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O Império nas águas doces de
Oxum! (Império da Tijuca - 2015)
Carnavalesco: Júnior Pernambucano Pesquisa e texto: Marcos Roza Brilha a nossa coroa!
Em comunhão: “Olorum, através do Sol, aquece a água dos oceanos; Oxumarê, com seu arco-íris, leva a água em forma de vapor para as nuvens; Iansã as agrupa com o vento que sopra do balanço de suas saias; Xangô lança a pedra de raio sobre a terra e Odudúa prepara seu ventre para receber a chuva – o líquido maravilhoso da vida”. “O momento sublime acontece. A chuva cai e com ela toda força do céu. Odudúa absorve todo líquido, em seu ventre, no interior da terra e a água acumulada se enche de força mineral - axé”. Ouvimos os murmúrios das águas... Odudúa abre seu ventre e dá vida à majestosa Oxum, que brota do solo e desliza sobre seu leito a essência da magia e beleza. Como imaginávamos que fosse, Com fertilidade a terra se formou. Vinda da sabedoria à procriação, A poesia do tempo nos trouxe: Oxum, a mãe da água doce. No caminho sagrado à mitologia iorubá, na terra onde nasceram os orixás, Oxum é rainha das águas. Vive no caudaloso rio que leva o seu nome. Lá, benditas são suas águas, suaves ou corredeiras, dos rios e das cachoeiras ao sentimento incomum de purificação, que banham a cidade de Oxogbô – território que compreende o sudoeste nigeriano e um pequeno trecho do leste do Benin – hoje, um dos principais locais de culto a Oxum, na África. É no curso das águas Que sua essência resplandece. Assim, como diz a lenda do rei Larô sobre a criação do Templo de Oxogbô: Fez, das margens do rio, a sua morada, Pelas águas de Oxum, sua filha foi levada... Não sei se por encanto ou magia, A menina é iluminada, E reaparece, na beira do rio, toda enfeitada. Larô agradece no ato. Entre cânticos e orações, funda seu Templo E celebra um pacto: Na comemoração do Reino de Oxum, Serei eu, o rei Ataojá, À frente do cortejo, em homenagem A Oxum no país de Iorubá. Sua docilidade nos transforma, vai além de suas águas puras e calmas. Seus mitos resignificam o nosso sentimento no corpo e na alma. É dada a Oxum a missão de salvar a aiê (terra), personificada numa ave encantada, que voa em direção ao sol para suplicar a benção de Olorum. Compadecido da “pobre ave”, ele devolve a chuva à terra. Renascem do solo os alimentos, tudo ganha vida. Percebemos o quanto é querida... Sempre discreta, mesmo em seus aspectos mais aguerridos, Seu comportamento doce e sedutor predomina. Assim, Oxum conquista poder e sabedoria. Aprende no reino de Exu os segredos da magia. Sábia, Oxum o desafia: Não é a você que pertence o poder da adivinhação? Então, descubra o que trago em minha mão. Exu, sem perceber, entra numa embaraçosa situação. Dengosa e de mansinho, Sem demonstrar sua ambição, Oxum descobre os mistérios dos búzios E toda a sua tradição. Outro destino lhe é dado. Os amores de Oxum vão dando conta do recado. Tudo lhe parecia fácil... Até quando, de repente, seu coração é fisgado. E disputa com Obá, O amor de Xangô, Por ela tão desejado. Ogum, Oxossi e Orunmilá Apaixonaram-se pelos encantos dessa doce iabá. Ao ponto em que os maus tratos de Xangô Levaram até Exu a lhe cortejar. Conta-nos a lenda que da torre do castelo de Oió, Transformou-se numa “pomba dourada” E de lá voou para com Exu se casar. Mas, diante dos dados reais da vida, Oxum é rainha de fé. Recebe atributos e poderes no rito do candomblé. Sua origem é iorubá e sua nação Ijexá: é deusa-mulher que renasce do ventre de Iemanjá, é deusa-menina filha preferida de Oxalá. Exaltando vaidade e beleza, Oxum é pássaro, é peixe, é a força da natureza e o poder feminino na sua mais profunda realeza. Ela, quando manifestada, apresenta-se vistosa, perfumada, enfeitada, admirando-se em seu abebê (leque-espelho). Seu gesto, sua dança, assim como a inocência de uma criança, reforçam nosso elo... Ora ieiê ô! Saudamo-la banhando-se, num ato singelo, vestida de branco e amarelo. É num sábado de lua crescente o melhor dia para lhe oferecer presentes. No balaio de Oxum vão pulseiras, perfumes, espelhos e até pentes... Mas não nos esqueçamos de bebidas, mel, flores, doces, frutas e do omolocum – um tipo de iguaria, também do agrado de Oxum. Associada a elementos de aspectos maternos e angelicais, “Oxum é a divindade mãe de muitos filhos e ligada miticamente à cabeça, símbolo do útero e do poder feminino de gestação”. Rege o ventre, o parto e cuida das crianças recém-nascidas nos primeiros passos de sua evolução. No culto de origem africana, Oxum é mãe de Logunedé – rei das matas e das águas doces. No âmbito dos terreiros, seus filhos e filhas alcançam destaques em vários “cargos” (funções rituais). São Odu Oxê, ialorixás, ogãs, iabassê, iátebexê... São muitas as ialorixás de Oxum e numerosas as que se destacaram no panorama das religiões afro-brasileiras. Suas ialorixás São sua memória, Preservam seu fundamento e sua história. Mãe Menininha do Gantois, É uma que, no culto aos orixás, Seguiu sua trajetória. Aqui, o sincretismo religioso enreda-se pela maternidade e mistérios como seu tema. Oxum fertiliza-o e apresenta-nos como um poema: Sou Oxum! Mãe, deusa da boa hora. Façam de um samba, A minha oração. Como a doçura de uma aurora Dou-lhes minha benção: Sou Oxum! Vossa Padroeira, Sou Oxum! Nossa Senhora da Conceição. Carnavalesco: Júnior Pernambucano Pesquisa e texto: Marcos Roza Glossário: Olorum é o Senhor Supremo. Oxumarê é deus do arco-íris. Iansã é a deusa do vento. Xangô é o senhor da justiça e dono dos raios. Oxum é a nossa homenageada: a mãe da água doce. Odudúa significa o nascimento dos iorubás. Axé representa a força e a energia do orixá. Iorubá representa a origem dos orixás. Orixás são deuses africanos que correspondem a pontos de força da Natureza. Oxogbô é o nome da cidade, na Nigéria, onde fica o “Templo de Oxum” e onde, anualmente, acontece o Festival de Òsún nas margens do rio do mesmo nome. Larô é o nome do rei que protagoniza a lenda de criação do “Templo de Oxum” em Oxogbô. Ataojá é nome recebido pelo rei Larô após o pacto com o rio. Ele conduz o cortejo em homenagem Òsún no país de Iorubá – durante as comemorações à mãe d’água. Aiê significa Terra. Exu é deus-orixá do caminho e mensageiro dos orixás. Jogo de búzios é uma das artes divinatórias das religiões de tradição africana. Obá é uma das esposas de Xangô. Ogum é deus da guerra e do ferro. Oxossi é rei das matas. Orunmilá é o deus da adivinhação. Iabá representa os orixás femininos. Oió é o reino de Xangô. Ijexá é o nome da nação e do ritmo preferido de Oxum. Abebê é o leque-espelho de Oxum. Ora ieiê ô é uma saudação a Oxum. Significa “ore” (bondade), “ieiê” (mãe ou mamãe) e “ô” interjeição exclamativa. Balaio de Oxum é uma cesta de presente destinada a Oxum. Omolocum é comida de Oxum. Feito com feijão fradinho bem cozido, mexido até ficar com consistência pastosa, ao qual se acrescenta um refogado de azeite de dendê, cebola ralada, camarão seco moído e sal. Logunedé é filho de Oxum com Oxossi, é rei das matas e das águas doces. Odu Oxê é o zelador da casa de santo. Ialorixá é a zeladora espiritual. Ogãs têm a função de tocar os atabaques e demais instrumentos da orquestra ritual. Iabassê é responsável pela cozinha da casa de santo. Iátebexê é quem tira as cantigas dos orixás no momento das festas. Mãe Menininha do Gantois era filha de Oxum e uma das sacerdotisas mais respeitadas do culto afro-brasileiro da Bahia. Sincretismo religioso é um fenômeno que consiste na absorção de influências de um sistema de crenças por outro. Isto ocorreu no Brasil, por exemplo, quando os escravos africanos cultuavam seus orixás associando-os aos santos católicos. |
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