Rocinha! Estou vidrado em você (Rocinha - 2011)
Hoje
vou mostrar, com transparência, minha longa vida de
transformação ao lado do Homem. De lendas criadas sobre
minha descoberta à datação de peças achadas
em escavações arqueológicas e, principalmente,
todas as mudanças que minha existência proporcionou ao dia
a dia do ser humano.
Conta a lenda que nasci de uma
alquimia acidental, quando numa fogueira feita por fenícios,
sobre a areia, foram depositadas pedras de sílica que junto com
o fogo fez na manhã seguinte um líquido viscoso escorrer
desta fogueira. Esse, ao esfriar, cristalizou-se como uma pedra
preciosa encantando os mercadores. Minha existência é
milenar. Achados arqueológicos indicam o meu uso em peças
pequenas de bijuteria e decoração.
Adornei faraós, enfeitei suas
tumbas e guardei produtos de beleza de reis e rainhas em formas ainda
rudimentares. Fui desejado por impérios e comercializado como
jóia. Em terras egípcias, os fornos foram aquecidos por
foles que aumentaram minha temperatura, facilitando o meu manuseio. Fui
soprado como um balão e deram formas novas a meu existir. Levado
ao ocidente, por romanos conquistadores que, com técnicas mais
apuradas, moldaram a arte de me criar.
Na Idade Média, narrei
histórias religiosas para seus fiéis em mosaicos
coloridos que adornavam as catedrais. Com o meu amadurecimento, fui
misturado e modificado. Adicionando chumbo, virei cristal e, pintado
com prata, refleti a imagem deste criador. Ao lado do ouro, decorei os
mais lindos castelos e me tornei um precioso artigo de
ostentação para nobres.
Com a areia escorrendo dentro de
mim, marquei o tempo e vi a popularização do meu uso
chegar às mãos dos meros mortais, ajudando a focar suas
visões e a matar suas sedes. Temperaram minha alma, e deixei o
mau tempo do lado de fora. Da chuva e do vento, protegi os seus
passeios sobre rodas. Um brinde à vida no tilintar dos
meus encontros.
O tempo todo estou ao lado de vocês, será que não percebem isso?
Minha natureza inusitada faz com que
eu assuma várias formas e tenha muitas utilidades. Eu queria ter
visto Thomas Edson acender sua lâmpada sem minha
transparência.
A ciência e a tecnologia me
impulsionam sempre à frente. A comunicação via
rádio e televisão não existiriam sem que meu corpo
protegesse as antigas válvulas incandescentes.
O homem enxergou o espaço e
olhou para dentro de seu corpo ajustando o foco em minhas lentes,
observou o microcosmo que o cerca, misturou fórmulas em meus
recipientes. Dados percorrem o meu ser levando
informações de alta qualidade pelo mundo, e, assim, eu
sei que ainda tenho um longo caminho a percorrer com o meu inventor.
Voaremos nas asas vidradas de uma borboleta rumo ao desconhecido.
Texto: Luiz Carlos Bruno
Carnavalesco assistente: João Victor
Revisão: Hermínio Mattos Russo e Maria Gabriela Matos de Oliveira.