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Samba de Quilombo - A Resistência pela Raiz (Império da Tijuca -
2021)
SINOPSE
Estou chegando. Venho com fé, respeito mitos e tradições. Trago um canto negro e aquela gente de cor, com a imponência de um rei, vai pisar na passarela. Vamos esquecer os desenganos, viver a alegria que sonhamos, mas depois da ilusão…será que o samba ainda está em nossas mãos? A poesia do negro partideiro ficou pra escanteio quando “visual virou quesito”. Valendo apenas quem se veste mais bonito as custas de muito dinheiro. Falsos valores escritos por “brancas mãos” de intelectuais e acadêmicos que invadiram nossos terreiros. Carnaval virou mercado, produto de Estado. Mas não me incomodem, por favor. Samba é verdade do povo, ninguém vai deturpar seu valor! Nasci manifesto, preto protesto à luz de Candeia, na viola de Paulinho, na poesia de Nei e Moreira. Batizado pela resistência e bravura de Palmares, da união e insatisfação de irmãos baluartes. Compositores “quilombolas” cantando com pés no chão fundaram a “Nova Escola”. Em meu pavilhão, o branco inspirado na simplicidade da paz, sintetizando um mundo de amor, simbolizado no dourado e lilás. Aqui todos podem colaborar, mas ninguém pode imperar. A sabedoria é meu sustentáculo e meu princípio é o amor. Sou a casa da nossa cor, que carrega no peito a ancestralidade e tradição, desabrocha sua arte e lugar de fala, no corpo, na voz e nas mãos. Se manifesta no girar da baiana; no versar de um partideiro. Por poemas, filmes e melodias; pelos debates e discursos no terreiro. Movimento pelo compositor, por reconhecimento das barreiras que preto enfrenta nesse país. Mas exaltando toda a riqueza de nossa raiz e compreendendo que o samba é quem faz nossa gente mais feliz. Extraio o belo das coisas simples que me seduzem, sendo lar de sambista e centro das artes da negritude. No barato tecido, um folclore negro colorido, na cultura popular ancestral, a estampa do sorriso. Cortejam Afoxés e Macaratus, bailam jongueiros e Lundus. No balanço de um samba de Caboclo, na ginga de um capoeira; no miudinho de um Partido Alto, num pandeiro, tamborim e viola que toque a noite inteira. Não me apavora nem rock, nem rumba e pra acabar com tal de “soul” basta um pouco de macumba! Girem saias e guias, ecoem louvores e cantares aos santos, deuses e orixás pelos heróis de nossa liberdade. Salve Dandara, Ganga Zumba, Luiza Mahin, Maria Felipa, Manoel Congo. Valeu, Zumbi! Sai pelas ruas do centro e dos subúrbios com minhas baianas rendadas, sambando sem parar. Com minha comissão de frente digna de respeito, carregando no peito minhas origens através de enredos. Fiz “Apoteose das mãos” em meu primeiro cortejo, ao som de Martinho devolvi ao estandarte a história das origens negras “Ao povo em forma de arte”. Pelos versos de Luiz Carlos, cantei Solano Trindade; pelos versos de tantos mestres celebrei Zumbi e comemorei os noventa anos da liberdade. Plantei a semente, cultivei a raiz, flori e deixei herança. Sou Quilombo! Eu sou o povo, sou canto, sou dança! Sou Candeia! Sou voz que não cansa de lutar para negro alcançar seu dia de graça. Então, não negue a raça! É hora de fazer Kizomba mais uma vez para a Conceição padroeira abençoar seus filhos quilombolas, que hoje também são da Formiga e desfilam na avenida todo o nosso cantar. E é por isso que eu canto… Axé, Tijuca! Ora yê yê ô! Guilherme Estevão *Inserções feitas no texto com trechos do Manifesto do G.R.A.N.E.S Quilombo; músicas “Dia de Graça”, “Nova Escola”, “Sou Mais samba” de Candeia; “Ao povo em forma de arte” de Martinha da Vila, “Solano, Poeta do Povo” de Luiz Carlos da Vila e “Visual” de Beth Carvalho. |
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