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Kikun SiSan – A Tragédia das Iyàbàs (Acadêmicos da Maré - 2019)
Carnavalescos: André Arruda e Vinicius Ossanyn
1 – Justificativa Em seu primeiro ano, a Acadêmicos da Maré leva para a avenida a trajetória de sua comunidade. Numa mistura de mito e história, exaltamos a Maré, desde a origem geológica do terreno onde está localizada, até a comunidade linda que se tornou. Em 2019, vamos mostrar a Maré de um jeito que nunca se viu. A Maré, e suas 17 comunidades, desfilará em cores e tambores a sua própria história. Nosso Mito de criação (O que é Mito?) Na tradição ocidental, chamam-se mitos, as narrativas muitas vezes fantásticas, que servem para transmitir algum tipo de ensinamento ou explicar as origens de um povo. Antes mesmo do costume, que os povos adquiriram, de registrar sua história em livros, eles recorriam às peças de teatro. O texto, então, memorizado e declamado era cultuado em apresentações teatrais e assim, seus ensinamentos iam passando de geração em geração. Essa tradição oral garantiu a sobrevivência de muitas culturas. E é assim, que mais do que realizar um Carnaval, para 2019 a Acadêmicos da Maré pretende exaltar sua comunidade e propor a perpetuação de sua história através da criação de seu mito de criação. Carnaval 2019: KIKUN SISAN – A tragédia das Iyàbàs O Conflito Yémojá e Nàná(n), ambas, se declaram mães do menino Omólu e em uma disputa guerreiam mar e mangue. Couro: O mar, bruto, molda a terra O mangue, negro, pinta o chão Aquela que cuida, força materna A que dá a vida, abandona, então. Yémojá O menino é MEU filho. Ela o abandonou. Meu filho é um grande senhor, rei de toda a terra. É a cura… a vida. O menino é meu filho. Eu fiz dele o que ele se tornou. Nàná(n) O menino é MEU filho. Ela o roubou de mim. Meu filho é o fogo do interior da terra, as lavas vulcânicas, os gases tóxicos… as epidemias, as febres, as convulsões. O meu menino é o poder da morte… da decomposição. O menino é meu filho. Meu ventre lhe deu a vida. Couro: E as mães, duelam, agitam as águas devastadores poderes arriscam a harmonia Das dores, rancores, a rivalidade, as mágoas Esbravejam as mulheres, e a disputa principia Yémojá Sou YéYé Omó Ejá. Rainha de todas as cabeças do mundo. Sou mãe cujos filhos são peixes. EU SOU MÃE. Sou a mãe de todos os filhos. Meus órgãos de mãe, minha vulva e meus seios chorosos, são sagrados. Sou aquela que orienta, que mostra os caminhos, que educa, e sei sobre tudo, sei ver o que tem dentro de cada um. Eu me sacrifiquei tanto… eu chorei tanto por meus filhos que minhas lágrimas se transformaram num rio que correu em direção ao oceano. Minhas lágrimas deram ao mar o seu sabor de lágrima. Sou mãe, não faço distinção dos meus filhos, sejam como forem, sejam ou não do meu ventre. Humildemente criei, com todo amor e carinho, aquele menino cheio de chagas, ABANDONADO à beira do mar, e fiz irromper um grande guerreiro. Eu criei Omólu, o filho e senhor, o rei da terra, o próprio Sol. Nàná(n) Sou Nàná(n). Quando Odùduwà separou as águas e a terra, bem no ponto de contato entre esses dois elementos, formou-se a lama dos pântanos e mengues. Sou a água parada, água da vida e da morte. Sou a mais antiga Iyàbà. Sou a memória ancestral. Sou o destino. Sou a lembrança angustiante da morte, um fardo que todos carregam. EU SOU MÃE. Sou respeitada, como mãe por todos os orixás. O menino carregava a morte dentro de si. Por isso o deixei. A sabedoria mostra que a morte é condição para o renascimento, para a fecundidade, para a vida. É este o mistério da existência. Sou a chuvas, a lama, a terra, a juíza que castiga os homens faltosos. Sou o princípio, o meio e o fim. Eu gerei a própria morte. Por isso, não temi a morte de Omólu, FILHO DO MEU VENTRE. Couro: E o mar revolto, em Maré, se ergue O mangue, avança, e contra o mar se arremessa Que o que fora paz, em ira se alargue E a harmonia, que fora, vê-se avessa… E perece, como uma mera promessa. A intercessão O tempo passa. E o embate segue seu curso. Os senhores Obàtálá, senhor da passagem do tempo e Orúnmìlá, senhor do tempo de vida, demonstram preocupação com os efeitos da disputa. Couro: Os irmãos do branco, senhores do tempo Ao ver violência, em tal desarmonia Intercedem, para encerrar a contenda Vêm ao Aiyé , e às mães se anunciam Nàná(n) Awon Mawu , Que bom que aqui estão! Sem a justiça, nunca retomaremos a harmonia. Yémojá Oluwa Mi Que bom que aqui estão! Carecemos de justiça. A justiça é o que dá sentido à vida. Couro: Em silêncio, mas atentos ao que é dito Os senhores do tempo, permitem a discussão Elas se exaltam, exigem seu veredito Querem justiça, demandam compreensão Yémojá Diga a ela que ele é meu filho. Ela perdeu o direito sobre ele quando o abandonou. Eu nunca abandonaria um filho. O menino agonizava na beira do mar. Cuidei de suas chagas e de suas doenças. Vi surgir a mais bela das criaturas. |
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