Sinopse Porto da Pedra 2010
Com
que roupa... Eu vou? Pro samba que você me convidou (Porto da
Pedra - 2010)
Moda e arte sempre caminharam
juntas, mesmo que inconscientemente.
A cada mudança de pensamento, de comportamento e de linguagem
artística, o homem acompanhava com a sua maneira de vestir esta
evolução.
É possível contar a história da humanidade de diversas
maneiras, mas sempre que nosso interesse for a arte, veremos a
moda, ao seu lado, se apropriando destas características
artísticas para si, e então, poderemos compreender, através da
maneira do homem se vestir, como ele se comportou social,
política e economicamente, pois a maneira de pensar vai influir
diretamente nas suas escolhas estéticas.
A Moda é uma arte que não veste telas nem muros, ela se
expressa no movimento dos corpos, de acordo com a ideologia, o
desejo de cada um. Como os belos quadros, ela representa a voz do
seu criador.
"A moda é passageira, sua história, não"
Marco Sabino
Antes da Moda
O homem nasceu nu.
Não se sabe ao certo a partir de quando ele começou a se
vestir, aliás, a se cobrir com a pele dos animais. Terá sido
por proteção? Por misticismo? Isto nunca saberemos, mas, a
partir dali, estava plantada a semente da vaidade no ser humano e
a sua vestimenta vai passar, durante muitos séculos, a
determinar a sua condição social.
E a arte já estava presente ali, pois o homem passa a se
expressar através de pinturas e desenhos nas cavernas. O
conceito ainda não estava formado, mas era um embrião.
Quando falamos em moda na pré-história a primeira imagem que
nos vem à mente são os Flintstones, que nos leva a fantasiar
que naquela época tudo era "fashion", divertido. Mas
das peles costuradas com tripas de animais por agulhas de marfim
até a invenção do tear, vão-se muitos milhares de anos.
Na Antiguidade, teremos o surgimento de grandes civilizações,
que se caracterizavam principalmente pela religiosidade, a
distinção social vai ficar muito acentuada neste período, pois
quanto mais tecido, maior o poder. Neste período os ornamentos e
as jóias vão começar a ganhar destaque.
Nem sempre os homens usavam calças e as mulheres saias, isso é
coisa moderna. Algumas vezes já foi o contrário, pois de um
quadrado de pano, eram feitos saias, saiotes, túnicas que eram
amarradas, costuradas ou drapeadas, que em alguns momentos nos
remetem à arquitetura lembrando as colunas dos templos.
E a roupa escurece, ganha tons sóbrios, a arte também. A
religiosidade aflora. A arte era inspirada pela fé e a roupa
segue o mesmo caminho. A silhueta não era o mais importante, e
sim a quantidade de tecido que a cobria.
A intenção era tocar a Deus, chegar mais perto do céu, e assim
a silhueta foi se alongando, lembrando as torres das catedrais.
Os vitrais góticos vão influenciar em cores a indumentária,
mas sempre com ares sombrios.
Este período marca uma descoberta que vai acompanhar o homem
até nossos dias e vai exercer um papel fundamental na sua
vaidade: o espelho.
Narciso mandou lembranças!
No renascer do homem, nasce a moda
Renasce o homem, surge a burguesia, o brocado, o veludo, e com
eles o alfaiate. Os tempos eram outros, e a roupa mudou. A busca
do ideal de perfeição, representada nas artes, também se faz
presente nas roupas.
O homem voltou a olhar para si.
O mundo começou a se movimentar, e o homem vai começar a
movimentar também a sua maneira de vestir, e essas mudanças se
tornarão cada vez mais freqüentes.
A ciência e a razão são mais fortes que a emoção, e com isso
surgem as golas, que vão se tornar cada vez maiores, para
valorizar a mente, em sobreposição ao corpo, e aos mais pobres
também.
Em contraposição a este ideal, vemos surgir mais tarde, um novo
movimento que mostra certa tendência ao bizarro, ao
assimétrico, ao extravagante, ao apelo emocional. O Rei francês
Luiz XIV vai marcar este período como o grande responsável
pelas extravagâncias da época, que serão assimiladas por toda
a Europa.
As roupas masculinas se sobrepõem às femininas, ganhando ares
de fantasia, com as silhuetas mais amplas.
Perucas, rendas, fitas, salto alto, plumas... E as mulheres ficam
para trás.
E as artes seguem este mesmo caminho barroco, caracterizado pela
monumentalidade das dimensões, opulência das formas e excesso
de ornamentação.
O homem, aos poucos, vai se tornando mais romantico, sem deixar
de lado os exageros. Tudo é mais leve, foi um período de
liberdade de movimentos, da sensibilidade e do espírito.
As pessoas pareciam bonecos de porcelana, com perucas e cabelos
empoados, lembrando verdadeiros bibelôs.
Os homens vão ficando mais esbeltos no vestir deixando de lado a
exuberância e entregaram-na as mulheres, que trouxeram para si o
direito as transformações, com anáguas imensas e cinturas
finíssimas.
O homem do rococó é um cortesão, amante da boa vida e da
natureza.
Com o período neo clássico, vão surgir os primeiros figurinos
de moda, e a influência grega vai determinar não somente a arte
como a moda. A silhueta se afina e se alonga, desaparecem as
caudas, lembrando novamente colunas, e o homem se simplifica cada
vez mais.
Um novo tempo
Vira o século, novos rumos, novos ares, novas artes.
Uma arte nova vai dar à moda uma nova linguagem. A mulher fica
mais sinuosa, as linhas são mais leves, chapéus, laços e
flores. O mundo fica mais rápido e isto vai influenciar o
vestir. As mudanças são mais rápidas, assim como os movimentos
dos artistas.
Começam a surgir os primeiros estilistas e a cada dia surgem
mais e melhores.
O mundo avança, novos movimentos vêm em contraponto a esta nova
arte, mais moderna, mais geométrica.
A moda já tomou conta do mundo, ele se torna cada vez menor e
mais rápido. E ela vai se tornando cada vez mais efêmera.
A cada dia, novos traços, novos modelos, novas coleções e o
homem quer sempre mais, pois moda é tudo, menos tédio.
O que ficará de herança para a história neste século? É
difícil saber, mas temos certeza que alguns momentos se
eternizarão: a invenção da mini-saia, do jeans e da camiseta.
Isto ficará para a história, juntamente com um personagem desse
tempo que jamais será esquecido: Mademoiselle Coco Chanel. Ela
deixou de criar moda para criar estilo.
Antropofagia
E o Brasil?
Como num movimento antropofágico, nós absorvemos todas essas
influências e hoje fazemos uma moda com a cara do Brasil,
atraindo os olhares do mundo para a nossa arte. Arte sim, pois
fazer moda é fazer arte, é contar História, observando e
utilizando as formas que também estão na arquitetura, na
escultura, na pintura, na musica, na literatura e, sobretudo, no
véu cultural que já cobriu ou irá cobrir nossa sociedade.
"Moda é oferta. Estilo é escolha. Faça as suas"
Glória Kalil
Desde muito tempo, quando o homem cobriu seu corpo pela primeira
vez, seja por necessidade de proteção, magia ou poder, ele
descobriu um sentimento que, a partir de então, iria definir
toda a sua conduta: a vaidade.
E é este sentimento que estará presente em todo o processo
histórico da evolução da humanidade. Seja na pré-história,
no surgimento das grandes civilizações, nas idades das trevas e
da luz, no período moderno ou contemporâneo, veremos o homem
sempre em busca do "belo", espelho fiel das mudanças
sociais e culturais, e da multiplicidade de formas nas quais se
exprime a criatividade humana.
Paulo Menezes