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De Ventres Africanos, os Sonhos por Liberdade! (União de Jacarepaguá - 2022)
De Ventres Africanos, os Sonhos por Liberdade! (União de Jacarepaguá - 2022)

Ancestralidade, beleza e força. África, ventre, continente mãe, berço da humanidade, da cultura e do saber. Ela quem amamentou e tornou forte seus filhos. Fez deles realezas. Fez deles conhecedores de todos os seus mistérios. Mãe das mães evocando toda a grandeza das raízes de sua terra que fecunda.

África matriarcal. Das Yabás. De grandiosas e nobres mulheres negras com seus encantos e belezas. Com raça, defendem seus ideais, sua honra e seu povo. Elas, que tiveram o ventre de África como inspiração, amamentaram seus filhos com amor, carinho e sabedoria.

África que defende os seus filhos. Eles, omodés, carregam a pureza e a felicidade em seus corações. São eles as crianças, ibejis, a certeza de que há de vir um futuro melhor. A Mãe das mães deles cuida. É um amor puro e doce que só uma mãe tem pela sua cria. É como uma leoa a proteger seus filhotes, sua família, mantendo-os unidos e fortes.

África cobiçada. Atraiu os olhares do homem branco europeu. E os filhos dela, em nome da ganância, foram arrancados de seu ventre. A eles, deram a escravidão. E Mama chorou.

África de angústias. Das incertezas. Os filhos do berço da humanidade sofrem o banzo. Pedem a suas divindades força para aguentar o que estava por vir. Mesmo usurpados de formas vil, não sucumbiram à condição desumana a qual lhes foi imposta. A resistência se fez mais forte. Fortaleza encontrada nas lembranças dos seus que ficaram por lá ou foram por outros caminhos. E assim filhos de África não balançam, insistem ficar de pé. Resistem como uma rocha.

No Brasil, os negros foram vendidos como mercadorias. Deram a eles preços. Uns valiam mais, outros quase nada. À força, foram obrigados a trabalhar, sem direitos, nas lavouras, nas fazendas, na casa grande, na capital. Eram ladinos, mucamas, boçais, de ganho. Quando não respeitavam seus senhores, eram castigados com crueldade. Açoite, chibatas, grilhões marcavam o corpo negro.

Mas não tardou para que os negros questionasse essa condição tão bárbara a que eles eram submetidos. A posse de um escravo, que era garantida por lei, foi colocada em “xeque”.

Alguns escravizados foram à luta na Guerra do Paraguai, com a esperança de serem alforriados. Outros, tomaram as ruas pedindo o fim da escravidão.

O Império brasileiro, contudo, tinha como base a escravidão. Não queria o fim dela. E brancos e negros, livres e escravos, ricos e pobres, liberais e conservadores, luzias e saquaremas viveram-na intensamente. Entre idas e vindas, começaram a colocar este regime cruel em questão. A Lei do Ventre Livre, ou Rio Branco, que alterou a condição das crianças nascidas de mães escravizadas, propôs uma liberdade inviável. A Lei dos Sexagenários, ou Saraiva-Cotegipe, que garantiu a alforria para os com 60 anos ou mais de idade, embora os mantivessem ainda na escravidão por mais três anos sob forma de indenização ao senhor, foi assinada sob protestos. A Lei Áurea, que, por pressões políticas, foi assinada pela Princesa Isabel, trouxe mudanças jurídicas, mas manteve as péssimas condições sociais, pois não promoveu ações afirmativas de inclusão dos negros na sociedade brasileira.

E, embora já tenha se passado mais de 130 anos que “a pena” decretou o fim da escravidão, pouco foi feito. Muitos negros continuam ainda à margem da sociedade, sem acesso aos serviços básicos que são direitos de qualquer cidadão. É como a vida negra não tivesse valor. E para muitos, não tem mesmo.

O negro quem domina os noticiários de assassinatos. São Marisas de Carvalho, Cláudias da Silva e Marielles Franco. São Ágathas Queiroz, Joãos Pedro e Kauãs Rosário. É o luto amargurado de mais uma mãe que perde seu filho para o racismo escancarado. É a carne negra que continua sendo a mais barata do mercado. É o preto humilhado.

Ventre livre para quem? Rompendo correntes invisíveis que continuam presas aos nossos corpos, a União de Jacarepaguá vem reivindicar por liberdade.

Carnavalesco: Lucas Lopes

Texto, pesquisa e desenvolvimento: Lucas Lopes, Cláudia Paixão e Paulo Neto

Revisão: Mateus Pranto