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Fanatismo... Enigma da Mente
Humana (Caprichosos - 2013)
Carnavalesco: Amauri Santos
Pesquisa, desenvolvimento e texto: Marcos Roza Feito que ninguém antes achava ser possível: um “neurochip” agora é capaz de monitorar conversas entre células do cérebro... Curiosos! Personificamos o diálogo de uma rede de neurônios, numa linguagem carnavalesca, revelando os mistérios da mente humana. Entremos: Tudo arquitetado minuciosamente. Um suposto silêncio é interrompido! Numa forma poética, os hemisférios nos põem à prova, entre descargas elétricas e químicas tudo se renova. Um tom? Uma voz? Vozes! Ora fácil, ora sério, cada vez mais perto de descobrir o grande mistério... Esplêndido. Lá estão eles. Entre assuntos diversos, numa complexa rede de diferentes sistemas, na única sede de controle, o enigmático encéfalo, discutem sobre as inúmeras diferenças existentes entre cada pessoa. O que é o poder da mente humana? Questionam, em tom de protesto. Do hemisfério direito, responsável pelo pensamento simbólico e criativo, pronuncia-se, talvez o mais antigo dos neurônios: O homemse equilibra no fio do seu pensamento, sem que tenha asas, voa, e, sem limite, se aventura, segue à toa e, se possível, até sua identidade leiloa. Devemos orquestrá-lo como um ser que sente, pensa e age, quer pela razão, quer pela emoção ou fé. Começávamos a entender o comportamento humano como retrato das suas interrogações sobre a vida, o cosmos e a sua percepção do real e irreal. “Equilibrista, o homem se apodera dos seus sonhos, elabora, passa o mundo em revista”, seu conteúdo ri, chora, conquista... Um momento precioso. Falam da origem do Homem! Surgiu da ação divina! Não! É fruto da evolução biológica do Homo Sapiens... Categórico e controlando os ânimos, outro velho neurônio – manifestando-se do hemisfério esquerdo, responsável pelo pensamento lógico, intervém: Seja como for, o fato é que homem surgiu e, com ele, mesmo que numa categoria primitiva, vieram os símbolos, gestos, desejos e formaram-se cenários onde atuam e registram sua presença no tempo, através de comportamentos comuns ou não em várias civilizações e culturas. Conduzimos tudo o que passa com esses seres: biologicamente são iguais, quimicamente as reações orgânicas são as mesmas e de forma estrutural são idênticos. Mais o que demarca as diversas motivações psíquico-emocionais dos seres humanos, como forma de adoração ou de crenças absolutas, que os levam a desenvolver algum tipo de fanatismo? O velho neurônio se senta e segue sua explanação na tentativa de desvendar este grande enigma: O homem cria mitos, superstições ou ritos mágicos em torno de uma existência sobrenatural, inatingível pela razão, equivalente à crença num ser superior e ao desejo de comunhão com ele. Sua primeira aspiração fanática é o culto ao Sol. Nele, revela sua alegria de viver: caça, organiza-se, protege-se do frio e personifica o Sol, atribuindo-lhe a sua própria imagem na tentativa de aproximá-lo do seu cotidiano. Segue-o... E na lúdica permutação dos nomes próprios em deuses, o denomina “rei dos céus” (herói solar): Adônis, Freyr: soberano do reino da luz, Hórus: deus do horizonte, da terra onde nasce o Sol, Mitra: divindade indiana, Sol Vencedor, Huetsilopochtli: deus asteca, associado à alma dos guerreiros que acompanham o Sol em suas rondas diárias no céu, entre outros. O medo do desconhecido e a necessidade de sobrevivência estreita seus laços afetivos. Recria seus mitos. Usando-se dos saberes inexplicáveis: vida e morte, riqueza e sofrimento, luz e trevas, seus rituais assumem um papel cultural, além de aspectos mágicos e religiosos. Estabelecem cerimônias, cultos, sacrifícios e da forma mais diversa promovem todo tipo de oferendas e libações, seguido de cantos, danças, banhos de ervas, instrumentos, adereços e fundamentos, como conceito original de suas crenças. Assim, a significação ritualística do homem primitivo avança entre a descoberta do fogo no período paleolítico, os ritos de procriação e fertilidade humana das diversas tribos africanas, os de contemplação da morte, como dos índios bororos - primeiros habitantes das terras mato-grossenses - até as crendices e supertições que deram origem às simpatias de um povo divertido denominado “brasileiro”. Flashes de luz! Um neurônio é atingindo por estímulo externo, chamado “amor” e, como uma faísca correndo numa trilha de pólvora, a mudança de voltagem viaja pelo seu axônio. Neurotransmissores entram em ação! Ativam o sistema de recompensa do cérebro, causando, entre outros efeitos, a sensação de bem-estar, de prazer e de paixão. Tudo acontece ao mesmo tempo... E o velho neurônio discursa sobre a relação de entrega absoluta dos seres humanos ao amor. Ao longo dos séculos, muitas relações provam a fanática tendência do homem pelo seu objeto de desejo, de viver um grande amor a qualquer custo. Misturando fantasia e realidade o amor acontece... Exaltam das histórias românticas Cleópatra e Marco Antônio, amantes que, sob laços obsessivos, eternizam suas paixões através do suicídio, em nome do amor. A saga amorosa da rainha de Sabá, que atravessa o deserto em busca de novos conhecimentos e se apaixona pelos sábios encantos do rei Salomão e tantas outras paixões... Histórias de amor são mesmo imprevisíveis e superam todas as barreiras. Haja vista as “estórias” de Cornélio. Aquele sujeito que diz: o amor é tão puro que a traição é algo que não alcanço... É! O amor é cego, enquanto o outro “afoga o ganso”, entre quatro paredes frequentemente e sem descanso, lá vai ele exibindo seu chifre de “corno manso”. Tórridos romances transcendem de comportamentos incomuns – telefonemas compulsivos, serenatas, gritar dos telhados, ciúmes, perseguições e ganham uma vasta produção romanesca. No espaço literário, tudo é possível. O amor é trágico, intenso, apaixonado, eterno e fanático. É na literatura que Medéia envenena seus próprios filhos, para vingar-se de Jasão por não corresponder o seu “fanático amor” por ele. Tristão e Isolda bebem um tipo de licor, um elixir, que os torna inadvertidamente ligados por um amor indissolúvel. Conhecemos a tragédia amorosa do Conde, que volta da guerra e descobre que sua amada, julgando-o morto, havia se suicidado. Revoltando-se contra Deus, torna-se um ser amaldiçoado: o Conde Drácula. E a bela história de amor de Romeu e Julieta, proibidos de vivenciar sua experiência amorosa mediante a rivalidade de suas famílias, vão até as últimas consequências para manter acesa a chama de suas paixões. Sofrimentos, desencantos, solidões, tudo aliado a uma imensa ternura e a um desejo de felicidade provocam uma convulsão interior transbordante de poesia à natureza do homem... Como se o poema de Florbela Espanca fosse sussurrado em nossos ouvidos: “Minh’ alma, de sonhar-te, anda perdida Meus olhos andam cegos de te ver! Não és sequer razão do meu viver, Pois que tu és já toda minha vida! Não vejo nada assim enlouquecida... Passo no mundo, meu Amor, a ler No misterioso livro do teu ser A mesma história tantas vezes lida”! Na linha do tempo, a dialética deste sentimento impressiona: da vida real para os romances, dos romances para a vida real. Dão alento aos comuns corações, que batem por um toque especial, por uma troca de olhares, por um beijo terno que pare o tempo! O ser humano sempre seguirá desejando um amor duradouro, eterno, até que a vida os separe. Um amor com “definição de quero, sem lero-lero da falsa sedução”. Salve Jonh Lenon e Yoko Ono, Salvador Dali e Gala, Jorge Amado e Gattai e tantos outros, que disseram não à “constituição dos séculos que diz que o “garantido” amor é a sua negação”. Por um instante, temos a impressão de que tudo para de funcionar! Mas estávamos enganados. Era um impulso nervoso, do tipo tudo ou nada: ou você acredita ou não acredita, não havia meio termo. Algo que poderíamos chamar de “ideia fixa”. Como é feito em discursos monológicos, o nosso velho - e conhecido - neurônio prega sua palavra aos “fiéis”, atentos e curiosos, “neurônios companheiros”. Um “sentimento oceânico” invade a alma das pessoas, tornando-se uso e transformando-se em marca de uma febre fanática em diversos campos da vida social. Tal febre, cuja paixão e adesão, historicamente associadas a motivações de natureza religiosa, nacionalista, política, cultural ou esportiva, cria uma sensação de liberdade nos seres humanos quando aceitos por um determinado grupo ou para experimentar uma “nova vida”. Como filhos de suas verdades absolutas ou crentes do fervor excessivo, irracional e persistente por qualquer coisa ou tema, os sintomas existentes nos nobres medievais não me deixam dúvidas de que são fanáticos: acreditavam na presença de Deus no centro de tudo e pagavam dízimos altíssimos visando um lugar no céu; como não pensar o mesmo do parafrênico Hitler e sua absurda ideia de supremacia da raça ariana e a eliminação dos “impuros”? E daquela gente sofrida, que tudo que tem na vida é o sacrifício da promessa cumprida?Que crê num misticismo religioso, num deus de carne e osso: “Padim Pade Ciço”. Sai gente de tudo que é canto, devoto, promesseiro, romeiro, pra pedir a benção do tal pastor de Juazeiro. Na bonança, todos – homem, mulher, idoso e até criança – têm absoluta confiança, cantam em romaria e admiram o sermão do velho guia. Lute pela paz ele dizia, e mais adeptos adquiria... A História nunca provou se era santo ou embusteiro. Só se sabe que tinha o nome de Antônio Conselheiro. Sem falar que muitos têm a certeza, de que o “único remédio contra os males” são as inscrições do Profeta Gentileza. Como os extremistas religiosos do Oriente Médio não há. Islâmicos, judeus e cristãos com uma adversidade étnica e cultural que vai além do que supus, que pouco se diferencia do sermão dos pastores evangélicos a caminho da luz... onde tudo é pecado ou está amarrado em nome de Jesus. Os seguidores de Bin Laden, estes não dão pausa... Explodem-se contra o sistema na luta por uma causa. Dada a complexidade do assunto, tem até quem duvide que Vicente Van Gogh tenha sido esse gênio glorioso, devido ao seu extremo fanatismo religioso. Tem de tudo um pouco. Até os mais irreverentes dos povos, como, por exemplo, os brasileiros no seu trato diário com Deus. É curioso, “mas tudo que se faz na terra se coloca Deus no meio, Deus já deve está de saco cheio: deus lhe pague, deus lhe guie, deus lhe abençoe, Deus é vosso pai, é vosso guia...” Uma espécie de doutrina os conduz... A “febre fanática” não se restringe somente ao campo religioso, também ganha dimensão nos estádios de futebol, com as torcidas organizadas; em campanhas políticas; em grandes shows, com fãs histéricas mostrando cartazes e vestindo-se como os seus ídolos, entre os amantes de chocolates, colecionadores, consumistas e repousa sobre a paixão de inúmeros sambistas, apaixonados por suas escolas de samba. Sem esquecer daqueles que não se importam com enormes filas para arriscar a sorte, acreditando que ganharão milhões com apenas alguns trocados... No ritmo e no alcance da comunicação, em séries ao longo de cadeias sinápticas, o velho neurônio faz as suas considerações finais: A humanidade é fanática? Ou o homem é realmente fruto do meio? Não seria essa mesma humanidade que perderia parte da sua defesa psíquico-emocional com o avanço do “capitalismo selvagem”, que o próprio homem e sua tecnologia não temeram irracionalmente em suplantá-la, que tem as respostas para um “permissivo fanatismo”? Corpo sarado é a certeza da busca fanática pela beleza, em detrimento da sua própria origem? Quem administra os “paraísos fiscais” com suas “cédulas abençoadas” longe dos pregões, juros e até poupanças, apoiados por exorbitantes acúmulos financeiros: corruptos ou fanáticos por dinheiro? E o título de poder para suas periódicas descobertas, que, fanaticamente, experimentam ao invés de descobrirem definitivamente a cura do Câncer ou da AIDS? Seja você fanático ou não, por alguma causa, coisa, natural ou artificial, objetiva ou subjetiva, não importa. Viva! E faça do seu pensamento mais uma possibilidade de transformação da vida humana. Era uma vez... o enigmático encéfalo! Razão, emoção e fé...tomam conta da nossa mente carnavalesca. A Caprichosos de Pilares pede passagem para contar, em forma de samba, o enredo “Fanatismo: enigma da mente humana”, nesse encontro mágico e poético chamado carnaval. |
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