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Coroaci, a Terra do Sol (Rosa de Ouro - 2021)
SINOPSE
Noite fria… reluz sobre os cocares o brilho das estrelas, rasgam o solo os passos marcados, dançam a Toré ao som dos chocalhos e flautas de bambu. Olhos vidrados, clamam na voz aos Espíritos da Floresta. A deusa Lua é testemunha, a coruja mensageira guia… palavras mágicas tomando corpo entre os ventos, o Feiticeiro e sua visão prenuncia, a chegada do Homem Branco e sangue no chão. Trazem em seus corações o amor pela Mãe Natureza; e com ela resolveram se casar. O nativo corteja sua esposa, que se entregando em um giro apaixonado enfeitiça seu amado com a cintilação de seus olhos. Bailam ao som da floresta os passos com elegância e beleza. Solo sagrado, terra de encantarias, Paraíso dos Aimorés. Corpos pigmentados em tom áureo. Resplandecem os primeiros raios do Tepó – o Rei Sol. Traz à luz o reflexo de seus corpos, revela a lenda dos Caçadores Dourados. A alvorada desvela o segredo místico lendário das peles de ouro; guardiões dos tesouros escondidos, trançados nas matas, comunhão mística entre o real e o encantado. Do alto se vê ocas erguidas ornadas com flores e palhas. O verde das florestas reluz os encantos que explodem em cor no íntimo das matas virgens. Máscaras fincadas no chão assopram para longe a traição daqueles que partiram para o outro lado e por vingança ou por magia da tribo rival resolveram assombrar. Voa Nhatarânes, enfeitem os céus cruzando os horizontes do infinito azul com seus rasantes de penas de cor. Sustentem em suas asas o velho sonho indígena de poder voar. Encaminhem aos deuses os desejos mais íntimos, as saudades do amor que partiu repentino, ou da água que cai dos céus pro chão germinar. Watú, espelho da vida, manifesta em cor a mistura do azul do céu com o verde das matas… límpida turquesa que rega o solo. Reflete em suas águas o rosto do nativo sonhador. “-Atõn Nun Mum”, purifica a áurea do caçador para o novo dia, e guarda em suas profundezas os segredos que desembocam no mar quando então acontecer o misterioso encontro das águas. Saltam sobre suas nascentes os Impocks, que trazidos pelas correntezas irão servir de alimento para o corpo e para a alma. Joga a sua rede índio pescador, e traga à superfície os presentes vivos dos ancestrais iluminados. Nativos mirins cantam e dançam repletos de júbilo diante dos olhos de seus pais. Ecoam sua pureza d’alma com festejos e espontaneidade, bem como a liberdade que chegam com os bons ventos. Vibram beleza e cor. Jupús, as Mães da Aldeia, enquanto vigiam seus protegidos, equilibram em suas costas o rebento mais novo. Jorra de seus seios vida nova, esbanjam a feminilidade que ampara e apazigua. Clamam os anciões proteção para as mães que banham teus filhos às margens do grande rio de água doce. Grandes conhecedores e conselheiros, revelam as palavras secretas para atrair o Ser Iluminado. Surge um vento forte cortando a floresta, levantando as folhagens, balançando a copa das árvores… Curianã! Fiel encantado protetor das matas, sempre à espreita ao redor da tribo. Com seu assobio desenha trilhas nos confins ocultos; em um ligeiro vulto responde ao chamado daqueles que te invocam. Onças pintadas, mesmo solo engrandecido. Fêmeas sagradas, peles intocáveis. Grita o instinto caçador, lançam suas flechas. “Tchin”, a caça aguerrida é alimento para os seus. Reunidos agradecem a carne… provento e sustento da bendita aldeia. Eis a profecia! O Europeu tomado pela ganância chega às terras brasileiras, o solo sagrado sem mácula. Avançam as expedições e estanca aos olhos o paraíso. Trazendo em seu peito um coração de pedra, Pele Branca segue vibrando insanidade. Não enxerga um palmo de terra, apenas pisa, avança, queima. O fogo já não é mais testemunha das danças, dos rituais, das festas e dos preparativos dos alimentos caçados; tchompéck agora é sinal de perigo. Tchompéck nas matas, Tchompéck nas árvores, Tchompéck no chão… erguem-se as cortinas de fogo; estalam os troncos e folhas secas, mais secas do que a boca do destruidor. Aí estão os filhos da terra, reféns em seu próprio solo, submissos ao extermínio de seus povos. Acabou a liberdade. Sob o olhar do invasor sanguinário, mãos sujas tocam os corpos acorrentados. Hoje: prisão e dor… sangue vermelho pisado em terra agora “Branca”. Novos povos à vista… vem chegando os Garimpeiros. Solo rachado entre mãos de cor. O barro que os banha cega os olhos e aterra os corações; não veem que são irmãos? Em forma de oração, caem sobre as peneiras o suor e as lágrimas que se misturam às águas que serpenteiam a terra batida. Peles marcadas pelo injusto açoite dos capitães. Mas não há mal que dure para sempre. A felicidade não sucumbiu em nome da Civilização. Vislumbram um novo amanhecer os povos que suportaram a dor e a escravidão. Da terra nascem os verdes brotos da resistência. Diante de seus olhos crescem as novas florestas, trazendo em sua existência o brilho místico regado pelo sangue inocente. Ouçam o toque que vem de longe, chega um reforço dos céus. Novos guardiões camuflados entre as folhas… os deuses não abandonaram os seus. Em um ritmo pulsante ecoam os tambores como a batida do coração da mata, roubando a cena com alegria. O bem irá vencer? “-Ingaky!” disse o deus dos Aimorés. E assim fez com que as flores mais lindas nascessem nos campos e nas matas. Elas exultam em cores vibrantes a esperança no alvorecer. Ressoa um alerta à humanidade: Índio pede paz, mas também irá brigar para defender o seu chão e seus descendentes. De longe se vê bravos homens de pé e conscientes. Em que direção estão indo? Transbordados em esperança, todas as tribos se unem buscando a luz e a sabedoria em um novo amanhã. Hasteada a bandeira, batem firmes os pés no chão. Ergue-se uma terra nova que brota leite e mel, refazendo as nascentes que o invasor secou. Ressoa como trovão a voz dos povos da Terra inteira; clamam por justiça e paz! Eles lançam ao vento um forte brado. Alertam para a destruição e ainda enfrentam a perseguição que se nutre no preconceito enraizado no olhar do desconhecido. Hoje sua Coroaci bebe das fontes da resistência renascendo em alegria. Esse povo misturado é o que restou da luta de cor. Fez-se cultura dessa gente machucada, que carrega na bendita alma a cicatriz como um chamado. Eles não deixarão no limbo o solo conquistado por quem bravamente sangrou pela história. “…Índio! lhe peço perdão Pela ignorância, maldade, destruição Pela arrogância, ganancia, humilhação Índio, me perdoe! Por pensar que sabia por ter tudo, Hoje sei quem não tem nada é que conhece o mundo ÍNDIO ME PERDOE!”. (Poema de Luan da Silva Leal). Autoria e Texto: Cesar Portela e Felipe Saldanha. Carnavalescos: Cátia Calixto, Cesar Portela e Felipe Saldanha. BIBLIOGRAFIA PRINCIPAL EHRENREICH, Paul – “Índios Botocudos do Espírito Santo no século XIX – Ueber die Botocudos der brasilianischen Provizen Espiritu Santo und Minas Geraes. 1887.”. Espirito Santo: Editora Coleção Canaã Volume 21, Arquivo Público do Estado do Espirito Santo, 2014. MARTINS, M. de L de Paula – Vocabulário Português-Botocudo. Boletim li Documentação Lingüística, 2. São Paulo: São Paulo: Boletim II Documentação Lingüística, 2, ano I, 1948. JOSE, Oiliam – Indígenas de Minas Gerais: Aspectos sociais, políticos, etnológicos. Belo Horizonte: Edições Movimento – Perspectiva, 1965. |
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