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ENREDO
2012 Justificativa A
Mocidade Imperiana ergue alto seu
pavilhão, pisando forte o chão da passarela virtual
fazendo o
caminho de volta a 1816, ano da chegada da Missão
Artística
Francesa à corte de D. João VI no Rio de Janeiro
Imperial. A
capital tropical de seu império, de tradição
barroca e
colonial, precisava de ares civilizatórios. Em meio ao conjunto
de obras e realizações o monarca mandou trazer da
França a
corte artística que antes servira a seu inimigo Napoleão,
após
sua derrota em terras européias. Era necessário criar no
Rio de
Janeiro uma atmosfera erudita para que a nobreza pudesse
desfrutar.
A função dessa elite artística era implantar uma estética oficial; um modelo de ensino regulamentado, apadrinhado pela coroa portuguesa. Uma "missão civilizatória", criadora de uma versão institucional para as práticas artísticas, uma linguagem estética oficial. "Se fez cumprir a Missão: fundação da Escola Real de Ciências, Artes e Ofícios" Na bagagem veio o estilo neoclássico, base tradicional da academia francesa. A força do Império deu status a essa corte de profissionais, que deveriam começar do zero a formação da primeira Escola de Belas Artes na América Latina. Chefiados por Joaquim de Lebreton, elaborador do primeiro estatuto da academia, cerca de 40 profissionais desembarcaram na capital do império português. Dentre os nomes mais expoentes temos Jean Baptiste Debret (pintor de costumes e documentarista), Nicolas Antoine Taunay (pintor de gênero e batalhas), Grandejan de Montigny (arquiteto) e August Marie Taunay (escultor). O grupo ainda contava com gravadores, músicos, ferreiros, mecânicos, serralheiros, curtidores e carpinteiros. Todos motivados a desbravar o novo mundo e dar início a uma nova corte artística. Em 12 de agosto de 1816 é fundada a "Escola Real de Ciências, Artes e Ofícios" por decreto de D. João VI. Dez anos mais tarde era inaugurada a primeira sede da escola, projetada por Grandejan de Montigny, arquiteto da missão. A presença da missão iria mudar definitivamente a cidade e o império, criando uma atmosfera de requinte e sofisticação a corte instalada no Brasil. Salões anuais revelavam o trabalho dos mestres e das primeiras gerações formadas pela academia. Prêmios especiais davam a chance dos melhores alunos conhecerem estúdios na Europa. O Rio de Janeiro estava mais perto do clima do velho mundo. O trabalho dos artistas seguia uma normatização restritiva, que determinava fortemente os conceitos técnicos de suas obras e as temáticas a serem exploradas: passagens bíblicas e mitológicas eram assunto preferencial de telas e esculturas; retratação de temas históricos exaltavam a grandeza do império. O currículo dos alunos incluía ainda estudos avançados de anatomia com aulas de modelo vivo, desenho e pintura de retrato, paisagem e natureza morta, história da arte, composição e perspectiva. "Brasil à francesa" Pelas ruas da capital, Debret retratava o cotidiano de negros escravos, mucamas e senhoras, festejos religiosos e o entrudo. Os diferentes tipos e costumes ganham cores na pincelada rápida do cronista visual, que imortaliza em documentos o imaginário daquela época. Tudo parecia pitoresco e inusitado aos olhos curiosos do artista. Graças ao seu trabalho, hoje temos um significativo repertório da diversidade do Rio de Janeiro de D. João VI. "A primeira geração" Com o passar dos anos a academia vai consolidando sua força como principal centro da formação cultural brasileira. As primeiras gerações de artistas formados pelos professores franceses começam a mostrar seu valor. Nomes como Manuel de Araújo Porto Alegre, Pedro Américo e Vitor Meirelles se destacam na realização de grandes obras históricas que narravam glórias e conquistas do Brasil. A influência do romantismo trás a figura do índio como herói nacional às telas, influenciando o gênero indianista. O olhar euro-centrista do império sobre as colônias também acaba por influenciar o orientalismo na academia como ferramenta de afirmação da superioridade cultural ocidental. "Ao olhar para si, o caminho da ruptura" Somente no final do século XIX iniciam-se as primeiras transformações no sentido de aproximar a academia do Rio de Janeiro da realidade cultural brasileira, mesmo que de maneira tímida. Com a chegada do pintor alemão George Grimm vindo da Europa para lecionar na cadeira de pintura de paisagem, o olhar da arte começa a se voltar para o contexto nacional. Encantado com a luminosidade tropical e com a exuberante flora brasileira, Grimm toma a iniciativa de levar seus alunos do interior do atelier para o contato direto com a observação da natureza. Fora dos espaços acadêmicos, dos dogmas da escola e debruçados sobre a natureza, passavam a desenvolver um olhar investigativo sobre a sua própria realidade. Surge a Escola do Ar Livre, onde se destacou o pintor Antônio Parreiras. É importante frisar que a pintura de paisagem sempre foi vista pela academia como uma coisa menor; junto com a natureza morta, a pintura de paisagem era considerada uma etapa necessária a formação do artista como estudo. Com essa nova postura, esse novo olhar sobre a natureza do Brasil, os pintores alteravam o foco de sua observação: a paisagem deixa de ser fundo das composições e passa a ser objeto de trabalho, trazido ao primeiro plano das obras. Esse simples ato desencadeou um processo de busca por retratar essa nova nação que surgia; um sentimento de construir uma face brasileira para academia, tão fortemente firmada em preceitos franceses. É a primeira ruptura com o rigor da academia. Após a queda do império e o surgimento da república a escola vai passar por profundas transformações. "Novas idéias: sopro de modernidade na academia" Já no século XX, ventos modernistas vindos da Semana de Arte Moderna de 1922 em São Paulo começam a soprar na direção do Rio de Janeiro. A própria semana histórica foi um manifesto contra o domínio cultural da academia carioca. Apesar da resistência de mais de um século de domínio neoclássico, gradativamente a academia vai abrindo espaço para discussões sobre novos caminhos e possibilidades plásticas. Artistas que retornavam ao Brasil após anos tendo aulas em estúdios europeus proporcionados por prêmios de viagem, traziam em suas bagagens novas linguagens. No velho mundo, novas correntes já tinham ampla disseminação. Esses artistas retornavam a academia com o título de professores, e , naturalmente, transmitiam os novos conhecimentos adquiridos em suas experiências. A Escola de Belas Artes começa a caminhar na direção de se aproximar do sentimento de retratar a identidade nacional. Era preciso redescobrir o país nas obras em geral. Almeida Júnior, o núcleo Bernardelli, Georgina de Albuquerque, Oswaldo Goeldi, Emiliano Di Cavalcanti e Cândido Portinari são alguns dos nomes mais importantes desse processo. O negro, o caipira, os tipos brasileiros mais comuns vão substituindo ao longo dos anos os temas épicos e religiosos. A partir desse período os caminhos vão se abrindo e a mentalidade começa a mudar. É hora de buscar uma matriz nossa, com a cara do Brasil. A estética mudou. As técnicas mudaram. Os temas mudaram. Nossa gente e nossa cultura se tornam objeto de estudo e reflexão dos artistas e intelectuais. Com o passar dos anos a academia foi se transformando, sem jamais abrir mão de sua importância e seu papel. "Belas Artes, belos carnavais: A Apoteose da arte" Finalmente acontece o grande encontro: nos anos 60 um grupo de alunos da Escola de Belas Artes é levado pelo professor Fernando Pamplona para estagiarem nos barracões das escolas de samba do Rio de Janeiro. Toda bagagem conceitual desenvolvida pelos anos de estudo das tradições acadêmicas encontra fluência nas práticas do universo carnavalesco. A partir desse momento os desfiles de carnaval iriam ganhar contornos de grande arte. Enredos mais elaborados, figurinos requintados, alegorias maiores vão transformando o cortejo carnavalesco num espetáculo de repercussão internacional. As escolas viram plataforma de expressão para esses artistas, que inauguraram um novo formato de espetáculo, mesclando arte popular e conhecimento acadêmico. Vários nomes se destacaram desde então nessa nova era do carnaval. Apesar de alguns deles não terem necessariamente estudado na Escola de Belas Artes, a iniciativa de Pamplona norteou toda uma geração: Arlindo Rodrigues, Maria Augusta, Rosa Magalhães, Fernando Pinto, Max Lopes, Joãozinho Trinta e Renato Lage ilustram esse período de expansão das possibilidades estéticas do carnaval, influenciado pelos conhecimentos oriundos da academia. O clássico e o popular encontram abrigo no carnaval do Rio de Janeiro. A Escola de Belas Artes foi determinante para os maiores processos de transformação da identidade artística nacional desde a sua fundação. Desde a chegada da Missão Artística em 1816 até Marquês de Sapucaí, o tempo moldou a academia e abriu suas portas à cultura nacional. O barracão da escola de samba é o grande atelier do século XXI, onde arquitetos, pintores, desenhistas, figurinistas, realizam todos os anos a "missão" de criar e recriar a fantasia do carnaval. Fica a grande questão: A academia mudou o carnaval, ou carnavalizamos a academia? Não importa: é hora de celebra a "Academia Popular"; o templo do samba vira tela para a Mocidade Imperiana e a Escola de Belas Artes pintarem o carnaval. SINOPSE POÉTICA (direcionada especialmente aos compositores) Considerações: O objetivo dessa versão do enredo é mostrar um aspecto mais lírico do enredo, agregando plasticidade poética à pesquisa histórica. Esse formato é apenas um apontamento de possibilidades de construção a partir do tema apresentado. Mas a liberdade criativa de cada artista deve prevalecer na hora de construir sua obra. Sintam-se a vontade para criar! Esse trabalho é apenas uma referência, um ponto de partida para o raciocínio construtivo. O texto base (o enredo histórico) é a melhor fonte de pesquisa para o desenvolvimento dos sambas. Um ponto importante do enredo é que ele não se limita a uma exposição linear da história da Escola de Belas Artes. A proposta é mostrar como a escola de base francesa foi se moldando a realidade brasileira, agregando valores da cultura nacional e vindo a desencadear um grande processo de transformações do carnaval como um todo, unindo o mundo acadêmico ao mundo do carnaval, através de seus nomes mais importantes. Qualquer dúvida sobre o enredo pode ser tirada diretamente com o presidente e com o carnavalesco a qualquer momento através dos e-mails waltergcoelho@hotmail.com e jorgeluizts@gmail.com respectivamente. Teremos enorme prazer em trocar idéias sobre o samba. Desejamos boa sorte a todos os compositores e bom trabalho! "A Mocidade segue os passos da Missão, Abrindo as portas na história, Voltando ao Brasil de D. João, Buscando a arte civilizatória. Pelas mãos do Monarca português, A primeira escola de arte assim se fez, Em terras brasileiras, de tradição colonial e barroca, Atendendo os anseios da coroa. Com a sublime tarefa de expandir a arte clássica, O Rio de Janeiro se torna o centro da cultura erudita, Da estética oficial e normativa, Regida pelos manuais institucionais da academia. Surge a imagem de um Brasil europeu, em cores de todos os tons, Chefiados por Joaquim de Lebreton. Os mestres vindos do estrangeiro, Plantam as bases de uma grande escola, Ícone da cultura do cenário brasileiro, Atravessa os tempos, e muda nossa história. Com a leveza da aquarela, Sob a luz tropical do dia Debret registra em papel e tela, O novo mundo mestiço que surgia. De geração em geração, Seguindo o rigor da academia, Ilustrando essa jovem nação, Uma nova elite surgia. O clima dos salões anuais da academia, Inebriava a corte com luxo e beleza, No Rio de Janeiro nascia, O esplendor da arte da realeza. Passo a passo a arte tradicional, Regida pelo padrão do manual, Deixa vislumbrar a luz tropical, E se encanta com nossa natureza sem igual. Ventos vindos de terras paulistas, Sopram ares de modernidade na academia, Fomentando os desejos de jovens artistas, De registra o novo Brasil que surgia. É hora de buscar a nossa matriz, É a semente da transformação, Indo de encontro a nossa raiz, Ganhando os contornos de uma nova nação. Mais que testemunha da história, Registrando momentos de glória, A escola de Belas artes sempre foi pioneira, Agente transformadora da cultura brasileira. Pelas mãos Pamplona, mestre sem igual, Surge a ponte definitiva, Unindo o mundo do carnaval Com a arte erudita. Unidos por uma mesma linguagem, fundidos em uma só imagem, A arte universal e o espetáculo do carnaval. Segue o cortejo magistral, Nessa noite especial, Unindo a beleza do carnaval, Ao panteão da arte nacional. A arte uniu os mundos distantes, Transformando a academia, Em cores fascinantes, Irradiando alegria. O templo do samba vira tela, Para Mocidade pintar em aquarela, Erguendo alto seu estandarte: A Escola de Belas Artes"
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