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Da morada da esperança ao grande palco do sambista, somos todos iguais nesta noite, somos todos artistas (União de Jacarepaguá - 2010) Hoje o samba é a ribalta em
cena aberta, que em seu teatro de rua, sob a lona de um céu de
estrelas, iluminada pela luz da lua, faz sair do pano de boca um
canto, que ecoa como um grito de esperança e que, ao refletir
nos espelhos dos camarins de tantos que o tempo guardou na
lembrança, relança as estreias do espetáculo da vida.
"Somos todos iguais nesta noite...", somos todos artistas, que, sob as luzes deste teatro passarela, fazemos dele: o picadeiro, o palco e a tela. Trazemos a arte em forma de aquarela, pincelando a memória de um tempo, de um Brasil que sonhava, que sorria e que cantava... Somos ciganos de um circo de verdade, que, de cidade em cidade, divertimos multidões. Somos palhaços do riso pintado a ocultar as lágrimas do esquecimento, trapezistas à espera da mão que alcança, malabaristas que lançam a esperança no ar, e que, assim, sem reconhecimento, como equilibristas na corda bamba, atravessando a linha da vida, sem rede para nos amparar. Pisamos o palco novamente, bailando, levando e se deixando levar, dançando conforme a música, que a orquestra do tempo se põe a tocar. Somos vedetes e coristas de uma revista esquecida, das caras e bocas e das pernas pro ar; somos o desejo guardado, o sonho sonhado num amargo despertar. Vivemos o drama e a comédia, de cada ato, de cada gesto e olhar, temos mil faces, somos personagens à espera da "deixa". Queremos dizer o texto do grande papel de nossas vidas, queremos nos representar. Somos a imagem gravada na tela, o filme que passa somente na memória, somos a voz embargada que cantou e encantou outrora, somos um rosto desligado da TV. Porém, sabemos que somos o passado, retirados da cena, dos holofotes do presente. Mas mesmo assim, nesta peça da vida, clamamos! Estamos vivos! Pois o tempo que nos leva a juventude não nos roubou o talento; entramos em cena hoje, para mostrar que resistimos, em nome da arte, existimos, pois não se apagaram as luzes, não se fecharam as cortinas, a vida segue, o show não pode parar. Queremos mostrar que somos todos iguais nesta noite, somos nós e vocês, todos artistas, no palco da vida, nesta escola a desfilar. Alexandre Louzada |
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