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Rainhas
do Rádio - Nas Ondas da Emoção, o Tigre Coroa as
Divas da Canção! (Porto da Pedra -
2018)
Tudo começou em meados da década de 1930, início da era de “ouro do rádio”, que atingiu seu auge nos anos 40 e 50: um período marcado por requinte e glamour, especialmente no Rio do Janeiro, então capital federal, chamada de Guanabara. Os belos cassinos, teatros, hotéis, bares e boates respiravam prosperidade, dando a cidade uma aura mágica, quase um mundo de faz de conta. E para coroar esse universo mítico, foi fundada a Rádio Nacional tornando tudo ainda mais especial, pois a emissora tinha a missão de integrar o país, ditando modas e costumes. Sua programação variada fascinava, e através do sucesso dos seus programas musicais, cada vez mais populares, os grandes ídolos foram criados. E assim, a Cidade Maravilhosa se tornou o coração desse novo reinado, onde a realeza da canção arrebatou o país inteiro. Bastava ligar o rádio, num gesto simples de girar o botão e as vozes invadiam os lares brasileiros de norte ao sul do país. Ninguém ficava indiferente, todos queriam acompanhar a programação, extasiados pelos sons que saiam daquele aparelho que se tornou indispensável. Os programas musicais despertavam o maior fascínio e todos aprendiam as canções que caiam rapidamente no gosto popular. Nessa disputa entre cantores e cantoras, coube as vozes femininas, de forma única e particular, seduzirem os ouvintes… algo difícil de traduzir, mas fácil de sentir. Um fenômeno que pouco a pouco, foi tomando conta do coração de todos, num misto de paixão e adoração. E nesse mundo de faz de conta, não existiu pseudônimo melhor e mais adequado para definir estas mulheres do que este: Rainhas. Majestosas ao interpretar canções vivas, canções de carnaval, de dor de cotovelo e faziam tudo muito bem. Mistérios que só a alma do povo saberá dizer. Soberanas, tiveram dias de intenso brilho, milhares de fãs – ou seriam súditos? – as reverenciavam em todo país. Estrelas autênticas de nossa música popular, que fizeram o brilho de uma época e que até hoje nos fazem sonhar. Para atender o desejo popular em participar da vida de seus ídolos, foram criadas publicações especializadas em rádio, com destaque para a famosa “Revista do Rádio”. As gravadoras ganharam um grande impulso e disputavam a peso de ouro nossas cantoras. As salas de cinema superlotadas, a cada nova Chanchada da Atlântida, para ver seus ídolos cantando os novos lançamentos musicais. Mas o que fez o Brasil realmente parar foi a competição criada para eleger a Rainha do Rádio. O primeiro concurso foi promovido em 1936 pelo jornal o Diário da Noite em parceria com o bloco carnavalesco Cordão dos Laranjas. Os primeiros concursos não tiveram grande repercussão a nível nacional, pois a eleição era feita apenas pelo voto dos artistas e profissionais do meio radiofônico. Nesse modelo, só deu a cantora Linda Batista, eleita sucessivamente por uma década. Entretanto, quando em 1948, a Associação Brasileira do Rádio (ABR) começou a organizá-lo, passando a eleição para o voto popular, o concurso explodiu no Brasil inteiro e foram eleitas nove rainhas nesse novo formato. Após a eleição, elas se tornavam verdadeiras garotas propagandas, ajudando a promover tudo. Os concursos aconteciam na poderosa Rádio Nacional, que na época simbolizava o “Palácio Real” de onde nossas soberanas reinaram… Quem haverá de esquecer essas Rainhas? Começando pelas irmãs Batistas, Linda e Dircinha, eternas estrelas. Carregando a famosa “Lata D’água” na cabeça lá se foi Marlene, essa mulher cheia de vida, ocupar seu lugar. O “Que será” de nossas vidas sem o seu amor, Dalva de Oliveira? Quebrando toda “Rotina” surgiu Mary Gonçalves para reinar nessa história. É, dizem que “tem francesinha no salão”! Será? Quem reinou mesmo nos salões e nos palcos foi ela, a minha, a sua, a nossa Emilinha Borba. De vermelho e negro vestindo a noite o mistério trouxe nossa Sapoti, Ângela Maria. Olhando pela “janela do mundo” nos apaixonamos por “este seu olhar” Vera Lucia. Mas o que gostamos é de você, Dóris Monteiro, que de conversa em conversa provou a todos sua nobreza. Dizem que amor é bom de dar, muitos fingiram gostar, mas só mesmo você Julie Joy, soube fechar com chave de ouro este ciclo real. A eleição despertava a atenção do Brasil inteiro. Nossas soberanas possuíam uma legião de súditos e súditas apaixonados que disputavam voto a voto quem elegeria a sua Diva ao trono da realeza do Rádio. Os fã-clubes tiveram lugar de destaque nesse sucesso nacional, pois era um misto de adoração e devoção por nossas estrelas. Os fãs que frequentavam os Programas de Auditório receberam o nome singular de “macacas de auditório”, devido ao comportamento histérico ao ver seu ídolo de perto. No dia da apuração o país parava para acompanhar nas ondas da Rádio Nacional o resultado. Após a contagem de votos e o anúncio oficial da vencedora, as discussões e brigas tomavam conta do público, pois a unanimidade era rara. O “grand finale” deste acontecimento, ficava por conta da coroação no Baile do Rádio. O baile mais popular e disputado do carnaval carioca, pois nele, fora a folia carnavalesca que reinava, o público poderia estar perto de seus cantores preferidos, além é claro, de ver a coroação da Rainha do Rádio com toda sua corte. Aqueles que não tinham esse privilégio, a grande maioria, se aglomerava do lado de fora para assistir ao cortejo da soberana em carro aberto pelas ruas, para depois ser transportada da parte externa do teatro até o palco, em um trono carregado por atléticos admiradores, para delírio da multidão. Dez privilegiadas mulheres puderam viver este momento de encantamento… num período dourado do Rio de Janeiro e do Rádio no Brasil. A elas, no carnaval de 2018, sintonizada na mais pura emoção, embalado em sonoras ondas, Porto da Pedra com toda nobreza da Corte da Folia rende esta homenagem, coroando novamente cada uma. E assim nossas estrelas da música continuarão a brilhar… Rainhas do Rádio – Nas ondas da emoção, o Tigre coroa as Divas da canção! Jaime Cezário Carnavalesco/Autor do Enredo |
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