Samba agoniza, mas não morre - Nelson Sargento da Mangueira e também do Jacaré (Jacarezinho - 2012)
Samba
agoniza, mas não morre - Nelson Sargento da Mangueira e também
do Jacaré (Jacarezinho - 2012)
A lua me convida pra contar, a
vida de um homem sonhador. Valete, de verdade e de respeito, que
sempre traduz o que traz em seu peito, transformando palavras em
poemas de amor. Um senhor que veio lá das bandas da Tijuca, foi
militar, virou sargento na labuta, mas ficou conhecido por se
tornar compositor.
Pelas nuvens foi sonhando a sua realidade e muito jovem foi morar
lá em Mangueira. Com seu padrasto português conheceu o que é a
arte de verdade, nos primeiros passos do criar. Primavera, as
quatro estações do ano, um samba de enredo e seu valor, foi
escrito para Estação Primeira revelando assim para o mundo seu
talento de compor! "Oh! Primavera adorada, inspiradora de
amores. Oh! Primavera idolatrada, sublime estação das flores..."
A noite, companheira dos seus versos, sempre sua eterna namorada,
é a testemunha que foi ele quem levou o samba dos terreiros, dos
botecos e ruelas, passando por rodas de rua e chegando as
fidalguias dos salões. Sim foi ele sim, ele, que é o senhor da
elegância, sempre alinhado e com perseverança alcançou a fama
com seu bom comportamento e sua genial expressão.
As estrelas não deixam esse homem de lado, sabem que é um astro
de fato, sempre o seguindo em sua trajetória de luta em defesa
de um samba autêntico e de valorização. O moço inocente pé
no chão, e na sua simplicidade, vive um dia a dia como um negro
de verdade, não esquecendo sua raça e tão pouco o seu valor.
A música corre em suas veias, sua musa é parceira e vai lhe
conduzindo por um caminho sem dor. "Assim o dia se repete e
a tristeza só existe, porque existe a alegria e a flor! A terra
vai dando a vida para ela e em um coração sincero, sempre
desponta um grande amor...""Orfeu" da Conceição
o referência, é ator de grande revelia. Em "O primeiro dia",
recebe aplausos dos conceituados da sétima arte. No "A Voz
do morro" cantou com parceiros de primeira, velhos bambas da
canção. Escritor letrado reconhecido, "Prisioneiro do
mundo", "Um certo Geraldo Pereira" e "O samba
eu" alguns dos escritos como romancista, poeta e criador!
A vida só lhe traz felicidade, mas na ânsia de esconder as
dores do seu coração, passeou pelos botecos conheceu amigos que
também já sofreram por amor. "É nos botecos que se afoga
a alma, as garrafas então batem palmas, e se embriagando elas
pedem bis."
A luz da juventude lhe deu sorte, lhe fez conhecer dois grandes
amores! A sua amada, Evonete, mulher e parceira, sua esposa que
é sua guia no matrimonial. E a outra, uma escola de samba de
primeira, amores duradouros e pra eternidade. "E no decorrer
dos belos passos foi sempre assim uma dúvida bailando em seu
caminhar. Uma paixão que lhe domina e a outra lhe fascina, mas
as duas tem o seu coração. Uma está no lar, é sua doce
companheira, as vezes ele fica com a outra a noite inteira, mas
vivendo bem, pois ela sabe afinal que a sua rival é a Mangueira!"
Pois é, só Deus sabe o quanto ele amou. Por ter amado tanto
chorou e chorando levou a sua cruz até o fim. Na vida é assim
que se procede em um amor que é tão bonito, ela finge que o ama
e ele finge que acredita... Pois o falso amor é tão sincero,
isso faz ele bem feliz, ela faz tudo que ele quer e ele faz tudo
que ela diz...
E Deus deu o dom de pintar a arte, e como artista retrata o morro,
o morro bonito que nos faz refletir. "Morro, és o encanto
da paisagem, suntuoso personagem de rudimentar beleza. Morro com
toda simplicidade, és chamado de elevação, vielas, becos e
buracos, choupanas, tendinhas, barracos, sem discriminação.
Morro, pés descalços na ladeira, lata d´água na cabeça, vida
rude alvissareira, crianças sem futuro e sem escola, se não der
sorte na bola, vai sofrer a vida inteira... Morro, és lindo
quando o sol desponta, e as mazelas vão por conta do desajuste
social." Assim ele pinta o dia a dia, colorindo de alegria
nossas vidas e nos trazendo a verdade mais simples da sua emoção.
E nessa noite de alegria, com os respeitos da nossa velha guarda,
nós sambistas da Unidos do Jacarezinho reverenciamos a ele,
nosso grande homenageado. Que os nossos tamborins toquem mais
alto, que as nossas baianas rodopiem tirando toda a pueira do chão,
nossa escola é uma comunidade, unida e emanada em uma só voz
para cantar para você, oh nosso mestre!
E hoje nessa grande festa, o samba pode agonizar, mas não morrerá.
Enquanto tivermos força e criatividade para vencermos todas as
dificuldades! Enquanto houver poesia, enquanto houver música,
enquanto houver gênios populares haverá o samba!! Que o nosso
pavilhão rosa, branco e verde, se junte ao verde e rosa do
pavilhão da nossa querida madrinha Estação Primeira de
Mangueira, e unidos formem uma passarela garbosa e singela, para
o nosso sambista maior dizer no pé!
Salve a arte, salve o samba, salve ele ...Nelson Sargento da
Mangueira e também do Jacaré!
Autor da sinopse e pesquisa Eduardo Gonçalves
Argumento de enredo Ivo Meirelles
As letras das músicas "Agoniza mas não morre", "A
noite se repete", "De boteco em boteco","Encanto
da paisagem", "Falso amor sincero", "Triângulo
amoroso", foram citadas no texto da sinopse.