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O voo do Colibri para quem tem olhos de sentir
SINOPSE ENREDO 2021

O voo do Colibri para quem tem olhos de sentir

De uma flor a outra, Eu-Colibri voo em um zig-zag tão rápido que mal se consegue acompanhar. Aprendi a ludibriar os olhos mornos, mas nunca vibrei sem cativar com ternuras compungentes qualquer coração. Se uma alma fosse, seria uma poetisa amiga vasculhando as belezas, doçuras, e acidez mordaz de flores furtivas. Seria a inquietude pacífica do voar silencioso, um anjo cansado de mistérios guardar. Um artista a tracejar no vaivém desenhos para o imaginário criativo do artista que se propõe a viajar no tempo.
Pousado numa linda flor, ergui-me para novo voo. Este é inspirador, projetado para um pretérito bem distante, em busca da primeira forma de expressão. E percebe-se o homem paleolítico e neolítico que, para se comunicar, deixou marcado em rochas e cavernas sua necessidade de sobrevivência – plantas, animais, representações de seu mundo.

E o bater de asas deste colibri errante nos leva à antiguidade. E lá no Egito e Mesopotâmia, a proposta da arte para a eternidade tem seu nascedouro. A imagem deveria reproduzir aquilo que representava não com base na realidade, mas sim por meio de elementos fundamentais de uma pessoa. Daí as figuras humanas serem desenhadas dentro de convencionalidades de forma e em linhas horizontalizadas. Por sua vez, na Antiguidade Clássica, os princípios eram da beleza, harmonia e do equilíbrio; sempre buscando relacionar o Homem com o divino, com o mundo e sua gênese.

E num rodopio-voar, eu transfigurado em Colibri-Pincel fiz girar as ampulhetas do tempo. E não é que a Europa ganhou poderio econômico dando origem a uma arte propriamente europeia? Os altares, oratórios e túmulos surgem como elementos de hierarquização da vida, tornando-se elementos essenciais à criação artística. As imagens ganham status de símbolos cuja representação se relacionava ao conceitual e ao imaterial. Surgem as noções de perspectivas e de volumetria, reduz-se as formas planas em busca de uma expressão de moral, pedagogia e transcendência.

Voei mais um pouco e já Colibri-Gárgula, não pude deixar de lado a arte gótica que ganha vida nas catedrais, com os vitrais, grande riqueza cromática vindo a ocupar o lugar das pinturas murais. É o ressurgimento do realismo e da representação do espaço repleto de figuratização humana, elementos da natureza e apuro arquitetônico.

Salteando e carambolando ao voar, me desprego de um roteiro histórico para mergulhar em tempos mais recentes: trago uma arte da guerra e com contornos políticos e sociais para provocar a reflexão sobre as questões do mundo moderno e contemporâneo. Nas mídias impressas ganharam maior popularidade os quadrinhos e charges. Grandes cartunistas como J. Carlos, Lan e Ziraldo se notabilizaram; personagens passaram a fazer parte da vida mais cotidiana desde a mais tenra infância, seguindo pela vida inteira: Turma da Mônica, Snoopy, Mafalda, Calvin e Haroldo, além do universo dos super-heróis e dos mangás. Pelos museus do mundo e pelas grandes cidades, encontrei painéis como os de Portinari e Picasso. Refúgios artísticos muitas vezes em mosaico… E como esquecer da arte moderna de Tarsila e da singeleza da pintura Naif brasileira? É um universo de arte e culturas que se misturam e transbordam das academias ganhando parques, jardins e as selvas urbanas com os grafites e as artes de rua.

Ah, mas sou um colibri diferente… criei e revivi traços da pena, do spray, do carvão, do grafite, do pincel, do nanquim… Muitas e diversas são as linguagens utilizadas no universo da gravura, do desenho, da expressão visual.

Mas não posso deixar de bater minhas asas e dentre tantas marcas culturais, revelar a expressão popular de um povo lutador. Colibri-Sertanejo! Mas quando se fala em sertão, o imaginário remete invariavelmente a agreste, secas, aridez e isolamento. A literatura, neste caso, capta as marcas desse Ser para expressar uma sensibilidade que independe do espaço/tempo, ao criar um mundo em que o real e o imaginário assumem dimensões que mesclam palavras, sons e imagens. Poesia oral. Cordel nos folhetos. Poesia visual na xilogravura, marca entalhada desta poética tão viva em minha terra.

Mas em se tratando de tracejar para provocar o sentir, eu, Colibri-Folião venho louvar os grandes artistas da folia, desenhistas do carnaval, que dão asas à imaginação para criar todos os mundos possíveis e nos encantar por meio de suas alas e elementos alegóricos a cada ano. Ah, esta paixão que não tem fim… Emoção maior vivificada pela “Deusa da Passarela” tantas vezes campeã, que tem em seu pavilhão um beija-flor.

Esse sou eu. Um Colibri-Folião amante da arte e da cultura. Um colibri que se equilibra pela história da arte gráfica, tracejando, pontilhando, rascunhando a humanidade para quem tem olhos de sentir.

Um Colibri-Pierrot encantado pela arte-Colombina a brincar pelo salão do desenhar, no meio das multidões.

E quem quiser que em seu voar imaginativo conte outra história…

Referências:
https://papirofagos.wordpress.com/o-manual-de-desenho/evolucao-do-desenho-a-pena/ Acesso: 24/11/2020)
https://www.todamateria.com.br/historia-em-quadrinhos/ (Acesso 24/11/2020)
HAUSER, Arnould. História Social da Literatura e da Arte. Lisboa: Jornal do Foro, 1951.
ALMEIDA, Telma Rebouças. Verso e Reverso na Literatura de Cordel do Sertão da Bahia. Dissertação de Mestrado. Programa de Estudos Pós-Graduados em Literatura e Crítica Literária. PUC-SP: 2012.

Autor do enredo: Elídio Fernandes Júnior