Sinopse Cosmos 2010
De pés no chão também se aprende a ler, Cosmos conta essa história popular (Unidos de Cosmos - 2010)
Altaneira e intrépida a Unidos de Cosmos pede passagem e sob os raios do sol de
um novo alvorecer que se anuncia, convida-lhes para que abram seus corações,
fechem seus olhos e venham conosco ouvir essa história popular, contada por esse
simples homem que a viveu, e que a partir d'agora a vocês se
apresenta.
... Sou mais um pobre, como tantos outros pobres desse país,
de pele morena da América ferida sem cicatriz, pobre como os pobres da beira da
estrada ou das escadas da matriz, sou mais um pobre brasileiro de pés no chão,
que escolheu o mar para trabalhar e dele tirar seu sustento.
Sou um
simples, pescador Potiguar, que hoje venho contar esta história popular,
história de um povo que clama pelo direito de existir, de ver o mundo sem as
vendas do analfabetismo e sem a opressão daqueles que lucram com a ignorância do
povo. História de quem não esperou, pois quem espera jamais alcança.
É
preciso coragem para mudar. E isso teve o prefeito Djalma Maranhão e seu vice
Luiz Gonzaga dos Santos, Moacyr de Góes e Luiz da Câmara Cascudo e tantos outros
homens e mulheres desta terra, anônimos ou não, que promoveram, incentivaram e
realizaram um dos mais brilhantes projetos sócioeducacionais que este país já
assistiu, promovido na cidade de Natal, Rio grande do Norte, no período de 1960
a 1964.
Ainda posso ver da minha jangada a imagem desses heróis,
verdadeiros bandeirantes da educação deste país, caminhando por minha Natal, de
onde moinhos de vento sopram e revelam reis magos com suas coroas de globos de
luz, surgidos das dunas de sal, guiados pelo brilho cintilante da estrela guia,
em meio a essas falésias de arenito avermelhado pelo sol, embarcarem numa grande
aventura. A de educar gerações de brasileiros, despertando-os para o mundo,
induzindo-os a conhecerem as primeiras letras, os primeiros números, fazendo-os
ver o mundo, dando, à crianças, homens e mulheres, jovens e adultos, às Marias e
Josés o direito de existir de fato como verdadeiros cidadãos.
E sob
tetos de palha de coqueiro. Acampamentos escolares eram erguidos no lugar de
prédios escolares convencionais, por conta da falta de recursos. A vida dessa
gente humilde não era preenchida somente com educação formal, mas também com
arte e poesia, como os pueris folguedos da infância (brincadeiras de roda,
amarelinha, e jogos de bola). A verdade é que este projeto foi além de uma
proposta alfabetizadora. Ele alcançou o nível de uma política educacional,
aliada à valorização da cultura, dos autos populares e da iniciação
profissional. Era comum a formação acadêmica, dividir espaço com as aulas de
artesanato em cerâmica, e de tecelagem de redes de pesca e renda, com a
apresentação de teatro de bonecos, os famosos mamolengos da região, assim como
autos populares, manifestações folclóricas, temperadas sem dúvida com muito dos
ritmos locais, que agrupavam professores, alunos e coordenadores do
projeto.
A Campanha "DE PÉ NO CHÃO..." enfrentou uma das muitas barreiras
comuns ao sistema público educacional brasileiro, o da alimentação, a merenda. E
como tudo no projeto o problema foi resolvido com criatividade e competência. Os
estudantes começaram a plantar em pequenas hortas e criavam animais em pequenas
granjas, de onde garantiam boa parte dos alimentos que eram complementados com
doações que vinham de pequenos colaboradores do projeto.
O resultado foi
um sucesso, até o inicio de 1964, em conseqüência da Campanha "DE PÉ NO CHÃO
TAMBÉM SE APRENDE A LER" o índice de analfabetismo na cidade de Natal era
praticamente inexistente comparado a outras regiões do país.
Com golpe
militar no Brasil, abolindo o projeto, cassando os direitos do povo, ateando
fogo nas escolas de palha e prendendo seus lideres e colaboradores nos cárceres
militares.
E hoje, olhando para este mar e vendo essa história ser
contada, sabendo que este brilhante projeto de educação popular ainda vem sendo
adotado em escolas do MST, e atravessando oceanos e dando frutos pelo mundo
afora, em lugares como Timor Leste, países da África, levando a esperança onde
só há opressão.
E agora olhando novamente este mar, peço a estas sábias
senhoras, mães sereias do mar, que ouçam as minhas orações junto desta aguerrida
Escola de Samba, que traz em seu manto o verde da esperança e o branco da paz e
que ao longo de sua história sempre defendeu os direitos sagrados do povo.
Que hoje, aqui cantando e sambando, com lágrimas nos
olhos de emoção e com os pés no chão, eu peço que sigam levando este sonho pelo
mundo abordo desta jangada, rumo ao futuro, pois quando o amanhã chegar possamos
ver o direito sagrado da família humana de acesso à educação e à cultura serem,
finalmente respeitados e protegidos pelo império da justiça e da lei, impedindo
o homem a se rebelar contra a sociedade como ultimo recurso.
Dessa forma
esse amanhã que vislumbramos será sem duvida de paz e fraternidade.
Autores do enredo: José Geraldo dos Santos, Raphael Abraão e Ricardo Castellare
Carnavalesco: Raphael Ladeira