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Menino Silas (Unidos de São Cristóvão - 2021) Quem
diria que aquele menino sentado a porta observando tudo que passava
estava com o destino traçado a mudar o mundo. Aquela rua onde
tudo passava era acompanhada pela íris preta que dava sinais de
uma alma inquieta por querer ser muito.
Sonhava alto escorado no batente, quem lhe dava calor era a lua, quem lhe trazia paz eram os ruídos dos batuques proibidos. Noites de tambores na velha serrinha. Ah doce Serrinha… ao longe, vista do alto, Madureira e Vaz lobo, meu povo. Batuques ecoavam pelas serras, a cada morro um som, uma afinação, era isso que ia formando a cabeça do menino que dobrando a língua se estendendo as pontas dos dedos fazia seu próprio ritmo entre madeiras ocas e maciças, o som da vida estava em suas mãos. “Samba, oh samba Tem a sua primazia De gozar da felicidade Samba, meu samba Presta esta homenagem Aos “Heróis da Liberdade”” Jovem Jornaleiro, menino contido, andou pelos montes coroados do Rio, em seus caminhos encontrou a luz do sol: Mano; seu parceiro, era o calor que completava a lua com fulgor de novos ares, novos dias, novos sons. Sem a benção do pai, fora do caminho que ele lhe planejou, seguiu o seu próprio rumo em direção dos batuques. Cercado de pecado, abraçado ao diabo que dançava feito gente preta em noite de tambor. E foi se encontrar nos caminhos do Prazer. O prazer da serrinha lhe completava a alma de sambista, Era isso, aquele menino resolveu ser do samba. As pontas dos dedos desenhavam caminhos para as melodias de Mano, a cada traço uma palavra, a cada palavra um sentido, a cada sentido formado: um novo samba. “Porque alguém que me olha de banda Eu sou mesmo do samba E não vou me atrapalhar Segura a conversa sem desanimar, iáiá Porque mais tarde Conversaremos em outro lugar” Certeiro tal ponteiro, a prosa boa de samba do menino foi conversar em outro lugar. Suas palavras bordaram um novo manto junto a outros tantos. Coisa boa que a serra lhe deu foi atitude e consciência. A serra sempre lhe soprou o valor de ser preto e o quanto custa cada escolha, mas principalmente o poder em escolher e ele escolheu o Império. Mais um menino que nascia as ruas da serra, batizado pelo jongo ouvindo o zumbido dos tambores. Império, “menino que já nasceu rei” e deu ao nosso menino o nome e cara de SILAS DE OLIVEIRA. E Silas deu ao Império nome e cara de ESCOLA DE SAMBA. Se o pai do nosso menino Silas sonhasse com o que ele faria, seria imperiano também e dançaria sem pudor “Glórias e graças da Bahia” em louvor a rainha do mar, Yemanjá. Bahia, Bahia Terra do Salvador Iaô, iaô, iaô Gegê, nagô, gegê, nagô Saravá, saravá Yerê, yerê de abê ocutá Em louvor à rainha do mar Iemanjá, Iemanjá A inquietude do menino que sentado a porta observava tudo passar na sua rua o levou a mudar tudo e mudou. Menino Silas dos caminhos, das serras, das canetas e melodias, batuques em madeiras, noites estreladas e calor da lua fez o povo cantar no cortejo da festa do samba o tal Samba de Enredo. Era uma nova tela a ser pintada em notas musicais. “Vejam esta maravilha de cenário é um episódio relicário que o artista num sonho genial escolheu para este carnaval” Foi o menino que nos fez cantar uma maravilha de cenário, palavras e melodias que nos fazem desenhar uma aquarela em nossas mentes. Silas, menino travesso em suas músicas traçou em 1964, um novo brasil que só renasceria muitos anos depois ainda manchado pelos infortúnios a partir daquele ano. Mas, na feliz coincidência da inspiração do menino, nasceu naquele mesmo ano na serra de São Cristóvão pelos caminhos Imperiais a união verde e branco tal qual seu Reizinho. Malandramente falando pelos decretos do samba colocados nos versos do nosso menino Silas, hoje a Unidos de São Cristóvão homenageia este que foi o maior poeta dos sambas de enredo de todos os tempos. Pai de seu padrinho, a unção divina que transmite ensinamentos e valores. Menino Silas, os teus caminhos ainda nos inspiram, e se precisar vamos renascer para nunca deixar morrer este teu doce legado aos nossos ouvidos e aspirações. Pintaremos um novo cenário para um próximo carnaval afirmando que ele nunca vai morrer. “Carnaval, doce ilusão Dê-me um pouco de magia De perfume e fantasia E também de sedução Quero sentir nas asas do infinito Minha imaginação” |
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