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A Epopeia da Aridez
SINOPSE ENREDO 2019

A Epopeia da Aridez


SINOPSE DE ENREDO

No solo pouco profundo do sertão, a vida torna-se rasa. No cenário pedregoso, água é fruto raro, valioso. Em meio às plantas que armazenam o pouco refresco que cai dos céus, Chico Bento e Cordulina tentam manter irrigada a esperança de futuro para seus três filhos nos espinhos do sertão. Entre rios que correm tímidos bailando entre as pedras, é a luta pela sobrevivência que dita o ritmo da existência. É preciso evocar aos Santos piedade e acreditar nas bênçãos que fecharão as chagas.

Impiedosa! Cerra o flúmen que restavaem seu tímido filete. Definha o gado, moribundo, sob oque sobra do juazeiro que resiste em mais um lote do chão rachado de Quixadá.Dos céus, nenhum sinal de clemência. Mas é preciso força, e fé, para chegar do lado de lá, além dos monólitos que preenchem a paisagem e separam o sofrimento do sertão da esperança dos jardins da capital. Sonhos tecidos por tapetes verdes e pontos coloridas, onde nada falta e tudo lhe é suficiente.

Chico, tu que és Bento, tire a poeira dos olhos secos que tanto te maltrata e siga com os segredos da escuridão com Cordulina e sua linhagem. O chão parecerá sem fim e o horizonte se prolongará ainda mais a cada passo, mas ajuntemos trapos, velhos, e partam com fé em busca de refresco.

O sol desce no horizonte. É hora de partir!

Cavalos pedreses agora são apenas cor da noite. Lamparinas viram grão de areia na vastidão do horizonte e pela estrada, carcaças e dor. Dor que saciará a fome e será seu acalanto.

A escuridão será implacável e toda precaução ainda não será suficiente. Na tortuosidade do caminho de terra, os galhos retorcidos da caatinga alertam sobre os perigos: transpor os paredões de pedra, defender-se de animais peçonhentos e, mais que isso, lidar com a fome. Sob a luz da lua, nada é o que parece. Nesta viagem, dividas o pouco que tem e comas tu a carcaça antes que a terra o faça. Tire do gotejo do jamacaru o que te brindaráos lábios. Como num tropeço, Chico, perderás seu primeiro braço: o ronco do estômago ecoará pela caatinga e a dor cegará os olhos de um dos teus.

A cada açude seco, uma reza, e a cada reza, a renovação da fé. De súplica em súplica, a condução ao encontro da esperança.

E quando a noite parecer não ter mais fim e os ricos te recusarem migalhas, encontrarás no monte a força para fechar as chagas dessaguerra que parece perdida. Ao avistares o moinho, a revoada de guacamaios guiará ao meu encontro. Eu, São Francisco das Chagas, com uma das mãos os abençoo e com a outra te indico a direção: “siga em frente até encontrar o campo”.

A viagem perdura e quando o dia começa a dar sinais, brilha o descampado de beleza, harmonia e sossego. Oásis do sertão!Embrenham-se nos ramos e desfrutam da maciez das pétalas coloridas do santuário. É tempo de descanso! Recolhem as cabeças e vêem, no vai-e-vem dos retirantes, a serenidade dos que encontraram a graça. Ali, brota do chão o alimento farto que satisfaz e não mata. Jorra das flores a seiva que sacia a sede e não há disputa. Brilham os olhos de quem havia perdido as esperanças pois, enfim, é tempo de degustar as delícias do sertão e da terra que não queria ser deixada para trás. Um campo repleto de amor!

Neste grande quintal florido, de onde cada um tira seu sustento, sobra compaixão enquanto a colheita é preparada para ser repartida. Todos plantam, todos colhem. Todos vivem! A água não jorra ao leo, mas há o líquido para todos. Importante para não ser desperdiçado. Ali, realizados, Bento e Cordulinaveem mais um dos seus partir. Com o básico para uma vida digna garantido, aqueles que deslumbram uma vida diferente pela frente saem em paz em busca de seus sonhos mais amplos. Resta apenas o caçula e, por ele, a luta.

Ali, em meio à ordem e à paz, tudo seria perfeito se não fosse a saudade do sertão. Aperta o peito. Dói! Plantar e colher. Dar de comer aos animais. Servir o que saiu de suas mãos e alimentar o teu abrigo. Só resta rezar. Com a barriga satisfeita, no tempo pediam que a benção caísse para remir o povo sem identidade. Esperar com fé que São Francisco lave as chagas deixadas pelo destino. E ele não falha! O ciclo vai recomeçar e está na hora de voltar para casa…

                                                                                                                      FIM

Carnavalesco: André Rodrigues

Texto e Pesquisa: Flávio Magalhães