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Sinopse Dendê 2008

Lendas à Brasileira, com Sabor de Manga e Cheiro de Jasmin (Acadêmicos do Dendê - 2008)

"Não se faz literatura sem tradição popular. Em todos os países do mundo há lendas, apólogos, costumes, superstições, tudo unido à tradição popular, fazendo parte da alma e da essência de um povo, princípio de suas inspirações e base de sua literatura.

As lendas são narrativas fantasiosas transmitidas pela tradição oral através dos tempos e no Brasil, elas têm o sabor de uma fruta do mato, o cheiro agreste da flor mais viçosa, a fantasia colorida com as tintas da nossa selva, o encanto de um primitivismo tropical.

Saber contar uma história é uma arte. Mas contar histórias com tamanha identificação entre o narrador e os acontecimentos é só para quem nasceu na terra e a ama porque, "só ouve o brado da terra / quem dentro dela veio a nascer".

Assim, a literatura encontrará no folclore a genialidade não apenas de um indivíduo, mas a de um povo inteiro.

A memória de nossas lendas, mágicas e encantadoras, permanece viva e pulsante no olhar carinhoso e no gesto solitário de cada brasileiro que um dia vivenciou este cotidiano prazeroso.

Porta-vozes do processo de criação e protagonistas da nossa história, todos têm suas marcas docemente guardadas na alma de nosso povo, onde vamos encontrar os mitos que a engrandecem."

Severo Luzardo Filho
Carnavalesco


SETOR I

"A verdade popular, nem sempre ao sábio condiz.
Mas há verdade serena, nas coisas que o povo diz."

Os mitos e lendas brasileiras andam pelos lares de nosso povo assustando e fazendo a imaginação voar. Às vezes, estão em vários lugares diferentes ao mesmo tempo. Os nomes podem variar e algumas características também, mas suas histórias e aparições não morrem. A cultura folclórica no Brasil possui um repertório de lendas ligado às coisas da natureza, misturado às crendices dos brancos católicos, negros africanos e índios nativos.

A beleza de nossas lendas iguala-se a beleza das penas da cor do céu da Gralha Azul que voa célere para os pinheirais. Tão bela e alegre que seu canto passou a ser verdadeiro alarido que mais parece vozes de crianças brincando. A Gralha Azul voará com nossa comunidade neste carnaval e, ajudante celeste, levará nossa escola triunfante aos caminhos da glória.

Em quase todas as nossas lendas, está presente o amor...Sim esse amor misterioso, essa entrega de sentimentos que permeia o imaginário popular.

O sedutor Boto Rosa, logo ao cair da noite, se transforma em bonito jovem, bom bebedor, bailarino perfeito que, aparecendo como um cavalheiro onde haja baile ou festa, conquista e encanta a primeira jovem bonita que encontra e a leva para o fundo do rio. Daí que o Boto é considerado pai de todos os filhos de paternidade ignorada.

A Lenda do Sol e da Lua conta que primeiro nasceu o sol, Guaraci. Um dia ele precisou dormir e quando fechou os olhos tudo ficou escuro. Para iluminar a escuridão enquanto dormia, ele criou a lua, a bonita Jaci, e imediatamente apaixonou-se por ela. Mas quando o sol abria os olhos para admirar a lua, tudo se iluminava e ela desaparecia. Criou, então, o amor, Rudá, seu mensageiro que dia ou noite, podia dizer à lua o quanto o sol era apaixonado por ela. Criou também muitas estrelas, para que fizessem companhia a Jaci enquanto ele dormia.
A história do Negrinho do Pastoreio o menino escravo que, por ter deixado os cavalos fugirem, foi açoitado e acorrentado junto a um formigueiro é uma protagonista entre as nossas lendas, e lindamente igual, encontramos A Cidade Encantada de Jericoacoara, Barba Ruiva e Corpo Santo.

SETOR II

"Um povo que cultiva lendas, frutas no pomar e flores no jardim."

A Salamanca do Jarau fala do amor entre um sacristão e uma princesa moura encantada, a Teiniaguá. Ela o salvou da morte e juntos foram morar em uma salamanca (gruta mágica) no cerro do Jarau. Quem conseguir entrar e sair desta gruta ficará com sorte no amor e no dinheiro.

Pedro Malasartes, é um mito nacional. Herói preferido da gente simples. Tradicionalmente esperto, escorregadio, pai de todas as artimanhas, enganos, seduções e astúcias. Sai sempre ganhando dos que lhe são superiores.

Outros mitos muitos conhecidos do nosso folclore são a Cobra Grande (uma imensa cobra, também chamada Boiúna, que cresce de forma ameaçadora, abandonando a floresta e passando a habitar a parte profunda dos rios), e o Mapinguari que ataca mais durante o dia e só aparece em dias santos. Ao correr, o Mapinguari solta gritos para atrair os caçadores e poder devorá-los com sua boca imensa.

A busca do ouro e pedras preciosas escaldou a mente de muita gente em tempos idos em nosso Brasil. E o medo deu asas à imaginação. O fogo-fátuo, que se desprende da ossada dos animais mortos, cria a Mãe do Ouro, o Boitatá dos índios, que corisca no céu. Ela vive no meio da pedraria preciosa e, de sua cabeleira luzente, vão caindo dela pingos de luz pelo chão.

Mas o melhor ainda está por vir: uma Serpente Emplumada que vive escondida no fundo de uma caverna, em Bom Jesus da Lapa, na Bahia e As Mangas de Jasmim de Itamaracá contando que no ano de 1631, vivia na Capitania da Paraíba, Antônio de Saldanha, encantado com a beleza de D. Sancha Coutinho (donzela de quinze anos, que aspirava a honra de a receber por esposa). Negada a mão da jovem, ele marcha para o campo da guerra e anos depois reaparece nessa província, mas trajando o hábito de sacerdote. D. Sancha, abatida de saudades, reconheceu o seu amante e morreu subitamente.

Sobre seu sepulcro, o sacerdote plantou uma mangueira, de cujos frutos provém as mangas de jasmim, tão celebradas pelo seu aroma e delicado sabor.

E tem também o mito de Chico Rei, que com os demais escravos escondiam nos cabelos o ouro fino. Dessa forma, Chico Rei se torna um homem abastado, conseguindo ouro suficiente para comprar a liberdade de seu povo, tornando-se dono da mina e respeitável entre os portugueses.

No Reino das Pedras Verdes só existiam mulheres: As Amazonas. Muito trabalhadeiras e exímias caçadoras. Na noite de luar recebiam os visitantes masculinos de outras tribos. Era noite nupcial. Meses depois, se nascesse um filho, ia viver com o pai, se fosse uma filha, ficaria com a mãe.

O Papa Figo, ao contrário dos outros mitos, não tem aparência extraordinária. Parece mais com uma pessoa comum que carrega um saco e que sofre de uma doença que seria o crescimento anormal de suas orelhas.

A Lenda do Arco-Íris. Depois da inundação, alguns índios Kayapós, acharam algumas mandiocas boas e comeram com o peixe. Quando foram beber água, lhes apareceu o Arco-íris que se transformou em uma mulher e disse: "Quando quiserdes água, devereis pedir-me."
A Iara é um dos mitos mais conhecidos. É uma linda mulher que exerce grande fascínio nos homens, pois aqueles que a vêm banhar-se nos rios não conseguem resistir aos seus encantos e atiram-se nas águas. Os que sobrevivem, voltam assombrados, falando em castelos e reinos mágicos.

Diziam as pessoas que moravam na região ribeirinha do rio Afuá que, nas noites de luar, aparecia um Navio Encantado todo pintando de branco e cheio de redes vazias. Porém, não se via ninguém a bordo e toda vez que alguém se aproximava, ele desaparecia.

SETOR III

"Histórias retiradas do fundo das lembranças, para recordar o passado sem esquecer o futuro."

Animadas e coloridas são as lendas da Comadre Fulôzinha (uma caboclinha pernambucana, ágil, com olhos escuros e lampejantes), e do Saci-Pererê (negrinho, perneta, sempre pulando numa perna só, capuz vermelho vivo enterrado na cabeça, às vezes fazendo o bem e outras, o mal).

De sustos e medos temos Matita Pereira, uma velha assombrosa, toda vestida de negro, que anda acompanhada de um pássaro agourento, e a Missa dos Mortos.

Conta-se que numa noite o sacristão viu luzes na Igreja e foi investigar. Viu que o templo estava cheio de fiéis e lustres acesos. Viu ainda que o padre e os coroinhas que se preparavam para celebrar a missa eram esqueletos vestidos e a porta que dava para o cemitério escancarada.

Com a nossa cara, Macunaíma surgiu para retirar do passado todos os elementos nacionais, através da mitologia e do folclore, e do presente, os principais problemas sociais e a linguagem popular. É a representação do povo brasileiro em busca de sua identidade, e o muiraquitã, que é o objeto de desejo do personagem, é a representação dessa tão procurada identidade.

Um novo Macunaíma, um novo Curupira, uma nova Mula Sem Cabeça contam-nos mais que simples lendas. Estas narrativas míticas são tesouros escondidos por todos os recantos deste país.