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Ama - O Brado das Amazonas (Império Ricardense - 2019) “Uma metade do mundo é mulher, a outra metade são filhos delas.”
JUSTIFICATIVA Posto que nosso nome – histórico e geográfico – provém das características de nossa terra, parece fato natural que nós sejamos “elas”: Uma nação mulher. Uma pátria fêmea. Esta abençoada terra – onde o que se planta, dá! – pela própria função de acolher, germinar e proteger, não poderia ter outra qualidade que não fosse feminina. E foi bem aqui, em tempos imemoriais, que as mulheres guerreiras dos troncos tupis empunharam armas de ferro, fogo, fé e amor, para transformar o mundo anacrônico e pragmático do tal sexo forte num fantasioso universo de paixões e bravura. “Amazonas”, era como os invasores europeus chamavam estas mulheres. O termo, cujas origens são motivo de debate pelas inúmeras possibilidades, vem sendo utilizado por séculos para designar as mulheres que contrariam a lógica do mundo masculino, desde as mitológicas infantes da Ilíada homérica e bravias índias do Novo Mundo, até as atletas de montaria dos tempos modernos. E cá estamos, nestes tempos que chamamos de modernos, discutindo o papel feminino na construção de nossa sociedade, como participantes ou expectadores da luta cruel de nossas meninas contra o assédio, a misoginia, a desigualdade salarial e o machismo que cobre, pune e mata, todos os dias, a cada minuto, tantas de nossas irmãs, primas, tias, mães, avós, companheiras, conhecidas e desconhecidas. Cumprindo com a sua função social e entendendo-se como parte da herança matriarcal deixada por grandes sambistas – compositoras, cantoras, baianas, passistas, porta-bandeiras, figurinistas, enredistas, carnavalescas, coreógrafas, destaques, chefes de ala, diretoras e presidentes – o Grêmio Recreativo Escola de Samba Império Ricardense transforma em brado a reverência às mulheres extraordinárias que mudaram a história do nosso país. Este carnaval é dedicado a todas as Marias, Joanas, Iracemas, Anastacias, Dandaras, Franciscas, Aparecidas, Bárbaras, Joaquinas, Chiquinhas, Penhas, Quitérias, Mercedes, Ciatas, Zuleicas, Carolinas, Tarsilas, Anitas, Pagus, Olgas, Jovelinas, Ivones, Leilas, Marielles e Reginas, da vida, da lida, do samba, da casa, da rua e da nossa família. Este carnaval é dedicado a Grande Dona Ivone Lara. Dama e Diva do Império, Serrano, Ricardense e do Carnaval. Inspirado nos versos livres e empoderados de Conceição Evaristo. Amparado no colo de Jandira, nossa matriarca. SINOPSE Para decifrar o grito, mergulhemos de novo no ventre de todos. De todos os pais e de todos os filhos. Dediquemos atenção ao laço afetivo mais verdadeiro e caminhemos pelo cordão que nos une ao colo da história. Sim! Agora estamos atados aos atos delas. Podemos sentir de novo o corpo ferido em flecha, pelo arpão que rasgou o céu, cruzou o mar e adentrou a terra, misturando em urucum e carmim o lado de lá com o lado de cá. E em festa, iremos quebrar aquelas correntes, libertando a alma das amas, escravas, sementes, amarradas ao tronco de um jovem país – que é filho: de santas, mundanas e caminhos, abertos em morros e matas, quilombos e ninhos, onde damas e amores fizeram seu lar. Dançaremos ao som das sete oitavas, admirando contralto e soprano, no limite entre o tambor e o piano, enquanto sonhamos com revoluções. Pintaremos no chão do salão a mudança e o direito, bordaremos no peito o retrato perfeito, para rasgar a mordaça que cala os porões. Aclamaremos uma rainha, uma artista, uma general. E ela vai nos guiar feito estrela em noite de festa, pelo alto do morro na trilha em queda, deixando seu rastro a caminho do mar. Vai luzir e virar amuleto, na forma feroz de uma bala de prata, abrindo outra vez a ferida que mata, lembrando que nós não podemos parar. E ela? Ela não é mais daqui. Ela é uma ideia. Ela é a conquista. O sabor da vitória. O luto que vira luta para a gente transformar em história. História que vira enredo. Enredo que vira samba. Samba que chama a garra de quem veste fantasia para desfilar. AMA! AME! AMOR! AMAZONA! Um fardo! Um brado! Um Carnaval! * A palavra AMA, quer dizer MÃE e compõe o termo AMAZONA em referência as antigas sociedades matriarcais. |
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