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Na Minha Mão é + Barato (Caprichosos - 2015)
Na Minha Mão é + Barato (Caprichosos - 2015)

Numa transação feita a preço de banana, um índio vendia a um português, a madeira do Brasil – na base da troca – por um caco de espelho; ou, dizem os livros, por um punhado de quinquilharias de metal.

O negro – escravo, alforriado, ou recém-liberto – vendia uma penca de bananas por dez réis. O quindim – mel dos méis – na mão da mulata custava cinco vinténs. Assim, oferecendo mercadorias equilibradas sobre a cabeça, o negro assumiu a primazia do comércio feito nas ruas do Rio Colonial. A pretamandingueira ergueu o tabuleiro, e eis aqui, o pregão do mulato pregoeiro: “Quem vai querer? Quem quer levar? A fruta, o milho, a cana. Um doce pro sinhô, as flores da sinhá!”

O fato, é que o desfile humano do comércio ambulante manteve-se inalterado até a República despertar. No Rio, que amanheceu com o alvorecer do século XX, entrou na “dança” – ou melhor, parou na rua - o imigrante. Este, por sua vez foi garrafeiro, funileiro e jornaleiro. Foi o mascate. O dono das calçadas. O vendedor de um Rio Antigo. De uma cidade que ficou na memória. De um Rio, pago em tostões.

Hoje, ele tá na praia. E o mate com limão - do Arpoador ao Leblon - “tá custando cinco”. Tá na feira. Tá também no sinal que se fecha. Tá no mercado a céu aberto da Uruguaiana. Está no carnaval que virou comércio. Está na “banca” que Pilares monta e no anúncio do pagou levou:  Quem quer comprar um carnavalesco? Quem dá mais pra levar o mestre-sala? Alguém pergunta: - E quanto vale o respeito ao samba? – Digo que tá valendo pouco. Ou melhor, isso eu digo que não tá valendo nada.

Este enredo é dedicado à memória de Fernando Pamplona. “Artigo” de primeira, “peça” rara, “coisa” fina, e referência para esse que inicia.

Desenvolvimento, pesquisa e texto: Leandro Vieira.