Sinopse PZN 2009
SINOPSE ENREDO 2009
Um
Sopro de Yansã
Autor
Arthur Macedo
Justificativa
Yansã, deusa dos ventos.
Os ventos que sopram o bem trazem também
a Princesa da Zona Norte, debutante no Grupo Especial do maior
espetáculo da tela, o Carnaval Virtual. Leve como um balão,
faremos uma viagem fantástica pela força do orixá Yansã, fio
condutor deste enredo sobre as nuances do ar em movimento.
Ar... Elemento fundamental para a vida dos seres.
Em movimento: Vento.
Yansã, também conhecida com Oyá, é a menina
dos olhos de Oxalá, infinita força do Orun. É a garra
feminina, da fertilidade.
Fertilidade do cosmos negro, da raça pura, da
unidade. Yansã que sopra pro bem vencer, pras maledicências
não tomarem força.
A força dos ventos que dá vida ao fogo e
vislumbra o balé das águas.
A força dos ventos que leva o terror é o mesmo
que pune o malfeitor.
A força dos ventos que leva o bem, a brisa, o
pólen à flor, o orvalho, o amor.
A força dos ventos que traz a energia do futuro,
do mundo, do samba.
A força dos ventos...da tempestade...da
trovoada...da Claridade. Eparrei, Yansã!
Sinopse
Axé!
Olorum, Pai de todos os deuses, invoca a bondade
da criação. Une o Orun-Ayê, o céu à terra, faz em vida os
teus grãos, quais brotam de tuas mãos, os elementos da tua
própria feição. Do barro das mãos de Odudua, dai o sopro da
vida, Senhor do Orun, pra moldar teus filhos nesta Terra, para
que estes construam a tua aldeia. Nela, também repousará tua
filha Yansã, a Deusa dos Orixás, a princesa dos teus ventos, a
geradora da força elementar. Abre os caminhos do Orun-Ayê,
Mãe-Pequena, Terexê.
Fez-se na terra, porém, uma lendária guerra,
pela força, pela garra, pela arma, pela fé. O sopro que forja o
fogo, que torce o ferro, que arma a guerra. O sopro que trai o
fogo, que sai pra mata, que fere a terra. Sai dos ventos a força
das tuas labaredas, a vida de teu calor.
"Mas Yansã, cadê Ogun? Foi pro mar..."
Vento, das rosas, que balança a vela, que marca a
bela imagem do bailado, do lado de lá, das águas de cá, das
correntes, de todas as luas, de todas as águas, pro fogo
abrandar. O sopro que te leva nos braços da rainha desse mar,
que me faz ouvir tuas ondas a cantar, o sal com a areia a se
misturar. Mar que vai e que vem, que te leva, que te tem, que te
cobre, que te sopra, o teu bem.
Ouvi os lamentos dos meus negros filhos. Ouvi o
murmuro de dor, a raça em clamor pela justiça terrena. Os
ventos da liberdade não são feitos para prender. A força que
leva tua vontade é oposta a que faz doer. Sinta a minha
tempestade. Ouça o trovão estremecer teu chão. Saiba que a
natureza é da fé, rege a beleza, não trai, não cai, não
dói. Tua raiva desmata. Meu raio te farta de culpa e perdão.
Meu sopro traz a vida. Meu sopro traz a paz. A
bonança repentina, depois de uma tempestade quase infinda, faz a
natureza a se refrescar. Balança o coqueiro, cai coco, cai
palheiro. Vai o pólen, vem orvalho, faz em flor o meu amor.
Oxalá. Bem-me-quer a ti pra sempre, na tranqüilidade perene,
pois o trovão que já passou, a união que se plantou, já
colheu mais puro amor.
O sopro que tudo fez, faz tudo prosperar. O vento,
que lá bateu, faz a baiana girar, propulsão da alegria, a
"turbina" do meu samba, "energia" da
sabedoria, a lição da eternidade. O samba ensina ao planeta
como preservar sua riqueza, enraizar sua beleza, verdificar a
natureza. Meu sopro é pra ti, é pra todos, é pra tua energia,
da terra, do samba, da baiana, do futuro. É só girar.
Gira também, minha Guerreira. Filha da força,
dos elementos, da justiça. Sopra por mim, traz a lição da
justiça, enfim. "Quando a luz da lua cheia clareia as
águas do rio", "quando o Sol se derramar em toda sua
essência", gira claridade... Faz o sabiá flutuar. Sopra
por mim.
De concha tuas contas, de areia os teus contos, de
cristal o teu canto.
Eparrei! Quem foi que chegou? "É Clara
guerreira, lá vem trovoada..."
Setorização Explicada
Setor 1 - O Sopro da Criação
Segundo a tradição Nagô Yorubá, Olodumaré,
também chamado de Olorum, criou o primeiro orixá, Oxalá, a
quem deu a missão de criar o mundo e todos os seus seres.
Estava com o orixá o Saco da Criação, com todos os poderes a
ele delegados para fazer virar vida a vontade de Olorum. Neste
momento, outros orixás já habitavam o Orun. Oxalá, aconselhado
por Orumilá, entrega oferendas a Exu, antes de realizar o
trabalho da criação, causando sede em Olorum, e fazendo-o beber
e esquecer-se de sua missão principal. Exu toma o saco da
criação e entrega a Odudua, com a permissão de Olorum. Odudua
toma o barro às mãos e cria, além de todo o Orun-Ayé, o homem
e a mulher, ainda sem vida.
Habitava no Orun, Yansã, deusa dos ventos, orixá
feminino, da força, das tempestades. Com o poder e a força de
Yansã, Olorum dá o Sopro da Vida, fazendo nascer, no homem e na
mulher recém formados a partir do barro sagrado, o espectro
semelhante do criador: a vida. Assim se deu o primeiro sopro, o
Sopro da Criação.
Setor 2 - O Sopro da Guerra, do Ferro, do Fogo
E no Orun, Oxaguian, a forma jovem de Oxalá,
guerreiro em sua essência, estava numa guerra interminável, já
que as armas produzidas por Ogun, ferreiro de ofício, não eram
feitas com rapidez, mesmo com toda a urgência pedida por
Oxaguian. A cada nova ferramenta, uma odisséia, um tempo gasto
que uma guerra não perdoava. Foi então que veio o sopro de
Yansã, e fez o fogo avivar-se intensamente na forja de Ogun. O
sopro que dá vida ao fogo. O fogo que dá vida ao ferro, que dá
forma à ferramenta, que arma a guerra.
A faísca ultrapassa os limites da labareda, e
cria um embate entre Oxaguian e Ogun, lutando pelo poder de
Yansã. Esta foge com Oxaguian, deixando o guerreiro Ogun
enfurecido, mas sem o vento pra sua forja, com o seu ferro frio.
Quando Oxaguian precisou de mais armas pra sua guerra, Yansã
soprou em direção à casa de Ogun para dar mais vida à forja
do ferreiro. Esse sopro atravessava todo o lugar entre a terra de
Ogun e a terra de Oxaguian. E assim, com o fogo vivo ao longe,
dá início aos fenômenos dos ventos, das tempestades, das
brisas, dependendo da força do sopro de Yansã. É o vento que
leva o pó da terra, o orvalho, as águas.
Setor 3 - O Sopro das Ondas, das Águas, dos Mares
As correntes, as ondas, as marés. Foi pelo mar
que os irmãos da terra se conheceram, em expedições, em
jornadas, em conquistas. É o sopro nas águas de Yemanjá,
rainha de todos os mares, de todas as águas. É a força dos
ventos que faz a onda beijar a areia da terra firme, fazendo o
sal se misturar com os grãos, unindo os poderes da terra, do ar
e da água. E lá de cima, observando tudo, a lua de Ogum, unindo
forças com os ventos e fazendo as marés bailarem, subindo e
descendo.
É o vento que balança as velas, dá força às
caravelas, que partiram desde os primórdios para desbravar os
mares desconhecidos, os rios que não sabiam onde terminavam. A
vontade de conquistar, a curiosidade do total desconhecido, tudo
isso moveu a mente daqueles que, de carona na força da Deusa dos
Ventos, partiram em busca da terra nova. Pela Rosa dos Ventos
guiaram-se. Alguns souberam aproveitar a dádiva de Yansã. Para
aqueles que se aproveitaram das dádivas da senhora dos ventos, a
punição.
Setor 4 - A Tempestade da Punição
Deusa das tempestades, mediadora dos raios.
Yansã, triste com o mau uso dos homens de seus poderes naturais,
aplica a sua punição. Seus ventos não foram feitos para levar
seus filhos pra escravidão, em navios sem comida, sem água, sem
asseio, sem vida, sem amor. Os navios negreiros podem ser
considerados como uma das maiores injustiças praticadas pelo
homem na Terra. Não só pela escravidão, terrível em sua
essência, mas também pelas condições de subvida que eram
"oferecidas"o aos filhos da nação negra africana.
O clamor dos negros filhos pela justiça, a
saudade da liberdade na aldeia natal, o canto de lamentação,
tudo é abafado pela tempestade lançada por Yansã contra
aqueles que praticaram o mal.
O mesmo mal que destrói as matas de Nanã, as
águas de Yemanjá, o povo de Oxalá. O planeta sofre com a
destruição das riquezas naturais, o seu verde, sua fauna, suas
águas. Este mesmo mal que o homem provoca, a ele mesmo retorna,
pela força desta mesma sábia natureza. A reação de Yansã é
somente soprar mais, levando embora essas mazelas da Terra, uma
tempestade de justiça, de liberdade, enfim.
Setor 5 - A Brisa da Bonança
E como diz a sabedoria popular, depois de toda
tempestade, a bonança. O sopro vira brisa, que refresca a alma
dos seres da Terra, que faz todos os deuses do Orun lançarem
todas as suas forças do bem, na forma da paz de Oxalá.
É a brisa que leva o pólen para fecundar a flor,
numa viagem divina pelos ares, guiados pelas mãos de Yansã,
produzindo um novo fruto, uma nova vida. Fertilidade em sua
essência, a Deusa dos Ventos faz a vida continuar, faz a
natureza seguir seu caminho comum, leve, solto como o orvalho das
manhãs. É a mesma brisa que faz o coqueiro balançar, que faz
as folhas caírem na estação, os pássaros repousarem,
flutuarem como se seu peso fosse de cada pena sua, o peso da alma
dos seres do planeta, que vivem da bonança, da bondade,
sobrevivendo às tempestades e renovando a vida.
Setor 6 - O Sopro do Futuro
Yansã sábia, Deusa de poder elevado, sabendo dos
rumos que o planeta pode trilhar, oferece seus ventos pra gerar a
energia do futuro. E o futuro vem das sabedorias do passado,
desde os tempos em que os ventos moviam os moinhos pra moagem dos
grãos, ou no bombeamento das águas, na geração da energia
mecânica. O discernimento pela energia sustentável, não
degradável, pensando sempre na manutenção da fonte
energética. E no caso da energia proveniente das fontes
eólicas, nada mais justo com a natureza, em aproveitar uma
força que não agride em absolutamente nada o meio ambiente. Uma
dádiva real, onde a natureza gera a energia, que não polui, que
não trai os ensinamentos do Senhor da Criação.
E a força dos ventos faz girar a turbina, que
gera energia. A força do samba faz girar a também sábia
baiana, como a mãe Yansã, do passado pro futuro, ensinando ao
samba o sentido do caminhar. As energias que se fundem pro bem de
toda a humanidade. Prosperar o planeta, prosperar a cultura,
prosperar a sabedoria, a justiça.
Setor 7 - O Sopro da Claridade
E como obra divinal, a Deusa dos Ventos sopra na
Terra um facho de luz, uma paz que se faz ser, que carrega no seu
canto a voz dos seus filhos, que carrega na sua dança o bailar
dos seus filhos, que carrega nas suas contas a fé dos seus
filhos, que carrega nos seus contos as histórias, as lutas dos
seus filhos.
Filha de Ogun e Yansã, Clara Nunes. A guerreira
mineira-baiana, bailando de branco, a paz de Oxalá. Um sopro de
justiça, de reconhecimento de uma raça, das três raças, de
todas as raças. A princesa dos ventos que canta pra natureza,
pra terra, pro fogo, pras águas, pro seu azul. Que arma o seu
terreiro no coração de todos. São os ventos que sopraram a ti.
Eparrei, Claridade, trovoada da justiça, da paz,
do bem, dos ventos de Yansã.
Eparrei, Claridade, trovoada da natureza, das
águas, da terra, dos elementos de Yansã.
Eparrei, Claridade, trovoada da fé, dos deuses,
dos homens.
Axé!
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