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Cacá Diegues - Retratos de um Brasil
em cena (Inocentes de Belford
Roxo - 2016)
Hoje vamos percorrer os trilhos da
alegria para nos ver no cinema. Todos estão convidados a
embarcar no nosso trem especial que vai partir de Belford Roxo rumo ao
Sambódromo, conduzindo animados passageiros para assistirem a um
filme emocionante na telona da Marquês de Sapucaí.
Estrelas admiráveis também viajam em cada vagão
para ajudar a contar a vitoriosa trajetória do mestre
Cacá Diegues, o cineasta do Brasil.
Desembarcamos na estação da folia para nosso projetor da ilusão começar a rodar a película momesca mostrando fatos marcantes da vida e da obra de nosso ilustre homenageado... 1º SETOR – VIDA DE CINEMA O vibrante colorido das diversas manifestações folclóricas do nordeste brasileiro sempre esteve impregnado na memória afetiva e na vida de Cacá Diegues, mesmo morando desde criança no Rio de Janeiro. Radicado no Rio por circunstâncias familiares, foi adotado pela Cidade Maravilhosa e tornou-se um autêntico alagoano carioca, pois não deixava de retornar a Maceió nas férias. Sua terra natal, aliás, serviu como locação para alguns de seus filmes mais importantes. Portelense de coração e amante do futebol, morava em Botafogo, bairro de seu amado time, o qual acompanha nos campeonatos desde garoto e pelo qual nutre grande paixão como torcedor inveterado. Foi nesse tempo muito distante, por volta dos 6 anos de idade, que o pequeno Carlos José Fontes Diegues entra pela primeira vez num cinema, levado por uma tia, em Alagoas. Na sala escura, o menino fica espantado e encantado diante daquela luz mágica que contava tantas histórias de gente bonita, parecidas com aquelas deliciosas narrativas que sempre ouvia com atenção no colo do avô e da sua babá. Histórias que, mais tarde, inspiraram muito de sua obra. Ao entrar na sala e ser advertido pela tia para não botar a mão na tela porque ele ia ficar preso nela, teve a certeza, nesse dia, que tinha ficado grudado nela para sempre. Imediatamente apaixonou-se pela Sétima Arte e virou cinéfilo! O cinema, na sua juventude, dava asas à sua imaginação, aguçava a fantasia, ajudava a escapar do rigor a que tinha que se submeter na escola jesuítica e ainda da repressão materna em casa. Por isso fazia seus primeiros filmes de curtíssima duração na câmera movida à corda do seu amigo vizinho David Neves, que também seria cineasta, e não cansava de ir com ele às sessões semanais da Cinemateca do Museu de Arte Moderna. Embora convicto de sua vocação, no final da adolescência, pela ausência de curso de Cinema no país, Cacá Diegues optou pela faculdade de Direito. Nesse período acadêmico, começa sua carreira como cineasta amador ao fundar um cineclube e participar ativamente do Jornal da UNE “O Metropolitano”, embriões do movimento cultural Cinema Novo, influenciado pelo Modernismo, que colocou a imagem do povo brasileiro na telona. Sua extensa obra se inicia com curtas-metragens, destacando-se o pioneiro “Domingo”. Diegues parte logo para a produção de filmes profissionais, estreando no longa-metragem “Cinco Vezes Favela”, com o episódio “Escola de Samba Alegria de Viver”, que mostrava as dificuldades e os dramas de uma comunidade de uma pequena escola no morro do Cabuçu. Eleito presidente do Centro Acadêmico da PUC, realiza o primeiro evento musical público de Bossa Nova, juntando eminentes artistas. Ainda no movimento estudantil, Cacá foi um dos líderes do Cinema Novo, ao lado de grandes nomes como Glauber Rocha, entre outros. Esse grupo começou a fazer cinema numa época em que não havia televisão no Brasil e o país ainda não tinha uma imagem dele mesmo. A ideologia desses jovens militantes tinha as pretensões utópicas de mudar a história do cinema, mudar a história do Brasil e mudar o mundo. Contudo, de uma hora para outra, cai em suas cabeças fervilhantes de ideias uma terrível ditadura militar para frear e triturar seus sonhos, exilando muitos deles em terras estrangeiras e enterrando de vez o Cinema Novo. Cacá Diegues teve proibido seu filme “Os herdeiros” (1969) e termina se abrigando na Itália e na França. Nesse conturbado e sombrio período não deixou de fazer filmes, resistindo à sufocante e inibidora “patrulha ideológica” da censura, também trabalhando como engajado jornalista polêmico, escrevendo sobre Cinema. 2º SETOR – MULHERES FASCINANTES EM CENA Poucos cineastas como Diegues retrataram com tanta propriedade a alma feminina. Sua filmografia, sempre preocupada com a realidade e a desigualdade, deu voz a mulheres protagonistas determinadas em papéis sociais em diferentes épocas. “A Grande Cidade” conta a trágica história da iludida nordestina Luzia recém-chegada na metrópole carioca. “Joanna Francesa” mostra as memórias da dona de um prostíbulo paulista que vai viver numa fazenda com um cliente latifundiário alagoano e sua conflitante família. “Bye Bye Brasil” revela a vivência de duas mulheres muito diferentes: a decidida dançarina Salomé e a inexperiente Dasdô. “Xica da Silva” apresenta uma mulher ousada que assusta a intransigente sociedade colonial, a despeito de sua condição de escrava. Em “Dias Melhores Virão”, a sonhadora e angustiada Marialva é uma dubladora que vive entre a realidade e a fantasia e almeja se tornar uma estrela hollyoodiana. “Tieta” apresenta uma mulher do agreste voluntariosa e fogosa que foi expulsa de casa pelo pai e volta mais tarde endinheirada para se vingar de todos. Mulheres sedutoras muito diferentes entre si, que lutam pelo seu destino, com suas histórias conturbadas por dramas familiares e amorosos vividos intensamente, tendo como pano de fundo a sociedade brasileira. 3º SETOR – O ORGULHO DA NEGRITUDE EM CARTAZ A obra de Cacá Diegues tem uma visão socialista do mundo, a favor da liberdade e da igualdade. A causa do negro ainda era muito rudimentar quando ele começou a fazer cinema, sendo então um dos precursores a falar de etnia, de uma identidade afrodescendente na formação do nosso povo. Sem perder o tom político e a ternura, sua produção cinematográfica tem abraçado as raízes formadoras da nossa nacionalidade. E mostrar a situação do negro escravo e do negro liberto na favela, o Quilombo urbano moderno que são as comunidades dos morros, foi o caminho percorrido, contribuindo com a questão da identidade do negro no Brasil, o qual sempre foi posto à margem da sociedade devido ao preconceito da classe branca dominante. Ser negro, em seus filmes, deixou de ser uma situação vergonhosa, pois ele transforma seus personagens singulares em importantes heróis da nossa história. Ganga Zumba, Zumbi dos Palmares, Xica da Silva, Calunga, Orfeu e os moradores das favelas representam muito bem a essência da negritude brasileira. 4º SETOR – O BRASIL REFLETIDO NA TELONA Cacá Diegues retratou a realidade do Brasil em cenas de cores carregadas de lirismo e muita objetividade, captando o espírito de um povo e as mazelas de quem o governa. O Brasil e o brasileiro são sua matéria-prima. Mostrou o país em constante mudança, dando uma cara a essa imensa nação. Sua arte tem a capacidade de exprimir em imagens o sentimento de uma geração, de uma época histórica, abordando aspectos sociais e políticos. Até quando a conjuntura econômica foi massacrante, Diegues continuou no seu caminho, gravando os fatos em cenas que nos fazem pensar sobre o mundo, sobre nosso país e sobre nós mesmos. Ao viver e registrar o seu tempo presente, Cacá nos deixa um rico legado de memória do Brasil para o futuro. Muitas questões são tratadas na sua filmografia, contudo todas pertinentes ao que sua obra se propõe. Nela estão presentes um país em transformação, episódios políticos, a luta por ideais, o rural e o urbano, o imigrante nordestino, a cultura popular, o Carnaval, a malandragem, a violência cotidiana, os dramas familiares e existenciais, o amor e a morte. Tudo recheado de muita reflexão e embalado por uma trilha sonora cativante, nos chamando a ouvir cada canção com o coração acalentado. Seu filme mais recente “O grande circo místico” é uma síntese de toda a sua carreira, tanto no estilo, quanto no conteúdo. Com esse enredo felomenal, “Quando o carnaval chegar”, como a caravana de “Bye bye Brasil”, vamos percorrer a Avenida com muita determinação e “O maior amor do mundo”, invocando o espírito iluminado de “Orfeu” para conosco apresentar mais um grande espetáculo com as bênçãos de um “Rio de fé”, afinal já está sacramentado no coração de todo mundo que “Deus é brasileiro” e a Inocentes é de Belford Roxo! Nosso roteiro está terminado, nossa produção acaba de gravar o melhor filme de todos os tempos no set da folia, regido pelo olhar singular e pela direção precisa do nosso glorioso cineasta. Finalizado o filme da fantasia, sob o brilho colorido dos refletores, agora é rodar nossa fita carnavalesca para o deleite da plateia do Sambódromo. Inspirados nesse gênio do cinema nacional, vamos fazer o maior teatro de rua em forma de desfile para orgulhosamente entregar ao premiado cineasta Cacá Diegues o merecido Oscar do samba. Carnavalesco: Marcio Puluker Pesquisa e texto: Julio Cesar Farias |
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