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Pedra Branca compondo as páginas da vida, apresenta: Carolina Maria de Jesus, a poetisa da literatura periférica (Acadêmicos da Pedra Branca - 2022) Por Laerte Gulini e Junior Barros
1. APRESENTAÇÃO: Carolina Maria de Jesus saiu de Sacramento em Minas gerais aos 17 anos, a pé e decidida a nunca mais voltar. A ocupação de catadora de papel fazia com que andasse maltrapilha e suada pelas ruas, com um saco nas costas. O dinheiro mal dava para a comida. Um dia, cansada, resolveu escrever tudo o que lhe acontecia. 2. JUSTIFICATIVA: Aos 46 anos, ela revelou a miséria de sua comunidade, invisível para a sociedade. Carolina foi a primeira mulher negra, pobre, mãe solteira e semianalfabeta, a publicar uma autobiografia. Onze mil exemplares foram vendidos em uma semana. Seguiram-se duas reedições, traduções para 13 línguas e venda em mais de 40 países. Foi assunto de escritores renomados como Rachel de Queiroz e Manuel Bandeira. 3. OBJETIVO: Difundir a Literatura Periférica. Exaltar a pioneira do estilo para não continuar no ostracismo. Celebrar o centenário de nascimento de Carolina Maria de Jesus. Reconhecer a importância de seu gênero na construção da identidade cultural do país. 4. SINOPSE: Carolina Maria de Jesus, a primeira mulher negra, pobre, mãe solteira e semianalfabeta, a publicar uma autobiografia, abandonou a cidade de Sacramento em Minas Gerais aos 17 anos, vítima de preconceito e de abuso de autoridade sendo presa como suspeita de ter roubado dinheiro da igreja. Na delegacia apanhou da polícia até que o padre achou o dinheiro. Ao sair da cadeia, colocou o pé na estrada. Em cada cidade que chegava, arrumava um trabalho temporário, que rendia o dinheiro da comida e pegava a estrada novamente. Isto se repetiu até alcançar o destino final, São Paulo. Quando chegou a São Paulo conseguiu uma vaga de empregada doméstica na casa de um famoso cirurgião que tinha uma excelente biblioteca. Pediu e conseguiu permissão para ler as obras durante as folgas de fim de semana. Mas, logo foi demitida e vieram os namoros e quatro gestações indesejadas. A essa altura já estava morando na rua. Ninguém empregava mãe solteira então começou a catar papel para conseguir dinheiro. Um dia, um político teve a ideia de “limpar” a cidade. Um caminhão passou recolhendo os mendigos e Carolina com seus filhos embarcou na caçamba e foram, como dizia, “despejados às margens do Rio Tietê”, na extinta Canindé, uma favela construída sobre a lama, onde Carolina levantou o próprio barraco catando e caminhando com tábuas na cabeça. Assim nasceu “Quarto de Despejo” publicado em 1960, a partir de cadernos preenchidos com os “desabafos” de Carolina, época em que era um dos 80 mil moradores da favela do Canindé. Parte do material, primeiro, virou matéria de jornal, depois, numa edição mais cuidadosa e completa, “Quarto de Despejo”. Determinada, costumava andar pelas redações dos jornais anunciando-se como poetisa. Quando o livro foi publicado, muitos duvidaram que uma mulher com tão pouca instrução, fosse capaz de escrever uma obra assim relevante e questionadora. O poeta Manuel Bandeira escreveu no jornal O Globo que o preconceito era a principal razão de as pessoas não acreditarem que uma negra favelada pudesse ter escrito “Quarto de Despejo”. Em 1961, um ano depois do lançamento, o livro virou argumento para o teatro e estreou com a atriz Ruth de Souza no papel de Carolina e no mesmo ano, a escritora lançou um disco de doze faixas com sambas e marchinhas de sua autoria “Carolina Maria de Jesus Cantando suas Composições”. Assim, uma casa de alvenaria em Santana, em um bairro de classe média foi o novo destino de Carolina e seus filhos. O sucesso do livro tinha proporcionado um dos sonhos da autora, morar numa casa “residível”, como escrevia sempre. A vida em Santana se transformou no livro “Casa de Alvenaria” em 1961 e depois ainda publicou “Pedaços de Fome” e “Provérbios” em 1963. Depois destes três anos intensos e cansada mais uma vez surpreende, compra e se muda para um sítio em Parelheiros, interior de São Paulo. Dessa distância seguiu-se o esquecimento. Então a vida começou a piorar de novo, foi ludibriada e assinou muito papel em branco. A escritora que havia chacoalhado o mundo literário morreu em 1977 no anonimato e na pobreza em seu sitio em Parelheiros em São Paulo. Depois da morte de Carolina, foram publicados “Diários de Bitita” em 1982 e “Onde estaes felicidade” em 2014. E ainda há mais de cinco mil páginas de textos inéditos de Carolina. Por isso tudo e mais as atitudes de Carolina, o prêmio que celebra o ativismo de mulheres negras leva seu nome e neste ano ganhou o título de Doutora Honoris Causa da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Apesar do sucesso efêmero, a escritora deixou um legado literário importante, objeto de pesquisadores no Brasil e no mundo. Ela é a precursora da “Literatura Periférica” onde relata o cotidiano periférico não somente como tema, mas como maneira de olhar a si e a cidade. Por isso, com orgulho, celebramos o centenário da escritora pobre, negra, mãe solteira e semianalfabeta que virou best-seller e que tem seu espaço e importância na construção da identidade cultural do país. |
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