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Circo Brazuca (Caprichosos - 2022)
Circo Brazuca (Caprichosos - 2022)

APRESENTAÇÃO

O mundo é um grande circo. E tá cheio de comédia, de drama, de tragédia, e muito palhaço trabalhando de graça

Mazaroppi

A Caprichosos de Pilares apresenta para o carnaval de 2022 um grande  espetáculo circense: O Circo Brazuca. Nosso enredo utiliza-se do circo como alegoria para pensar o Brasil. Não como uma metáfora depreciativa, como costumeiramente se faz, significando algo ruim ou simplesmente uma bagunça. Ao contrário: o circo é o lugar primordialmente da alegria e do encanto, mesmo com algumas atrações tenebrosas e tensas que também povoam o show. É deste país que vamos tratar: o Brasil que, apesar dos espetáculos assombrosos e das trapalhadas grotescas apresentadas por alguns de seus terríveis personagens, segue com a lona erguida pela força e esperança da sua gente.

O circo foi berço de muitos artistas brasileiros hoje consagrados. E sua utilização como metáfora para discutir o cotidiano é uma tradição em diversas representações artísticas de todo o mundo. Dos filmes de Fellini, Mazaroppi e Cacá Diegues aos diversos enredos do nosso carnaval; dos livros de poesia à música popular; nos programas humorísticos de TV e nos próprios espetáculos circenses; muitos artistas têm utilizado, ao longo do tempo, a estrutura do circo como base para reflexões importantes sobre a sociedade.

A Caprichosos de Pilares se une a essa tradição e retorna à sua própria história para realizar um enredo alegre e satírico. Para esse resgate, convidamos para assumir o honroso papel de apresentador desse espetáculo um artista e professor que é fundamental em nossa trajetória: o nosso eterno carnavalesco Luiz Fernando Reis, autor de alguns dos mais memoráveis carnavais de nossa escola. Luiz Fernando faz parte da história da Caprichosos de Pilares e nos deu a marca da originalidade, a partir de um tripé que sempre caracterizou seus enredos: populares, críticos e descontraídos, como ele bem definiu na sinopse do inesquecível carnaval de 1984, vencedor do Estandarte de Ouro de melhor enredo naquele ano: “A Visita da Nobreza do Riso a Chico Rei, num Palco nem Sempre Iluminado”. Foi nesse carnaval, inclusive, que conhecemos o personagem Brazuca, que hoje dá nome ao nosso circo. Seja bem vindo de volta, Luiz, será uma alegria homenageá-lo!

Esse desfile será uma homenagem também à cultura brasileira, tão desprezada pelo poder público atualmente, e a todos os nossos artistas, a quem esse país deve reverências e aplausos. Queremos homenagear especialmente aqueles que nos deixaram, como o nosso querido Ubirany, os mestres Nelson Sargento, Dominguinhos e Laíla, e, finalmente, Aldir Blanc, que deu nome à importante lei de apoio aos fazedores da cultura nesse momento difícil e a quem pedimos licença para trazer de uma de suas obras a grande estrela de nosso espetáculo.

Viva o circo, viva o samba e a cultura! Viva o artista brasileiro!

SINOPSE

Um grande circo – Grande Circo BRAZIL – Palhaços, Cascatas e Cascatinhas, Brazuca e seus amigos super-heróis, ao fundo “TIO SAM” e com ele o “S” trocado pelo “Z”; e como todo circo que se preza a corda bamba e nela um malabarista, um pouco gordo mas sugestivamente ali colocado.

Será que ele cai?

Luiz Fernando Reis, texto de apresentação do carnaval de 1984

Respeitável público! Digníssimas autoridades da corte do Momo! Ajeitem seus assentos, tirem as crianças e os cachorros da pista, acordem os jurados, preparem o gogó: o espetáculo vai começar! Preparem-se para muita gargalhada, muita emoção e um pouco de susto também. Vem aí o Circo Brazuca, mais uma produção da trupe Caprichosos de Pilares, que nessa noite honrosamente estende sua lona na avenida Intendente Magalhães, para conquistar mentes, corações e a chance de retornar ao palco de tantas glórias.

E o que que tem no circo Brazuca?

Tem palhaçada? Tem sim, senhor!

Tem marmelada? Tem muita marmelada, sim, senhor!

Confusão, pancada e gritaria? É o que não falta!

Tem deboche? A trupe manda avisar: se não tiver deboche, não chame Caprichosos!

Senhoras e senhores, meninos e meninas, um minuto de sua atenção…. Antes de começar o espetáculo, deixe eu me apresentar, para aqueles desavisados: prazer, moçada, sou o Luiz Fernando, o apresentador que vai conduzi-los nessa noite mágica no circo.

Sempre trabalhei para que essa trupe tenha uma identidade crítica, descontraída e popular. No nosso Brazuca, é o povo que conduz o show e assina a direção! E vamos começar, sem mais delongas, porque o tempo aqui é curto. Garanto que vão se divertir – e se não gostarem podem cobrar o ingresso de volta!

Para abrir o espetáculo, batam palmas para os saltimbancos. E eles são muitos! É tanta galhofada no Brazuca! Palhaços que fazem rir e palhaços que fazem chorar. Palhaços de terno, gravata e laranjas. Palhaços que alegram a vida de crianças, de doentes e das almas entristecidas. São mais de 210 milhões de palhaços saracoteando no salão, e de todos os tipos. Viva os palhaços (todos, menos alguns)!

Esse som contagiante é da nossa orquestra – e vejam como o povo dança conforme a banda toca. Nossos músicos recebem o público e anunciam para a cidade que o circo chegou! Junto deles chegam também as ciganas, prestem atenção no que cartas irão revelar: nem só de alegria vive o nosso espetáculo.

Respeitável público, é isso mesmo que vocês estão percebendo, a música mudou. Eu sei o que vem depois: muita realidade, pouca ficção; tensão, angústia e indignação; mas a gente encerra com uma grande risada porque é assim que se espanta o medo, rir é uma maravilhosa forma de resistir. Vem aí o show da dura realidade: malabaristas com seus pratos vazios, as domadoras de bestas-feras, os soldadinhos dos anos de chumbo, os motociclistas ferozes do globo da morte, que não para de girar. Vem chegando também o ilusionista: trago a saúde de volta em três dias (basta depositar seus 10% nessa cartola).

Senhor mágico, por favor, restaure a magia, transforme o ambiente, devolva-nos a luz – mas, por favor, deixe a conta do lado de fora.

O estalar do mágico mudou o clima. Pois agora olhem para o alto, vejam quem está chegando, por cima de nossas cabeças, a estrela-maior do nosso espetáculo, a nossa guia.

Lá vem a equilibrista. A esperança-equilibrista!

Lá vem ela, singela, decidida, passo a passo, como que dançando na corda bamba, com a pálida sombrinha em uma das mãos. À frente dela, abrindo seus caminhos, uma legião de artistas. Que linda cena: os artistas trazem nos braços a equilibrista, a esperança equilibrista! Ela sobe no palco e sabe que em cada passo dessa linha pode se machucar.

Azar! Segue ela em seu compasso, não ignorando os contratempos que a antecederam, mas ciente de que sua missão é atravessar a corda, chegar viva ao outro lado do picadeiro, indicar o caminho aos descrentes: vai passar! Vamos fazer a travessia! O show vai

continuar!

A esperança que caminha, que se move, é o combustível para esse espetáculo se manter de pé. Palmas, senhoras e senhores, para a equilibrista! Mais aplausos! Aplausos a todos os grandes artistas, do passado, do presente, do agora e de sempre, que brilham e dignificam o Brazuca! Batam palmas para mim também, por favor! Onde estão as palmas, que não estou ouvindo?

Amado povo, é uma pena, passou tão rápido e o espetáculo de hoje chegou ao fim. Mas ele não acabou! Em 2023, a gente abre novamente as cortinas, dessa vez nas cercanias da Praça Onze, lá no Centro da cidade.

Ó, saudade, ô…

Tem de ser equilibrista até o final. E suando muito, apertando o cabo da sombrinha aberta, com medo de cair, olhando a distância do arame ainda a percorrer – e sempre exibindo para o público um falso sorriso de serenidade. Tem de fazer isso todos os dias, para os outros como se na vida você não tivesse feito outra coisa; para você como se fosse a primeira vez. Do contrário, seu número será um fracasso.

Fernando Sabino

Autor do enredo e pesquisa: Bruno de Oliveira

Texto: Jader Moraes