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Nós Vamos Invadir sua Praia (Acadêmicos do Peixe
- 2021)
Sinopse
O Rei que tinha medo de crustáceos Contam que Dom João VI, por causa de enfermidade nas pernas, recorreu a um tratamento médico e prontamente lhe foi receitado um banho de mar. A medida terapêutica era difundida na Europa desde o século XVIII, mas, em terras tropicais, o banho de mar era visto como algo não civilizado, já que índios e negros já o praticavam desde séculos atrás. Dom João banhava-se na bucólica praia do Caju, próximo à Quinta da Boa Vista. Era transportado em liteira e colocado em um barril com furo para que a água entrasse, sendo carregado por escravizados. O medo do monarca, veja só, era acabar sendo mordiscado por algum siri ou outro animal. O tratamento utilizado pelo Rei logo ganhou adeptos na corte. Na metade do século XIX, o banho de mar já aparecia nas revistas de medicina. Para realizar os banhos terapêuticos, porém, era preciso seguir as normas comportamentais da época. Com a grande procura, além da consequente falta de locais para trocas de roupa ou até uma ducha para tirar o sal, surgiram as Casas de Banho. Antes exclusivos aos nobres, os mergulhos no mar começaram a se popularizar. Uma metrópole à moda Belle Époque e à Beira-Mar Aos poucos, as praias começaram a ser invadidas. A popularização das Casas de Banho fez com que senhoras e famílias mais abastadas se sentissem inibidas de frequentá-las, procurando maior privacidade. Saindo do centro carioca, foram então buscar áreas mais afastadas, como Botafogo, banhada pela Baía da Guanabara, e a isolada Copacabana, que cada vez mais caía no gosto da elite. A preferência pela Princesinha do Mar só cresceu com a abertura do Túnel Velho – mas banhar-se em águas Atlânticas era ao mesmo tempo reservado e perigoso. No passar dos anos, o posterior loteamento do bairro o transformou de vez em símbolo da identidade praiana carioca. No auge da Belle Époque, com frequência maior dos adeptos ao banho de mar, um grave acidente envolvendo membros de famílias endinheiradas chamou atenção da imprensa, e a prefeitura logo tratou de criar regras por meio de decretos. Foram instalados postos de salvamento e os salva-vidas se tornaram verdadeiros galãs. Mas o que chamava atenção era o fato de que os banhos só poderiam acontecer em certas épocas do ano, em horários permitidos. Os frequentadores não poderiam andar nas ruas com trajes de banho, cobrindo-se com roupões ou paletós, assim como não era permitido gritar na região, para que não confundissem os guarda-vidas em caso de afogamento. O escritor João do Rio foi um fiel militante da ocupação das praias como área de lazer; não era concebível aquele aparelho urbano ser um território vazio. Logo, a elite tratou de ocupar cadeiras e guarda-sóis nas faixas de areias. Na cidade que queria ser europeia, a moda era à la Chanel e o bronzeado era a cor da década. Já as Praias da Zona Norte, banhadas pelo esplendor da Baía da Guanabara, também foram ponto alto na década seguinte. Faixas de mar como a de Ramos, Maria Angu e Moreninha entraram para o hall das mais procuradas por petropolitanos e famílias que buscavam a paz naquelas regiões antes da construção da Avenida Brasil. No Carnaval, o banho de mar à fantasia fazia parte dos inúmeros acontecimentos da cidade. Foliões, vestindo trajes de papel, viam seus personagens esvanecerem na primeira onda ao som de marchas e maxixes. A poética Bossa Nova na Babilônia dos 40 graus Após a Segunda Guerra Mundial, o Brasil de Carmem Miranda já estreitava relações com a cultura norte-americana. Na fundação de uma vida de classe média, a praia carioca foi o ponto de encontro de jovens filhos de todas as tribos e cheios de novas ideias. As areias podiam ser escritório, sala de terapia e boate ao ar livre. Ao cair da tarde, o barquinho seguiu o violão de João Gilberto. O Fino da Bossa, nos versos de Tom e Vinicius, contemplava a Garota de Ipanema que vestia biquini da Ana Maria. Com sua enorme barriga grávida, Leila Diniz se banhou sem pudores em meio ao grito da liberdade feminina. Na década de 1970, os hippies reivindicaram as areias libertárias em meio a ditadura civil-militar. As dunas da Gal eram o point dos surfistas, desbundados e onde Gabeira passeou com sua micro sunga de crochê. A Babel Carioca ferve a cada verão. Reformulados os postos, definidos novos quiosques. Andar no calçadão é algo habitual para saúde e para o lazer do carioca. Na Zona Norte, a praia não foi preservada, principalmente com a construção da Avenida Brasil, cortando a Maré e aterrando a sofrida praia Maria Angu, cada vez mais poluída. O jeito foi atravessar o túnel para encontrar seu lugar ao sol. A Zona Sul resistiu, mas o povão invadiu as areias. O ônibus cheio era certo nos fins de semana. É instaurada a verdadeira farofada, para alegria de uns e horror de outros. A elite, como de costume, foi procurando lugares mais distantes. Mas aos poucos cada um foi entendendo que o espaço é público e tem lugar para todos. A Praia está aí, um espaço democrático. Acima de todos só o Sol para garantir o bronzeado saudável, a areia para equilibrar as energias e a água salgada para expurgar as maldades. O importante é o lazer, mesmo que seja regado com cerveja, picolé, mate, biscoito Globo, esfirra ou água de coco. Vai um queijo coalho, diretor! Os Acadêmicos do Peixe convocam todos aqueles que se acham ajuizados ou não a se juntarem neste arrastão multicor para invadir a sua praia. Enredo: Thiago Avis Colaboração e revisão: Leonardo Antan |
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