Sinopse Curicica 2009
Lendas,
mistérios e magias. Não creio, mas... Sei lá né? (União do
Parque Curicica - 2010)
Eu hein!!! Quanto mais eu rezo,
mais assombração me aparece...
Desde pequeno já ouvia cantigas de ninar que eram assustadoras,
do tipo: "Boi da cara preta..."; "Se não dormir a
Cuca vai pegar"...?! E ainda tinha uma tia gorda que dizia:
"não vá pra rua, moleque, que o bicho-papão te
pega"! Uma grande maldade com uma pobre criança indefesa. E
isso foi ficando marcado em minha cabeça. Desconjuro!
Por toda a minha infância ouvia vovó contar várias histórias
macabras do nosso folclore. Ela me falou de Boitatá, Boto,
Curupira, Lobisomem, Mula sem cabeça, Saci... Com isso acabei me
acostumando e até gostando de ouvir esses contos sinistros.
Afinal, é nossa cultura e temos que preservá-la. Uns acham que
é lenda, outros acham que existe realmente. Bom, prefiro não
achar nada... Mas que assusta, assusta!
Cresci e nunca entendi muito bem certos mistérios, como
aparições de fantasmas que estiveram sempre ligadas aos
espíritos dos mortos ou pessoas que afirmam terem visto
criaturas do outro mundo. Será que existem mesmo ou será que
são apenas mais alguma invenção do homem com sua mente
extremamente fértil? Lembro da noiva que vagava pelos
cemitérios, da mulher que aparecia no espelho do banheiro da
escola! Que Medo! Mas que dá um certo prazer em viver o
misterioso, isso dá!
Existem outros mistérios que habitam minha mente, como, por
exemplo, a superstição e sua origem. Como será que tudo isso
começou a influenciar a vida do homem? Com certeza, essas
práticas que existem hoje têm sua origem nas antigas religiões
da Assíria, Babilônia, Egito, Grécia e Roma.
Pensando bem, acho que não sou tão supersticioso, mas não me
arrisco a certas coisas, como: Sair de casa na sexta-feira 13,
passar em baixo de escada, cruzar com gato preto. (Não gosto nem
de olhar!!!) Mas medo eu tinha mesmo era quando passava em minha
rua um amolador de facas. Não é por nada, mas... Sei lá, né?
É melhor evitar e bater na madeira para afugentar possível mau
agouro. Aliás, bater na madeira três vezes é tão comum que
já faz parte do dia-a-dia da gente: "Pé de pato mangalô
três vezes" e vamos que vamos!
E quando minha mãe me levava à feira, corria logo para ver
minha sorte no realejo, apesar de não acreditar muito nessas
coisas, mas sempre achei bonitinho ver o pássaro trazendo a
mensagem.
Definitivamente, não acredito mesmo! Mas gosto de me precaver um
pouco trazendo comigo alguns amuletos para me proteger e me
trazer sorte. Não uso muita coisa não, só um crucifixo junto a
uma figa que gosto de carregar no pescoço, um chaveirinho com um
pé de coelho (dizem que é muito bom), algumas fitinhas de
santos e um pequeno patuá. Ah, já ia me esquecendo, carrego
também na carteira um trevinho de quatro folhas. Mas tem gente
que é muito supersticiosa, e até em casa usam objetos que
acreditam que irão protegê-las, como ferradura, elefante, olho
de boi, carranca, pirâmide e o Buda sentado num prato cheio de
moedas. E em seus jardins não podem faltar algumas plantinhas,
tipo "espada de São Jorge", "comigo ninguém
pode", "arruda", "pimenteira", entre
outras tantas. Ô, gente cismada!
Simpatias sim, isso eu faço e não tenho vergonha de dizer,
principalmente na virada do ano. Tenho sempre a esperança de um
novo ano próspero, com mais saúde, mais dinheiro e mais amor.
Falando em amor, outro dia minha mulher me confessou que estamos
juntos porque ela cravou uma faca na bananeira! Golpe baixo! E
hoje eu tenho que aturar minha sogra... Brincadeirinha!
E por falar nisso, bruxas existem, garante a sabedoria popular.
Dizem que são velhas e más, voam em vassouras à noite,
principalmente em noite de lua cheia, fazem feitiços e
transformam as pessoas em animais. O que sei é que têm uma
aparência horrível, verruga no nariz, cabelos esvoaçantes e
uma gargalhada apavorante. Cruz credo, me dá um frio na espinha
só de pensar! Dizem também que quando querem enfeitiçar,
preparam poções mágicas em enormes caldeirões usando
ingredientes, como asa de morcego, rabo de rato, patas de sapo...
Que nojo!
Mas na sabedoria infantil, aquela que temos aos três anos e
meio, vemos que crianças gostam de bruxas, gostam das histórias
e do medo que tem ao ouvi-las.
Eu, na ignorância que só temos depois de perdermos a sabedoria
da infância, tenho alguma dificuldade em compreender esse
terrível gosto. Já tentei por diversas vezes, nas histórias
que conto, convencê-las que as bruxas más deveriam se converter
à bondade e que houvesse um final feliz. Mas elas não gostam de
final feliz. Falta emoção!
O tal do Halloween chegou ao nosso país através da grande
influência da cultura americana. E por estar relacionado, em sua
origem, à morte, resgata elementos e figuras assustadoras. São
símbolos comuns desta festa: fantasmas, bruxas, zumbis,
caveiras, monstros, cabeças feitas com abóboras, gatos negros,
morcegos... Viva o "fantasminha camarada"!
No delírio da Curicica, surge uma grande poção mágica que vem
enfeitiçar o público com arte, arrepio e uma pitada de bom
humor. Xô, olho gordo! Nosso samba espanta qualquer mau-olhado,
nossa alegria contagia até o além! E acendendo uma vela, tenho
a certeza de que faremos um carnaval inesquecível!
Pois, como já disse, não acredito em nada disso! Mas não custa
nada dar uma forcinha ao destino!
Amauri Santos e Paulinho do Ouro