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A Coroação de um Povo Nordestino nas Terras de São Cristóvão
ENREDO 2014

A Coroação de um Povo Nordestino nas Terras de São Cristóvão

Apresentação do enredo:

"Oxente"! Não se "avexe" meu povo e chegue mais! Hoje a União da Gávea vai contar um história, não uma simples história, mais uma história de Cordel...

Então deixe de "Parangolé", puxe um banco e venha imaginar e viajar conosco pelo fascinante sertão brasileiro, deixa a Gaivota te levar em suas asas num vôo "arretado", desbravando o conto de um povo que não se deixa abater pelas dificuldades e crê na esperança de um futuro melhor...

É nessa "resenha", que começa nossa saga nordestina...boa viagem!

 

Sinopse:

No agreste brasileiro onde o sol brilhava forte, vivia uma corte nordestina! Um povo feliz, que não se preocupava com nada que pudesse estragar tal felicidade. Entre passeios pelo sertão, festas e arrasta-pés, tudo era motivo para comemorar...a terra farta, a beleza do reino, os animais, a fauna e flora exuberante, o premiado pavão misterioso que abitava os jardins da realeza.

Porém um dia, o mal apareceu na forma de três perigosos dragões. Não eram simples dragões, eles chegaram trazendo a seca, a fome e a morte. A corte já não tinha mais o brilho natural, a terra já não era mais farta, os animais começavam a morrer, a seca rachava o solo e o reino já não era mais tão belo assim. Até o pavão misterioso havia fugido daquela "pindaíba" e os "Carcarás" anunciavam a morte.

O Rei mandou ao campo de batalha seus poderosos soldados, herdeiros do legado de Lampião e Maria Bonita, porém, mesmo lutando neste chão repleto de "calangos", os valentes guerreiros não foram páreos para as terríveis criaturas. Sem escolhas e vendo seu reino desmoronar com as desgraças que caíra sobre o agreste, o Rei então, ordenou que seu conselheiro viajasse sertão a fora para procurar uma nova terra, na esperança de recomeçar e reconstruir seu reino longe das tais bestas.

Assim como a flor do "Mandacaru", que mesmo na seca nunca deixa de brotar e na fé em "Padim" Padre Ciço, o conselheiro partiu rumo ao sudeste do Brasil. Passou por diversos lugares, conheceu culturas diferentes, mas foi em terras cariocas que o conselheiro encontrou um pedacinho de chão especial pra o tal recomeço tão sonhado pelo rei e seus súditos. Feliz, ele regressou ao Nordeste para dizer a boa nova a corte: havia achado um novo lar, um pedacinho de chão para erguer um novo castelo, um lugar chamado São Cristóvão! Um lar abençoado pelo padroeiro do lugar, não poderia ser melhor escolha. E lá foram eles, não haviam carruagens luxuosas. Seus transportes eram a boleia de um caminhão e o lombo dos jegues que carregavam a esperança e a fé de um povo.

A corte então passou a ser uma caravana de retirantes e seguiram em procissão para o Rio de Janeiro, mais precisamente, as terras de São Cristóvão. Chegando por aqui, muito trabalho os esperavam. Reencontraram com nordestinos que já habitavam o local e juntos começaram a erguer um novo castelo do qual recebeu o nome de "Feira".

Não uma feira qualquer, mais um lugar que mostraria ao Rio e ao mundo as tradições de suas terras que não foram esquecidas mesmo com as ameaças da seca, da fome e da morte. Então foi preciso expandir, mais antes o tal reino precisava de um novo nome, algo imponente, forte, com jeito de cabra da peste!

O Rei decidiu então nomear o lugar com o nome daquele que mais representava o nordeste no Brasil e no mundo. Uma homenagem do rei do agreste para o rei do Baião. Fundou-se assim o "Centro Luiz Gonzaga De Tradições Nordestinas", um lar que orgulha até hoje seu povo, sua gente.

Começaram a erguer-se as barraquinhas da feira. Vieram as barraquinhas do artesanato, com os bonecos e vasos de barro inspirados nas artes de metre Vitalino, as rendas e retalhos, os trabalhos feitos com palha e bucho, os fuxicos, as namoradeiras de argila. Tudo quanto é tipo de arte feita a mão por quem mais entende do assunto: o povo nordestino!

Vieram também as "quituteiras" da corte, e por aqui montaram suas barraquinhas de comidas típicas como a tradicional buchada de bode, o vatapá, o acarajé, o bobó de camarão, os doces cartola, pé de moleque e doces de leite. Como não esquecer de provar as frutas do sertão e seus deliciosos sucos naturais, a marvada pinga, entre outras bebidas típicas. Os livros de cordel e o folclore popular também ganharam seus espaços na feira, representando a arte escrita, falada e inventada, porque não?!

Com todas as barraquinhas em seus devidos lugares, o novo reino já estava pronto para ser "inaugurado" porém faltava a alegria, o som, o ritmo do lugar! Começou o forró, os sanfoneiros chegaram junto com os repentistas para alegrar a noite do lugar, a zabumba e o triângulo anunciavam o início do arrasta-pé. Tudo era festa na corte novamente.

Lá pelas altas horas da noite, o baião rolava solto, quando chegaram a turma do frevo e do maracatu para animar ainda mais o grande "baile" da corte. Estrelas e balões salpicavam o céu, erguiam-se bandeirinhas coloridas, viva São João! Cada um com seu par, a quadrilha prestes a começar! Pula a fogueira ioiô, pula fogueira iaiá, para animar ainda mais a noitada, tinha casamento no arraiá!

E se você quer saber como termina o nosso conto é muito simples, ela ainda não acabou... a feira de tradições nordestinas continua viva até os dias de hoje. Se você quer conhecer, não perca tempo e vá agora, pois a cada ano que se passa essa corte nordestina reescreve sua história!

 

fim...

fim não "homi", apenas uma pausa pro café, pra mode a gente "prosear"!

 

Clayton Gomes

Carnavalesco

 

Glossário de palavras nordestinas usadas no texto acima:

OXENTE - interjeições de espanto (corruptelas de "oh, gente!")

AVEXE - Não se acanhe, não fique tímido

CHEGUE MAIS - Venha cá.

PARANGOLÉ - Conversa fiada, falar besteiras sem nexo, falar sem sentido

ARRETADO - muito bom, excelente, maravilhoso

RESENHA - resumo, história

PINDAÍBA - passando por uma situação difícil.

CALANGO - o mesmo que lagarto do sertão

CARCARÁ - pássaro que se alimenta da carniça de animais mortos

PADIM - o mesmo que padrinho

MANDACARU - flor do sertão que nasce em cactos, mesmo em época de seca

QUITUTEIRAS - o mesmo que cozinheiras, as que fazem quitutes

HOMI - o mesmo quem homem

PROSEAR - o mesmo que conversar