelo meus ancestrais, resgata minhas raízes de baobá e as entrelaça com as raízes dos cafezais da cidade onde nasci. Que o seu movimento, feito o mágico rodar de uma baiana, abra os portais do tempo e liberte a magia que transforma o banzo em canto de saudade, reacendendo em minha alma, a infância vivida em Monte Santo, nas Minas gerais. E assim me faça reviver a coroação dos reis de Congo diante do altar enfeitado da Igreja Matriz de São Francisco de Paula, de onde partiam em cortejos que celebravam a realeza preta com a dança do Catupé e os cantos ritmados pelos bombos, caixas de guerra, agbês e gonguês, e que agora desfilam nas ruas das minhas lembranças. Que sua representatividade, talhada em majestoso ébano, seja o elo de união entre a África de lá e a África de cá, manifestadas na sabedoria dos pretos mais velhos, tão maltratada e desrespeitada no árduo trabalho escravo nas lavouras de café. Que reluza feito o sol refletindo no mais puro metal e ilumine as trilhas e caminhos que me levaram à são Paulo da esperança e, guie a minha jornada de luta por melhores condições de vida e dignidade, porque ainda carrego em minha essência, a crueldade que marcou o lombo dos ex-escravos no período pós-abolição e que, empurrou os negros das regiões escravistas para as grandes cidades, desnudando os desafios da adaptação determinados pela cor da pele. Que seja um farol a me orientar nesse mundo novo e desconhecido, mas repleto de velhos preconceitos. E que essa luminosidade me revele, na sala de projeção, aquele lugar mágico que ao apagar as luzes, fazia desaparecer a dolorosa realidade da discriminação e das privações. E não me permita esquecer que ali, onde heróis, soldados, romances, comédias, tudo vinha como um remédio contra a dureza da realidade que me cercava, e que me fazia fantasiar e sonhar que um pedaço de madeira, era uma espada e eu, o próprio rei Artur. Que seja uma bússola a orientar a minha embarcação por um oceano de palavras e livros, e assim me leve à descobrir mundos que eu não conhecia. Vista-me com a armadura do conhecimento para que eu possa vencer o dragão da ignorância e me libertar dos porões da miséria e da senzala do preconceito. Que a minha fortaleza seja sempre uma livraria para que eu nunca deixe de sonhar, porque a minha história, é a história de um sonhador. E eu quero seguir nessa utopia teimosa que sempre me fez acreditar que havia um outro mundo no qual a vida era muito melhor. Que acolha, em seu movimento, os bons ventos do destino que mudam livremente de direção e pregam suas peças. E iluminada, como as estrelas que também mudam de lugar no céu, mas não perdem o poder de guiar, acenda as mágicas luzes da ribalta e modifique definitivamente a minha existência, para eu sempre me lembrar da “ Mão do Macaco” abrindo as cortinas que que me fizeram mergulhar no universo dos espetáculos e sentir a arrebatadora experiência de ser um soldado de chocolate ou um sábio preto velho, num piscar de olhos. Que resplandeça em sua realeza preta, a força dos que não desistem do combate, e seja o meu equilíbrio entre as lutas na arena da vida e a minha vida no Teatro de Arena. Prometo seguir sem Black-Tie, mas com a determinação de Zumbi, o guerreiro de Palmares. Que ela, cintilante, aqueça meu espírito de bom malandro, tal qual o sol que brilha sobre a Guanabara, porque o Rio teimou em me chamar para um chopp à beira mar. Hoje, confesso que sou um mineiro maneiro, com alma carioca, rubro negro e amante da batucada e sei que esse é o “Grande Momento”. E que, certamente, pelo menos por uma temporada, serei o “Rei do Rio’, e até mesmo, uma “Rainha Diaba”, como símbolo definitivo da inquietação de um negro em movimento constante. Graças a Deus e aos meus Orixás, eu venci. E aqui não cabe nenhuma arrogância, mas é bem verdade que eu nunca aceitei o “lugar do negro” que a sociedade havia demarcado. Eu venci como irmão da coragem que sempre fui. E então, “Bem-Amado”, ganhei asas e voei com a magia consagradora que a telinha me permitiu, feito pontos de luz de liberdade. Hoje, num momento de grande emoção, vejo com muito orgulho duas bandeiras que se unem, marcadas pela negritude. Uma carrega as cores verde e branco da Acadêmicos de Santa Cruz, a outra é bordada com as cores da luta pela igualdade que eu sempre empunhei. Mas essa história não se encerra aqui, porque as minhas memórias continuarão a ser construídas, enquanto minha obra seguir falando em prol dos negros e de todos os brasileiros ao mesmo tempo. E assim, será! Axé! Cid Carvalho. |
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