Sinopse União da Ilha 2010
D.
Quixote de la Mancha... o cavaleiro dos sonhos impossíveis (União da Ilha -
2010)
"Num lugar da Mancha, de
cujo nome não quero lembrar-me, vivia um fidalgo. Tinha em casa
uma ama e uma sobrinha. Orçava em idade, o nosso fidalgo, pelos
cinquenta anos. Era rijo de compleição, seco de carnes, enxuto
de rosto, madrugador e amigo da caça...
É pois de saber, que este fidalgo, nos intervalos que tinha de
ócio, que eram muitos, se dava a ler livros de cavalaria com
tanto empenho e prazer, e era tanta paixão por essas histórias,
que chegou a vender parte de suas terras para comprar livros de
Cavalaria. O que mais admirava era os "Os quatro de Amadis
de Gaula", primeiro livro de cavalaria que se imprimiu na
Espanha.
E o pobre cavaleiro foi perdendo o juízo. Sua imaginação foi
tomada por tudo o que lia nos livros - feitiçarias, contendas,
batalhas, desafios, amores e disparates inacreditáveis. Foi
assim que acudiu-lhe a mais estranha idéia , que jamais ocorrera
a outro louco nesse mundo. Pareceu-lhe conveniente fazer-se
cavaleiro andante, em busca de aventuras e viver tudo o que havia
lido sobre o assunto".
Assim começa a saga de um cavaleiro que se tornou imortal.
Escrito por Miguel de Cervantes, a princípio era uma crítica
aos romances de cavalaria. Porém sua importância foi além dos
limites que imaginara. É considerado o primeiro romance da era
moderna e escolhido como o melhor livro já escrito até os dias
de hoje.
Voltando ao nosso herói, ele escolheu um nome, Quixote de la
Mancha, batizou seu magro cavalo de Rocinante, tomou um vizinho,
lavrador pobre e bastante simplório, como seu fiel escudeiro. E
para cavaleiro andante nada mais lhe faltava a não ser uma dama.
Foi então que se lembrou de uma aldeã por quem já fora
enamorado, embora ela nunca tenha sabido, chamada Aldonza
Lorenzo. Pôs-lhe então o nome de Dulcinéia del Toboso.
Assim, armado e montado em Rocinante, acompanhado pelo escudeiro
Sancho Pança montando seu burrico russo, Dom Quixote resolve
sair em busca de aventuras, que devo dizer não foram poucas.
Investiu contra os moinhos de ventos, achando que eram gigantes,
obra do grande feiticeiro Fristão, tomou rebanho de ovelhas por
exércitos inimigos, e fez o mesmo com uma manada de touros. De
um barbeiro, levou-lhe a bacia dourada, pois achava que era o
elmo de Mambrino, colocou-a na cabeça e esta bacia passou a
fazer parte de sua indumentária enferrujada e antiga,
pertencente a seu bisavô.
Enquanto Dom Quixote se aventura pelo mundo, sua sobrinha,
ajudada por amigos, resolve destruir todos os livros de cavalaria
dele e bloqueia a porta do seu escritório, para parecer que esta
sumira como que por encantamento. No afã de leva-lo de volta
para casa, o noivo da moça se disfarça de cavaleiro da Branca
Lua e desafia Quixote para um torneio. Caso ele perdesse, teria
que se refugiar em casa por um período de um ano, esquecendo-se
das aventuras de cavaleiro andante.
Quixote é vencido por seu oponente e, como era fidalgo de
palavra, volta para casa, para júbilo de todos, e aos poucos vai
recobrando a sensatez e esquecendo-se das aventuras do grande D.
Quixote de la Mancha.
"Quixote encanta pela loucura da luta por ideais dos quais a
razão desistiu. Os humanistas domesticados pela razão cínica
viraram técnicos em acomodação".
Quixote, como Cervantes, foi-se em agitação criativa e penúria
material. Quatro séculos após a sua vinda, restam o quixotesco
de anedota, frases divertidas, fugaz admiração. Do ideal,
apenas a glória do derrotado. Venceu o pragmatismo de
Sancho.
Mas vale a pena ler, quimeras são sempre divertidas, a infância
ou a loucura ainda mora na essência das nossas almas
quixotescas...
"Sonhar,
Mais um sonho impossível
Lutar
Quando é fácil ceder
Negar quando a regra é vender...
Voar num limite improvável
Tocar o inacessível chão".
Rosa Magalhães
Carnavalesca
Bibliografia consultada:
- Dom Quixote de la Mancha - de Miguel de Cervantes -
Ilustrações de Gustave Doré - Tradução - Viscondes de
Castilho e de Azevedo - Lello e irmão editores - Porto - 2
volumes - s/data
- Dom Quixote de la Mancha - de Miguel de Cervantes, tradução
de Ferreira Gullar - editora Revan - 2002
- Artigo - Quatro séculos do maluco beleza - Alcione Araújo -
Revista Argumento número 8 pág 117
- Sonho impossível - Musical Mano of la Mancha - de Dale
Wasserman, Joe Darion, Mitch Leigh - tradução Chico Buarque de
Hollanda.