Sinopse Salgueiro 2008
O
Rio de Janeiro continua sendo... (Salgueiro - 2008)
Rio de Janeiro cidade cantada em
prosa e verso, quem te viu pela primeira vez há quinhentos anos,
te vendo agora é tomado pelo mesmo encanto que ainda possuis.
Cidade amada, feita para o mundo, hoje quem te canta é o
Salgueiro porque tem o direito de cantar-te, como escola de samba
que é carioca de fato. Escola que te sente pulsar na veia, que
te tem em cada samba inventado e se inspira em teu modo de ser.
Rio, o Salgueiro se vê como parte da tua história. Como pedra e
como fonte da tua formação cultural e tem como dever, talvez
nesta hora tão difícil, dissipar as nuvens que te escondem o
sol, fazendo o que o Salgueiro sempre fez: impor o estandarte da
alegria, te trazendo para a avenida num desfile de carnaval.
E assim se faz a força do samba, como uma fábrica de sonhos e
celebração da vida. E o Salgueiro sabe o seu papel. Vai
abraçar esta cidade acolhedora, que resiste às idades e às
épocas e tem como figura central o carioca. Personagem descrito
por Fernando Sabino, não como alguém oriundo apenas do Rio, mas
como "um estado de espírito, de alguém que tendo nascido
em qualquer parte do Brasil (ou do mundo) mora no Rio de Janeiro
e enche de vida as ruas da cidade."
Ruas cheias de promessa, de tipos, de amorosidade. Ruas onde se
vive o improviso, a graça, a saborosa desordem. Onde ninguém
parece ter o que fazer, e todos fazem à sua maneira o jeito
único de ser o Rio. O Rio do carioca de Millôr "que pensa
que não trabalha, mas é um virador por natureza". O Rio
informal que bebe e come ocupando as calçadas, que curte um
bronzeado na laje, que faz do lugar público o verdadeiro
lugar-comum.
É longa a estrada dos afetos, cidade dos subúrbios e das
canções a beira-mar. Teu lema é congregar, quando é sempre
pessoal no tratamento. Tua vocação é para festa e não para
animosidade. Teu dom é contemplar o que a natureza te deu e
ninguém há de tirar. Os paredões de pedra, a crista das
montanhas, o curso do sol sobre as ruas, sobre as praças, os
corpos graciosos saindo do mar, o casario nos morros desafiando a
gravidade.
Rio lição de vida, espírito leve, olhar crítico, dá ao outro
o teu humor, teu papo, tua música, o teu "macete".
Oferece a naturalidade em relação ao teu próprio corpo.
Empresta teu jeito descolado na van, na lotada, no trem, no
metrô. Ensina como driblar o adverso, o adversário, o mau tempo
que insiste, mas não te vence. Rio me dá a tua mão, eu sou o
Salgueiro, sou carioca e sei "que a vida é aqui e agora e
que tristezas não pagam dívidas" como entrega de novo
Millôr jogando de bate-pronto.
Desenvolvimento
QUADRO 1
A CHEGADA DOS PORTUGUESES - uma visão paradisíaca
Imagine a cena: verão de 1502 e alguns privilegiados portugueses
avistam o Pão de Açúcar e adentram a baía que pensavam ser um
rio. O Rio de Janeiro descoberto no dia de São Sebastião era
uma visão deslumbrante, pedaço do Paraíso cravado entre as
montanhas e o mar.
Foi uma chegada espetacular numa terra abundante de frutos,
pássaros e peixes, habitada por uma gente feliz que tinha a
natureza a seu favor e uma paisagem que encanta até hoje. Cidade
de Estácio de Sá aos pés do morro Cara de Cão, cujo destino
é alimentar a fantasia e ser permanentemente poesia.
QUADRO 2
O CENTRO EMBRIONÁRIO DA CIDADE
Vida que segue, o Rio, cidade colonial calma e preguiçosa é
sacudida pela chegada da família Real Portuguesa. De repente
mais de quinze mil pessoas chegam da Europa. A cidade cresce, as
caixas baixas viram sobrados, o comércio se expande e aparecem
novos tipos humanos na paisagem.
O Rio virou a sede do governo português e a cidade ganhou novas
construções, como a Escola de Belas Artes, a Biblioteca
Nacional, o Jardim Botânico. A população se desloca para onde
hoje conhecemos como sendo o centro da cidade. A vida urbana e
cultural toma impulso. São novos teatros, tabernas, missões de
artistas estrangeiros que retratam a paisagem e a vida cotidiana
da cidade.
Dom João VI, Carlota Joaquina e as intrigas da corte entram para
a História do Brasil.
QUADRO 3
PORTAS ABERTAS PARA O MUNDO
A Praça Mauá torna-se a porta de entrada da cidade. O ir e vir
de pessoas de várias nacionalidades a fizeram uma janela aberta
para o mundo. Destino silencioso dos monges beneditinos que
construíram a principal igreja barroca da cidade envolta pelo
movimento do porto e o burburio da vida noturna. Testemunha do
nascimento do samba e anfitriã da Era do Rádio à Praça Mauá
é uma síntese histórica da mistura carioca.
QUADRO 4
O RIO DE BOEMIA, ARTE E POESIA
A cidade agora se espalhava. A Lapa ganhara o seu contorno e o
seu perfil de bairro boêmio e cultural. A figura do carioca já
se esboçava. Esta criatura humana sem igual.
Na condição de metrópole o Rio de Janeiro foi adquirindo ares
europeus. Bares, cafés e confeitarias transformaram a vida no
centro.
E a cidade seguiu seu destino de crescer sempre mantendo o seu
encanto inicial. Novas praças se abrem aos cidadãos, a cidade
cresce na vertical e o Rio escorre para os lados, para Zona Sul e
para a Zona Norte.
QUADRO 5
A CAMINHO DO MAR...
Perfurando túneis, contornando morros, subindo ladeiras, a
cidade chega ao outro lado do mar. Mas atlântico eternamente
cantado por músicos e poetas, jamais esquecido por aqueles que
se entregam aos seus encantos. Copacabana, Ipanema, Leblon, são
mais do que nomes de bairros, são jóias que se levam no
coração.
E na extensão de areia, nos calçadões ensolarados, a vida
parece leve. Ali, perfila o carioca, cheio de graça, o turista
impressionado com tudo o que vê e as horas se tornam felizes.
Foi com delicadeza que a natureza dotou esta cidade maravilhosa,
sua gente, suas montanhas, seus entardeceres tocando
profundamente a alma.
QUADRO 6
DE TREM VOU RIO-RINDO...
Rio zona norte das passarelas sobre a linha de trem. Das pipas
enroladas nos fios de luz elétrica. Dos campos de futebol sob os
viadutos.
Rio longe do mar, mas perto de um jeito de ser diferente, do
improviso, de tiradas, de cadências que geram sambas de roda e
tocam os bailes funk. Rio também de Nossa Senhora Aparecida, da
quermesse, do mix de todas as religiões. O subúrbio reserva a
festa, o lugar perfeito entre o moderno e a tradição.
QUADRO 7
O RIO DE JANEIRO, FEVEREIRO E MARÇO...
Rio é quase sinônimo do carnaval, como é de mulher bonita e de
praia e de sol incomparáveis. E o carnaval do Rio reúne e
congrega a todos, e a todos provoca o sentimento de sermos
parecidos e iguais naquilo que nos une: o amor à cidade. E como
disse o cronista João do Rio: "É este mesmo o sentimento
imperturbável e indissolúvel, o único que, como a própria
vida, resiste às idades e às épocas."
Renato Lage e Márcia Lávia (carnavalescos do Salgueiro).