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Eu vi Deus, ela é Negra! (União do Parque
Curicica - 2019)
Eu Vi Deus, ela é negra! é uma grande homenagem a todas as mulheres negras das periferias do Brasil. Vamos narrar a história das mulheres que desde o início da nossa história são discriminadas por serem mulheres, negras e pobres. Essas mulheres persistem na luta por liberdade, igualdade social, paz, reconhecimento e representatividade.
Eu vi Deus, ela é negra! Ela nasceu abençoada por Deus e pelos Orixás. Ela é símbolo de existência e religiosidade. Eu vi Deus, ela é negra! Divinamente seu ventre gerou um filho, que com violência lhe foi retirado e enterrado por uma sociedade que crucifica a cor da sua pele. Eu vi Deus, ela é negra! Ela queria a liberdade, correu nas matas e no asfalto. Ela sofre na pele o preço do enfrentamento. Eu Vi Deus, ela é negra! Ela é voz e presença frente aos seus opressores. Ela é resistência! Eu vi Deus, ela é negra! Ela luta por justiça e direitos iguais entre homens e mulheres. Ela quer igualdade racial e social. Eu vi Deus e ela é negra! Ela rompe preconceitos, vai além dos padrões e convenções. Ela segue resistindo para existir. Eu vi Deus, ela é negra! Ela faz a arte imitar a vida. Ela conta a sua história. Eu vi Deus, ela é negra! Ela é Oxum chorando em seus rios. Ela é Iemanjá, a sereia do mar. Ela é Nanã, a dona da sabedoria. Ela é Iansã, segura essa ventania. SINOPSE Mulher negra, Por que se esconde de mim? Será que busco em ti um retrato Como aqueles preto e branco Hoje, todos coloridos. Mulher negra O que há em ti? Que foge de meu olhar reducionista Mulher e outrora negra, Outrora lésbica, outrora albina Mulher negra Pensei em ti Mas ao abrir os meus olhos Aquele quadro que pintei Já não existia Mulher negra Se espalham, se multiplicam Dancem rap ou talvez nem dancem E este substantivo singular A aprisionar milhões de outras mulheres Poderiam estar nos terreiros Em quilombos Nas universidades Mas indago Me pergunto, onde estão As outras? Aquelas vozes que não foram habilitadas Mulheres negras São tantas, tão múltiplas Que me inquietam Sabe, as vezes me fazem calar Tenho medo de falar bobagens Quando me calo É para que as minhas palavras Não as sufoquem ainda mais! Cristiane Mare. SINOPSE EU VI DEUS, ELA É NEGRA! Vejo Asase Yaa, Samba Kalunga e Oyá a inspirar o protagonismo de mulheres da cor de ébano, a exemplo das guerreiras que lutaram contra a escravidão. A violência não foi somente física, mas, também, espiritual. Não bastava obter a força de trabalho em prol do projeto colonizador. A estratégia consistia em soterrar as memórias trazidas da mãe África, produzindo ESQUECIMENTO. A resistência se dava mesmo através de uma aparente sujeição, como na incorporação da religiosidade católica e a formação de irmandades de devoção mariana, nas quais as mulheres negras desempenhavam papel fundamental. As irmandades eram lugares de acolhimento e proteção aos irmãos, escravizados ou libertos. Solidariedade própria às sociedades africanas! Era como se, à sombra de um imponente Baobá, elas pudessem abrigar e cuidar de seus filhos, nutrindoos com a seiva da vida, o conhecimento ancestral. Palavra e ação em benefício das comunidades. “Egbé Gèlèdé”! EU VI DEUS, ELA É NEGRA! Sinto a dor dilacerante das minhas ancestrais, atadas a grilhões invisíveis, alijadas de exercer o direito à educação. Uma luta que é de gênero, mas, também, é de cor. A cor preta nunca ocupou espaço merecido na escala cromática das carteiras escolares no Brasil. Estudar, nessas condições, significou e continua a significar um ato de resistência. Nossas heroínas intelectuais desabrocham mesmo em terreno hostil! Várias são as mulheres negras representantes deste importante segmento, que abarca escritoras, educadoras e pesquisadoras que contribuem para o desenvolvimento do pensamento brasileiro. A palavra, aqui, é o canhão capaz de remover as barreiras erigidas pelo etnocentrismo, abrindo espaço para o avanço de uma legião de mulheres negras, ávidas em aprender para ensinar e, assim, transformar. EU VI DEUS, ELA É NEGRA! Ouço, por fim, vozes que falam e encantam, extravasando uma beleza singular, que transcende o físico, propagando-se por meio de ações engajadas dentro dos movimentos políticos, sociais e culturais. Inspiradas e inspiradoras, as Oxuns seguem ladrilhando o caminho para as novas gerações, dando-lhes o sentimento de pertencimento; afinal, representatividade importa, sim! O labor árduo e contínuo contra o preconceito faz vítimas, que morrem, mas vivem em cada uma que fica. Assim, progressivamente, os espaços vão sendo ocupados e ressignificados. Feministas, orgulhosas de suas origens, empoderam-se para empoderar, alimentando um círculo virtuoso que, almejamos, não tenha fim. Negras e belas mulheres, PRESENTES, sempre! Ideia original: Roberta Rosa; Pesquisa e texto: Leonam Lauro Nunes da Silva; Carnavalesco: Wagner Gonçalves. Referências Bibliográficas: ARRAES, Jarid. “Heroínas Negras Brasileiras – em 15 Cordéis”. São Paulo: Pólen, 2017. CABRAL, Sérgio. “Escolas de Samba do Rio de Janeiro”. São Paulo: LAZULI Editora / Companhia Editora Nacional, 2011. CENTRO CULTURAL CARTOLA. Dossiê “Matrizes do Samba no Rio de Janeiro – Partido Alto, Samba de Terreiro, Samba-Enredo”. Rio de Janeiro: Centro Cultural Cartola, 2015. CENTRO CULTURAL CARTOLA. “A Força Feminina do Samba”. Rio de Janeiro: Centro Cultural Cartola, 2007. COUTO, Mia. “A Confissão da Leoa”. São Paulo: Companhia das Letras, 2012. DAVIS, Angela. “Mulheres, Cultura e Política”. São Paulo: Boitempo, 2017. FERREIRA, Felipe. “O Livro de Ouro do Carnaval Brasileiro”. Rio de Janeiro: Ediouro, 2004. GIASI, Yaa. O Caminho de Casa. Rio de Janeiro: Editora Rocco, 2017. MÜLLER, Maria Lúcia Rodrigues. “A cor da escola – imagens da Primeira República”. Cuiabá: Editora da UFMT/ Entrelinhas, 2008. MUSSA, Alberto; SIMAS, Luiz Antonio. “Samba de enredo: história e arte”. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2010. NIGZI ADICHIE, Chimamanda. Meio sol amarelo. São Paulo, 2017. RIBEIRO, Djamila. O que é lugar de fala? Femininos Plurais. Belo Horizonte: Editora Letramento, 2017. SIMAS, Luiz Antonio; FABATO, Fábio. “Pra tudo começar na Quinta-Feira: o enredo dos enredos”. Rio de Janeiro: Mórula, 2015. |
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