Sinopse Colibris 2009
SINOPSE
ENREDO 2009
O
Mundo ao Toque do Botão
Autor
Willian Tadeu
Sinopse Compositores
Abra sua mente para aquilo que
as coisas pequenas da vida podem nos proporcionar. Ouça o que
tenho a dizer. Olhe para mim!
Sou inspiração de poetas, de
sambistas. Guardo o desabrochar das mais belas flores, a ternura
de muitos amores, o lirismo de muitas canções.
Enfeito muita gente pela história.
Sou ornamento e ganho as mais diversas formas. Mas também tenho
minha utilidade, quando sabem me usar.
Cobiçado, desejado, admirado.
Sonho de muitos, realidade de poucos. Opulência da nobreza,
simplicidade dos plebeus... me visto de muitas maneiras. Por isso
mesmo, me transformo em arte pelas mãos de artesãos,
marceneiros, tecelões e pintores.
Sou a luxúria de reis e rainhas.
Representei riqueza em formas, cores e materiais. Enfrento
batalhas, venço e sucumbo.
Chego às massas pelas mãos da
tecnologia. Acompanho homens, mulheres e crianças de todo o
mundo. Os mais apaixonados até em atleta querem me
transformar...
Ao me tocar, coisas mágicas podem
acontecer. Sou o bem e sou o mal. Sou o caminho para todo o
mundo, mas também posso ser seu fim.
Não esqueço jamais de me renovar.
Inspiro novos artistas, que encontram em minha multiplicidade o
caminho para seu trabalho. Porém, não sou apenas inspiração,
eu caio no samba também!
"Abram alas pro botão
passar!!!".
Conheça Hélio Leites:
http://www.youtube.com/watch?v=7JPKvR9KtZs
Conheça a Unidos do Botão:
http://unidosdobotao.blogspot.com/
Sinopse oficial
A poesia, a reflexão, a beleza, a
não-beleza, a feiúra, todas essas coisas partem, muitas vezes,
de coisas pequenas que, por serem pequenas, não são percebidas
freqüentemente. Foi assim que em Mangueira três poetas uniram
suas inspirações em uma bela página da história do carnaval.
O ano era 1936. A Estação Primeira ainda era uma criança.
Lá no morro, se percebia a
alvorada de uma escola de samba ainda em botão, começando a
florescer, reunindo a essência da poesia que o samba nos dá. Os
versos de Carlos Cachaça, Cartola e Zé da Zilda cantavam um
"primeiro amor / (que) morreu como a flor / ainda em botão
/ deixando espinhos / que dilaceram / o meu (sic) coração".
Quando nascem, botões viram flores. Viram rosas, as flores do
amor, que exalam o perfume que roubam da mulher amada. E o botão
do samba, ao contrário do primeiro amor cantado nos versos dos
três poetas, desabrochou na mais fina flor. Nossos poetas
partiram, mas novos botões de poesia florescem a partir das
sementes que eles deixaram e se nutrem dessa herança, pois
quando brilha o rosa da aurora verdadeira, "cada estrela
troca o céu pela bandeira da Mangueira".
Esses compositores deixaram como
principal legado a sensibilidade do olhar para as pequenas
coisas. Cantando botões de flores, me ponho cá com meus
botões, e proponho uma viagem diferente. Se esses botões
despertaram a sensibilidade desses poetas, o que outros botões
têm a nos dizer?
O botão mais presente em nosso
cotidiano tem milhares de anos de história. Na Fenícia e no
Egito Antigo, pequenos discos de ossos, ouro e argila eram usados
como ornamentação. Entretanto, o pequeno objeto ainda era
desprovido de uma utilidade prática mais significativa. Foi por
volta do século XIII que um gênio anônimo resolveu furar seus
botões, fazendo com que eles pudessem ser pregados às roupas e
chegassem aos usos que conhecemos hoje.
Com sua difusão, o botão de roupa
se tornou um atrativo estético e um meio de diferenciação
social e opressão. Os botões mais finamente trabalhados
custavam muito caro e a massa não tinha acesso a eles. Na
França, mesmo que se juntasse dinheiro para a aquisição de
botões requintados, um decreto real restringia aos plebeus o uso
de peças mais simples.
A opulência dos botões dos nobres
se dava por materiais e temas variados. Flores secas, conchas e
insetos (sob vidro) podiam ser tanto temas quanto materiais.
Outros temas freqüentes eram símbolos da nobreza, mensagens
românticas a serem decifradas e pinturas diversas. Além de
quadros, a pintura de botões era uma atividade lucrativa para
muitos artistas. Botões feitos em cerâmica eram gravados em
prata por habilidosos artesãos. Marceneiros sofisticados
esculpiam na madeira botões detalhadíssimos. Tecelões
produziam botões de seda fina.
Luis XIV, o Rei Sol, famoso pelos
excessos que cometeu no trono francês, distribuiu inúmeros
botões de ouro e diamante entre as amantes que mais lhe davam
prazer. Na Inglaterra, Charles I seguiu a tendência e decorou
lenços com botões semelhantes. Já os soldados de Napoleão
não tinham botões de materiais tão nobres quanto esses. De
acordo com algumas interpretações, uma das razões do fracasso
da campanha francesa na Rússia em 1812 teria sido as roupas
repletas de botões de estanho. Afinal, o material se esfarela
quando é exposto a baixas temperaturas. Sem botões para segurar
os tecidos, os soldados teriam ficado mais frágeis ao frio e,
com isso, sucumbido.
Os botões de roupa perderam parte
do seu poder de diferenciação social a partir de técnicas de
produção em larga escala, que levaram à simplificação dos
materiais. Para imitar as elites, verdadeiras "bijuterias"
eram fabricadas. Os botões passaram a estar presentes em
praticamente qualquer design de moda e a chegar a todos os
armários. Essas amplas difusão, popularização e
massificação, mais tarde, levaram à utilização de botões
soltos de roupas e perdidos no chão, de diferentes tipos e
tamanhos, a uma versão de mesa de uma paixão mundial: o
futebol.
Os avanços tecnológicos trouxeram
consigo um outro botão. Ainda pequeno, ainda pouco percebido,
mas com dimensões de poderes cada vez mais assombradoras.
Botões em casa, no trabalho, na rua, em todos os cantos de
nossas vidas. Até mesmo botões digitais! Basta pressioná-los
que mágicas antes inimagináveis agora acontecem. É o mundo ao
toque de um botão. Mas não se iluda! Se "eles"
apertarem um botão, o mundo acabou...
Se os botões de flores inspiraram
poetas do passado, um poeta de nosso tempo foi igualmente
inspirado, agora pela multiplicidade dos botões. Hélio Leites
usa artigos desprezados pela maioria das pessoas para criar sua
arte. Idealizador do Museu (móvel) Casa do Botão e da
Associação Internacional de Colecionadores de Botão
(Assintão), Leites transforma botões em arte, arte em
sabedoria, sabedoria em aprendizado. Carregando (literalmente)
nas costas o Museu, leva às pessoas o contato com as várias
faces do botão e com a arte e a beleza que podem surgir das
coisas mais simples que nos cercam.
Da Assintão, surgiu uma
agremiação carnavalesca. É a Ex-cola de samba Unidos do
Botão, que, desde 1991 espalha irreverência em diferentes
espaços da cidade de Curitiba. Munidos de cachecóis, diversos
artistas apresentam miniaturas de carros alegóricos em
sambódromos improvisados, geralmente abordando temas satíricos.
E tudo volta para onde começou. Do
pó ao pó. Da poesia à poesia. Do carnaval ao carnaval. "Abram
alas / pro botão passar / pro botão passar!!! / o botão não
é de rosa / o botão não é de ouro / o botão é de que? / o
botão é pra abotoar!".