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Tendendém: o axé do epô pupá (Unidos da Ponte - 2024)
Tendendém: o axé do epô pupá
(Unidos da Ponte - 2024)


(Tendendém é um neologismo onomatopeico a partir da contração de“tem dendém”, dendê em Bantu e o som emitido pelo berimbau)

PRELÚDIO

Entre atabaques e berimbaus, o som, a vibração, corpos em movimentos, o vento. Nas cantigas de terreiro, nos gestos... tudo sublima, tudo evolui. Ele está sempre por perto sob as formas mais distintas: na faísca do encontro dos facões, na saliva do preto que dança e luta, no vulto que passa pela bruma.

Laroyê Exu! Sua divindade é o rei do epô, o rei do dendê! Peço seu agô e que leve essa mensagem de axé do orum para o ayê.

SINOPSE

Vento que dança, que carrega e envolve. Vento que venta, ventania que bagunça, movimenta, organiza na desordem da transposição dos elementos. Vento do espectro-mulher-búfalo, dona do seu tempo, deusa das tempestades rainha do dendê que entre bambuzais em sinergia balança seu eruexim e seu mariwó conduzindo ao orum aqueles que já se foram. É ela que sopra o vento que espalha a minha semente: nasci, floresci e dei frutos.

Eu sou o dendê, cria de igi ôpê, árvore sagrada, símbolo de um povo, raiz de um legado. Sou a fagulha do ajerê, sou a vida que fortalece. Eu aqueço, energizo, estimulo. Eu esfrio, apaziguo. Sou o equilíbrio e o destino de ifá. O que para um vitaliza, para o outro dispersa.

Dispersa, leva, transborda. Na diáspora fui alimento para os meus irmãos de alma, me liquefiz em saliva e suor dessa gente preta que de mim fez seu receptáculo. Atravessei o Atlântico guiado pelos ventos, fazendo da mistura até então impossível em que omi oyó e epô pupá não se separariam mais.

Cheguei em novos torrões e renasci, refloresci dei frutos novamente, me tornando fonte de riquezas para os de pele branca e fundamento para o meu povo. Fiz girar moendas, socar pilões, arar solos, sustentar economias que pelas mãos besuntadas com meu óleo conquistaram a alforria. De fé inabalável fui oferecido aos orixás, santos, inkisses, voduns. Cantaram, fizeram música, dançaram, lundu, jogaram capoeira.

Vento que sopra no ouvido do preto, que estimula a fé, leva cultura, dança e axé.

O tempo passa, eu enraízo. Represento o povo daquela Bahia em que cheguei, o povo do dendê!

Estou por todos os lados desde o Pelourinho à feira de São Joaquim, onde sou produzido e vendido pelos herdeiros daqueles que me levaram em sua saliva e suor. Estou no tabuleiro da baiana, nas mãos dos mascates, no fuá da feira, no som do berimbau, nas cantigas do baiano, “no feitiço dela, na cor de canela, tem dendê”!

Tem axé em São João de Meriti! Trazido pelos ventos cheguei na Unidos da Ponte que há quarenta anos vem trazendo oferendas em louvor aos orixás! Tem baiana servindo acarajé na Praça da Matriz. Sem dendê não tem candomblé: sou o mariwó da porteira, estico o couro dos atabaques, tempero as comidas de santo. A Ponte esquece o banzo pois é hora de oferecer! Tem amalá pra Xangô lá na pedreira, tem caruru pros erês, tem brincadeira! Tem comida, tem mandinga, tem resistência, tem axé!

Você pode não me conhecer por estes nomes: eu sou a palmeira-de- óleo-africana, aabora, aavora, palma-de-guiné, dendém, palmeira-de-dendê, mas o meu sabor você não esquece, o que importa é que eu esquento e que meu gosto vai te seduzir porque eu sou do azeite, eu sou o Dendê!

Axé! O Samba pisa forte no terreiro. É mistério, é magia. É mandingueiro!

Carnavalesco: Renato Esteves
Autor do Enredo e da Sinopse: Renato Esteves
Colaboradores do Enredo e da Pesquisa: Alexander Brivio e Marcelo Machado
Edição e revisão textual: Jefferson Brunner
Contribuição de arte na logo: Guilherme Kid