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Quiva e Laiá, Itaguaí! Memórias de uma Cidade Indígena (Mocidade do Porto - 2022)
Quiva e Laiá, Itaguaí! Memórias de uma Cidade Indígena (Mocidade do Porto - 2022)

Carnavalescos: Rodrigo Marques, Guilherme Diniz

Autores do enredo: Rodrigo Marques e Thiago Mendes

O Grêmio Recreativo Escola de Samba Mocidade do Porto traz como enredo para o tão esperado carnaval de 2022 o enredo “Quiva e Laiá, Itaguaí! Memórias de uma cidade indígena.” Uma homenagem a cidade de Itaguaí, contando sua história, através de uma lenda indígena, ou melhor, um relato oral sobre a cidade. Haja vista que a história da cidade, seu nome e outras coisas mais estão diretamente ligados aos indígenas que ali viveram e morreram por sua terra. Afinal, o que representa a palavra Itaguaí? A origem do nome de Itaguaí seria a junção de duas palavras no vocabulário Tupi: Ita = Pedra, e Guay = lago, ou seja, Lago entre Pedras. Outra versão diz ainda que viria de Tagoahy, que quer dizer Tagoa = Amarela e hy = água, significando “água amarela” ou rio de água amarela. Significando a cor amarelada de suas águas, em razão da argila em seu leito, donde viria o nome Itaguaí. Confirmando essa última versão, temos o aldeamento dos jesuítas que se chamava Taguay devido ao fato de os índios obterem água potável de poços abertos em lugares argilosos (Taguá = barro, Y – água).

Além de ter todo o significado do vocabulário indígena em seu nome, Itaguaí também era o grito de guerra do chefe da aldeia de São Francisco Xavier de Itinga, Quiva, o “índio mais forte e audaz”, como diz a lenda da cidade. Essa fábula, relato retrata a história de um casal de indígenas que lutam incessantemente pela a sua aldeia, seu povo, contra a ameaça de invasão pelos homens brancos.

Tudo começou com a chegada dos padres jesuítas na região, o que ocasionou na organização da sede das aldeias dos Itingas. A nova aldeia da região precisava escolher seu chefe e sua companheira, foram escolhidos Quiva, o mais forte e audaz, como dito anteriormente e Laiá – “índia mais bela e jovem”. Após a escolha, os dois participaram de uma cerimônia, dirigida pelos padres para batizar suas terras e partiram em comemoração por suas terras. A tribo ficou sem a presença de seus líderes por onze sóis e onze luas – maneira de medir o tempo da época.

Depois da aventura pelas suas terras, o casal retorna para a aldeia de origem, chegando lá receberam a notícia que os homens brancos estavam tentando tomar posse de suas terras. Com isso, Quiva vai à luta, mostrando sua força e audacidade junto aos seus guerreiros numa intensa batalha por dois dias, defendendo seu povo, expulsando os homens brancos de volta para a Fazenda Santa Cruz. Todavia, Quiva após o seu ato heroico, recebe a notícia que sua companheira, Laiá havia sido envenenada. Logo, o pajé da aldeia tomou frente da situação e disse que a bela índia Laiá só poderia ser salva com o sacrifício de um índio, tendo que beber o sangue envenenado dela e dando seu sangue a ela. O único que demonstrou toda a sua bravura e compaixão com a situação foi Quiva, que morrera logo após seu ato de coragem, dando seu último grito de guerra antes de cair falecido no chão.

Triste com a situação, Laiá, cobre o guerreiro com papoulas brancas, se despede da tribo e adentra a mata. Segundo essa tradição oral da cidade, o pajé declara que depois que as flores que cobriam o corpo de seu companheiro estivessem da cor da flor de maracujá, Laiá iria falecer. Na manhã seguinte, já corria pela tribo a notícia de sua morte, tendo em vista essa situação o pajé anuncia: “morto Quiva, morta Laiá. Não mais existirá a tribo dos Itingas. Brancos maus a invadirão, destroçarão tudo, matarão todos os índios. Só daqui a muitos sóis e muitas luas será cantada a história da tribo dos Itingas.”

Assustados com a profecia do pajé, os índios fugiram pela mata. A família Souto Mayor Rendon adota um índio de 10 anos de idade, que recebeu o nome de José Pires Tavares. Ao completar 30 anos de idade têm a autorização para reunir sua tribo que ainda estava dispersa pelas matas. Já reunidos, recebem constante ameaça do pessoal da Fazenda Santa Cruz. José foi atrás de uma solução, foi buscar ajuda no Paço Real, em Portugal, depois de caminhar até São Paulo, Bahia, até chegar em terras portuguesas, onde foi recepcionado pela rainha D. Maria I, que lhe concedeu uma carta de proteção a aldeia Itinga. Nessa longa expedição em busca de ajuda proteção, a profecia do pajé se concretizou- “homens da Fazenda Santa Cruz invadiram a aldeia, atacaram os índios de surpresa e mataram todos, jogando os corpos na praia de Mangaratiba.” Extinguindo assim a tribo dos Itingas.

Sendo assim, a Mocidade do Porto traz para o seu carnaval história da cidade desde a Ilha de Jaguaramenon, a aldeia Itinga entre os rios Itinguçu e Itaguaí, a história de amor, batalhas de Quiva e Laiá. Passando também pela chegada dos missionários da Companhia de Jesus, com o Padre Manoel da Nóbrega, a construção da igreja no morro Cabeça Seca e a catequização. Além das aventuras de José Pires Tavares e a luta contra o pessoal da Fazenda Santa Cruz. Apresentando dessa forma os encontros da História de Itaguaí e o povo indígena, de Quiva e Laiá, a sua contribuição para formação da cidade de Itaguaí e as memórias de uma cidade indígena.

Rodrigo Marques e Guilherme Diniz

Carnaval 2022

Referências:

DOS ANJOS, Glauber Lima. O “Projeto Quiva E Laiá”: História Indígena e Consciência Histórica.

NATAL, Clélia R. N.; NATAL, Gilson. História de Paracambi 1800 a 1987. Rio de Janeiro: Guavira Editores