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Sob a luz de Tupã, o raiar da criação (Unidos de Vila Kennedy - 2014)
Sob a luz de Tupã, o raiar da criação (Unidos de Vila Kennedy - 2014)

Apresentação

Vila Kennedy vem contar, por meio do canto e da dança, o esplendor da criação sob os olhos de Tupã, deus dos raios e trovões, gerador de todas as coisas. Reveste-se da riqueza indígena e assume a sua participação, não como alusão, mas como parte integrante desta história.


Sinopse

Tupã, deus apaixonado, criou o infinito e o preencheu de beleza e encantamentos. Povoou com seres luminosos e exaltou as criaturas saídas de seus raios. Criou também, Jaci, deusa da lua, rainha da noite, e a contemplou com sensualidade, fascínio, romantismo e a beleza noturna. Outrora, apaixonou-se por ela, fruto de sua obra, e a tomou como esposa. À Jaci, lua iluminada, Tupã deu uma irmã: Iara, deusa dos lagos serenos, dos rios e igarapés. Tupã, então, em seu fulgor, criou Guaraci, deus do sol e irmão de Jaci, que a todas as criaturas aquece com sua luz e calor.

Fez nascer também Icatú, o deus da beleza. Formou um lugar de delícias para os seres bons e um lugar tenebroso para os seres maus. Neste lugar sombrio, vagam as almas sem vida e os espíritos dos guerreiros sem glórias ou fugidos das tribos. Tupã, após uma batalha, lançou seu temível e poderoso inimigo Anhangá (deus dos infernos) a este lugar e o chamou de região infernal. Junto com este impiedoso deus, Tupã também lançou Jurupari, seu mensageiro; Tice, sua esposa; Xandoré (ave falconídea), o deus do ódio; e também, Caramuru, Boto, Abaçaí, Guandiro e muitos angás. Assim era o reino do pavor, da dor, do ódio e da vingança.

No alto dos céus, sentado em seu trono, Tupã criou milhares de criaturas celestes que executavam suas ordens e o louvavam. Fez raiar sobre os verdejantes mares os Sete Espíritos e os gênios, que sob as ordens do Boto, deus dos abismos marítimos, comandavam os oceanos e habitavam a sagrada Loca, que era a moradia dos deuses marinhos no fundo das águas.

Criou Pirarucú, deus do mal e deu vida ao alegre Curupira, deus protetor das florestas.
Do mesmo modo, nasceram as Sete Deusas:

* Guaipira: deusa da história

* Pice: deusa da poesia

* Biaça: deusa da astronomia

* Açutí: deusa da escrita

* Arapé: deusa da dança

* Graçaí: deusa da eloquência (persuasão pela palavra)

* Piná: deusa da simpatia

Depois de tudo isso, Tupã criou para a alimentação dos deuses, o divino Ticuanga: um bolo feito de massa, óleos e outras iguarias deliciosas para alimentar e deleitar os imortais. Mandou em seguida, preparar o sagrado Tapicurí, o vinho dos sacros deuses, e a Tamaquaré, uma fina essência aromática usada pelos Senhores da Eternidade. Estabeleceu as horas, os minutos e os segundos. Fixou as estações e as mutações do tempo. Deu uma forma estável e regular ao Universo e instituiu o Nadir e o Zênite. Fez nascer a reciprocidade e criou:

* Catú: deus do outono

* Mutin: deus da primavera

* Peurê: deus do verão

* Nhará: deus do inverno

* Tainacam: deusa das constelações

* Tiriricas: deusas da raiva, do ódio e da vingança

* Caapora: deus vingativo, protetor das casas

* Caitetú: porco feroz sobre o qual cavalga o Caapora para proteger os filhotes dos animais

* Aruanã: deus da alegria e protetor dos Carajás

Tupã fez germinar ao norte do Brasil as ricas e belas carnaubeiras, também chamadas de árvores da vida.

E, para concluir sua obra, Tupã veio ao mundo e fez o homem. Deu-lhe como companheira a mulher e logo eles se multiplicaram e povoaram toda a terra. O poderoso deus ensinou às suas criaturas a arte de tirar do seio da terra ricos legumes e frutas, trabalhar com barro e argila e, do ferro, produzir as mais fortes lanças e armas de guerra. Depois transmitiu aos homens todo o conhecimento sobre os remédios para todas as doenças. Finalmente, ensinou-lhes as Artes que tornam a vida mais suave a amena. Abençoou o sagrado Ibiapaba, Monte Sagrado dos Deuses Brasileiros e nele permitiu a permanência das Parajás, do bondoso Inoquiué, das Parés, de Solfã e outros deuses imortais.

Alegres viviam os homens, felizes cresciam as crianças. Todos os deuses gloriosos e imortais amavam-nos e davam-lhes formosos e ricos rebanhos de capivaras, e pacas.

Ao morrerem, os homens não sofriam, pois mergulhavam em doce sono e seus corpos voltavam a terra. Suas almas subiam aos céus. A vida proporcionava todo o bem imaginável. A terra era fértil e produzia-lhes todas as árvores frutíferas de que precisavam. Se algum mortal faltasse com a veneração aos imortais, era duramente castigado. Para louvar a alma dos guerreiros, organizavam o Kuarup, ou o funeral. Os deuses reuniam-se em assembléia no Monte Ibiapaba e enviavam mensagens aos homens.

Mas, eis que um dia, Anhangá, cheio de inveja, transformado numa bela e astuta jararaca gigante, soprou aos ouvidos dos homens a maldade. Ainda que os outros deuses protetores vagassem em torno deles para ajudá-los, nada conseguiram. Então, os homens começaram a ser dominados por uma grande ambição. As Parajás, deusas do bem, da honra e da justiça, que eram inseparáveis, envolveram seus corpos em brancas plumas e abandonaram os mortais, voltando para junto dos deuses eternos e da escura Sumá (deusa inimiga dos homens), que, envolvida em negra manta feita de cipó chumbo, vagou pela terra espalhando ódio e discórdia. Deste modo, os maus sentimentos ganharam o mundo e os mortais tiveram conhecimento do mal, da injustiça e amaram mais as maldades do que as virtudes.

Com o seu poder, Tupã aprisionou o deus do ódio na sagrada serra do Ibiapaba. Algum tempo depois, ele foi solto por Jururá-Açú, a bela imortal. Por castigo, Tupã fez nascer nas costas desta deusa uma espécie de concha e cobriu-lhe todo o corpo com uma cor amarelada, transformando-a na horrível tartaruga que habita as águas doces dos rios. Assim, pôde Tupã se gloriar de ter vencido todos os que se opuseram à ele.

Tupã, no entanto, arrependeu-se de ter criado os homens. Voltou à Ibiapaba e se reuniu em assembléia com os imortais. Depois de muita discussão, chegaram a um consenso de que deveriam destruir a terra e todos os homens.

Já Caramurú, deus que presidia as faíscas e as ondas revoltas dos grandes oceanos, por ordem do Conselho Divino, queria derramar sobre a terra os seus raios e coriscos, mas o deus do trovão decidiu que a terra deveria ser engolida pelas águas da chuva.

Desta forma, Pólo aprisionou os ventos na forte e gigante palmeira ubuçú, no Monte Araçatuba. Boto desceu a terra, convocou todos os grandes e pequenos rios e, Iara, raivosa, ordenou às fontes e às chuvas que caíssem abundantemente durante quarenta dias e noites sem cessar.

Os Sete Espíritos dos grandes oceanos, por ordem do Boto, atiraram para as terras secas bravias ondas dos mares e, fortes aguaceiros despencaram dos céus. As janelas celestes se abriram e as plantações dos Tupis quedaram-se sob o peso das águas da tempestade. As águas invadiram toda a terra levando com elas as ocas, as tabas, as árvores e os templos. Os animais se debatiam nas ondas. Tribos numerosas eram engolidas pela inundação e os que escapavam das águas, morriam nas alturas dos montes por determinação de Tupã.

Quando Tupã olhou para a Terra, viu o mundo submerso em águas mortas e apenas um casal contemplando os céus: Açu e Pirá. Neste instante, o senhor dos mundos fez baixar as águas e surgiram novamente as montanhas, as planícies e a terra.

Açú olhou a sua volta e viu tudo mergulhado no silêncio da morte. As lágrimas começaram a molhar sua face, quando perguntou a Pirá:

- Somente nós não sucumbimos ao cataclismo, o que faremos sós e abandonados nesta imensidão?

Os dois suplicaram entre salgadas lágrimas à meiga e doce deusa Caupé para que os ajudasse a recuperar toda a geração morta. Ao ouvir tais súplicas, a deusa desceu e falou-lhes:

- Olhais três vezes para os céus e dizeis: descobrimo-nos perante vós, deuses imortais e curvamos as nossas cabeças perante vossas ordens. Depois, tomais grande porção de areia e atirais para o alto.

Não hesitando um só momento em executar os tais ensinamentos da deusa, atiraram os grãos de areia e viram que deles surgiram imagens, formas humanas. E, desse modo, com o auxílio divino, nasceram milhares de homens e mulheres. E dessa geração humana vinda de um só ramo Tupi encheu todo o lendário Brasil.

Depois de algum tempo, Açú e Pirá tiveram um filho, Tujubá, o ascendente dos Tupinambás. Os filhos deste foram: Arumã (o herói), Moema e Taparica, que foi pai de Paraguassú, Irapuã e Tibiriçá, que foi pai de Bartira, esposa do Guaraciaba (João Ramalho), fundador de Piratininga.


Agradecimentos

A Deus, pelos dons recebidos, a nossas mães e família, pelo apoio, aos amigos pela cooperação, ao nosso Presidente Manoel Ferreira (Seu Manel), pela oportunidade, a amiga, Prof. Iolanda Cunha, pela ajuda e a comunidade pela parceria e em homenagem póstuma a Wenderson Silva, nosso antecessor.

Luiz Antônio de Almeida e Eduardo Tannús