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Quando o Segundo Sol Chegar...

SINOPSE ENREDO 2018

Quando o Segundo Sol Chegar...


Quem sabe eu ainda sou uma garotinha, esperando o ônibus da escola sozinha

Com as bênçãos da santa, a garotinha veio ao mundo. Santa Rita de Cássia ajudou a batizá-la. Do Rio onde foi concebida e que a recebeu de braços abertos, ela passaria a ganhar o Brasil. Já diria o poeta: bobeira é não viver a realidade. Mesmo assim, como qualquer criança que não conhece a verdade, dentre tantas andanças pelo país, tinha seus sonhos. Mas quem sabe a vida é não sonhar? Até que um dia, ganhou um violão. Foi amor à primeira vista. O instrumento passaria a ser sua razão de viver. Nunca mais o largaria.

Como ainda não tenho seu endereço?

Após tantas moradas, desembarcou na capital federal, onde o rock nacional dava seus pioneiros passos. Com o violão nos braços, a mais nova “candanga” do pedaço dedilhava seus primeiros acordes em busca do estrelato. Lindas melodias ecoavam em sua voz. A noite brasiliense desfrutava de uma corista de ópera. Com seio de fora, proporcionava espetáculos. O Teatro Nacional acolhia o musical “Gigolôs”, com as canções em meio às cenas embaladas por uma guerreira que tomava seu pileque e ainda tinha tempo pra cantar.

O professor me ensinou fazer uma carta de amor

Eclética tal qual um camaleão e suas incontáveis adaptações, exibia um repertório variado, tanto na música quanto no vestuário. Enquanto ela buscava o seu lugar ao primeiro sol, eu sei que alguma coisa aconteceu. O amor lhe pegou. Uma gata extraordinária cruzou seu caminho. Uma gata de nome Maria Eugênia. E ela não descansou enquanto não pegou aquela criatura. Aquela carta de amor não voltou, foi recebida e correspondida. Uma paixão que jamais se resumiu a palavras pequenas, palavras ao vento... Um amor verdadeiro.

Sou fera, sou bicho, sou anjo e sou mulher

Ao contrário da canção, ela não era poeta, mas aprendeu a amar. Bendito fruto de seu ventre. Nasce um novo coração. Deus lhe abençoou num certo primeiro de julho com a chegada de Chicão, seu único filho, com quem descobriu o mundo junto. Uma criança com duas mães. Que receberia a guarda de uma delas, abrindo um importante precedente em meio a tanto preconceito. Chicão não teria a oportunidade de assistir com a mãe o Atlético num Mineirão lotado. Galo de Prata pra filha de mineiros, uma eterna e fanática atleticana.

Quem sabe o príncipe virou um chato, que vive dando no meu saco

Mudaram as estações. E tudo mudou, diferentemente do que diz a canção que lhe abriria as portas para a eternidade. Depois de muita luta, a oportunidade tão sonhada chegou. A eclética e versátil intérprete faz sua estreia em disco. A regravação de “Por Enquanto” de Renato Russo torna aquela voz grave e potente conhecida no Brasil inteiro. A consagração viria com um pedido. À divindade maior. Por um pouco de malandragem. O célebre poema de Cazuza outrora desprezado e esquecido ganharia sua intérprete definitiva. E a música uma menina má que reza baixo pelos cantos.

Mas você pode ter certeza de que o seu telefone irá tocar

Tal veneno antimonotonia que inseria em suas performances a elevou ao status de uma das maiores cantoras do país. De maneira a reinventar a astronomia ao fazer chegar um segundo sol para realinhar as órbitas do planeta, e enfim o mundo ficar completo. Presentes de um grande amigo: Nando Reis. Aquela menina solitária no ponto de ônibus que usava meias três quartos e um All Star azul ficaria marcada pra sempre na historia do rock e da música brasileira. 

Mas ela chegou a acreditar que tudo era pra sempre. Sem saber que o pra sempre... sempre acaba.

E uma vida ardeu sem explicação. Justamente no seu auge, a menina foi lá fora e viu dois sóis num dia. Mas não voltou pra casa. Um mundo sem ela se tornou assim, tão diferente, tão careta, politicamente correto... Não tem explicação.

Eu poderia ser sambista, um folião, LIESViano, trazer a Lagarto Feroz pra sempre no meu coração. E não há nenhuma outra hipótese que eu não considere.

Mas o que eu queria mesmo ser... é a Cássia Eller.

Texto: Marco Maciel