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Do Brasil para o mundo, Nosso Axé: Erva Guiné! (Lins Imperial - 2015)

Do Brasil para o mundo, Nosso Axé: Erva Guiné! (Lins Imperial - 2015)

 

Guiné Pipi, Titi, Raiz de Guiné....

São muitos os nomes para um mesmo fundamento.

Os índios já cantavam seus poderem muito antes de aqui chegarem os portugueses ou de aqui se ouvir o brado dos orixás.

O canto dos espíritos criadores do universo tomou forma e fez surgir o mundo, desordenado mas firme. Os jaguares ancestrais então vieram e correram pelo mundo, separando a terra das águas e fazendo surgir as matas de suas pegadas. Com a alvorada da humanidade, coube aos pajés decifrarem a força do que brotava do chão.

Mais tarde, os Jesuítas trazidos nas caravelas aprenderam os segredos das ervas e, sabedores da composição das teriagas, passaram a usar a Guiné, fazendo surgir as garrafadas.

Com nosso distanciamento dos saberes indígenas e a força dos traços culturais africanos, muitos pensam que a Guiné teria vindo com Ossaim nos porões da escravidão. Mas, depois que aqui chegou, é que o dono de todas as folhas consagrou seu uso a Ogum no Candomblé, e a Oxosse na umbanda.

Foram os ventos de Oya que levaram as folhas para a África, embaladas pelos agudás.

As pretas velhas benzedeiras já sabiam seus encantos, e já livraram do mau olhado, muito filho de negro e de branco. Muitas mucamas se livraram das alcovas violentas com a "Amansa Senhor". Muito negro foi vingado com o pó da raiz.

Pra cada coisa um bocado: pra afastar mau-olhado, pra descarrego, patuá ou infusão, Guiné traz a chance de cura dos corpos, de cura das almas ou de proteção.

"Quendá, quendá" - Nas festas do interior das Gerais, os mestres de guarda do congado (os catopés) fazem ecoar o cancioneiro enquanto fazem suas garrafadas - bebidas benzidas pela Virgem do Rosário, protetora dos negros por esse Brasil a fora. Assim, conseguem a proteção para mais um ano, pedem a bênção para seus instrumentos, pelas chuvas e por boas colheitas no sertão.

Passeie pelos dias de hoje e pergunte por uma benzedeira, curandeira, pajé ou Yiá. Quase nunca vai encontrar. As folhas caíram em desuso e, quando não é veneno, é escuso, proibido ou mal-fará.

Mas adentre qualquer terreiro, casa de erva ou cabana de pajelança e saberá de primeira que os tesouros da terra estão lá pra quem quiser. Salve a tradição brasileira das benzedeiras e do axé.

Salve os donos da terra, o índio, o negro, o caboclo, o catopé, o segredo das folhas, o amaci e o porrão. Salve a Guiné, que a Lins exalta e pede a sua proteção!