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Os 5 Cantos da Sereia - Guananira, Lendas e Mistérios da Ilha do Mel
ENREDO 2015

Os 5 Cantos da Sereia - Guananira, Lendas e Mistérios da Ilha do Mel

JUSTIFICATIVA

 

A Sereno de Cachoeiro apresenta em 2015 o enredo "Os 5 cantos da sereia - Guananira, Lendas e mistérios da ilha do mel", uma viagem pelas lendas da Ilha de Vitória, capital do Estado do Espírito Santo, chamada primeiramente pelos índios nativos de Guananira, que significa "ilha do mel". A partir das lendas, contaremos um pouco da história da cidade, sua cultura e suas tradições.

O primeiro canto refere-se à lenda do Penedo, rochedo localizado na Baía de Vitória, junto ao porto. Segundo a lenda, o rochedo seria o portal para o reino de Netuno, o Rei dos Mares, guardião da Ilha. Ainda hoje é tradição entre os navegantes lançar oferendas ao mar para ter boa sorte.

O segundo canto refere-se à lenda do Pássaro de Fogo. Segundo ela, os montes Mestre Álvaro, localizado no município de Serra, e Moxuara, no município de Cariacica, são resultado de uma história de amor proibido entre a bela Jaciara e o guerreiro Guaraci, índios de tribos rivais. Ambos foram separados e transformados em pedra, mas por misericórdia do Deus Tupã, uma vez por ano, na noite de São João, um pássaro de fogo corta o céu sobre Vitória, levando juras de amor de um monte a outro.

O terceiro canto lembra a história da Fonte da Capixaba, o mais antigo chafariz de Vitória. Conta a lenda que suas águas são lágrimas de uma bela índia desprezada por um soldado português por quem se apaixonara, guardadas por uma onça enviada por Tupã que habita uma gruta na mata próxima (a "gruta da onça", uma das atrações turísticas do centro da capital capixaba). Da fonte beberam os primeiros moradores de Vitória, servindo até de pia batismal. Ao seu redor a vila cresceu e se tornou uma bela cidade. Contam, ainda, que quem bebe da fonte da Capixaba sempre retornará à Vitória.

O quarto canto fala do Vale do Mulembá, O nome vem de uma grande árvore de origem africana que se encontra na região, sendo considerada árvore sagrada. Deste vale extrai-se a argila para fabricação das famosas panelas de barro capixaba. Do mangue e do mar vem a matéria prima da moqueca, prato principal da culinária do Espírito Santo. Ecoam na região os tambores e as casacas (espécie de reco reco) da Banda de Congo Amores da Lua, que sai às ruas para louvar São Benedito e Nossa Senhora da Conceição.

Por fim, o quinto canto lembra a lenda da Pedra do Diabo, localizada no bairro de Inhanguetá. Conta a lenda que um rico fazendeiro prometeu dar ao diabo seu único filho em troca de riquezas. Na hora marcada, o rico senhor levou seu filho para a laje de pedra onde o diabo já o esperava, mas a fé do menino em Santo Antônio operou um milagre. Eis que do céu desce o santo com refulgente luz, afugentando o terrível demônio. Na laje de pedra ficaram marcadas a pegada do santo, a marca da garra do diabo e uma marca em forma de cruz feita pelo cajado do santo. Estudos dizem que as marcas na pedra foram feitas por homens das cavernas, mas, segundo o povo, a pedra foi mesmo palco da batalha entre o bem e o mal.

 

SINOPSE

 

E eis que minha águia voa mais uma vez. Em seu vôo pela imensidão azul de céu e mar, avista uma bela ilha encantada de onde soa uma melodia, doce como um favo de mel e suave como o morrer das espumas na areia da praia, que falam do mar, de amores proibidos e seres encantados. Ao pousar serena na ilha, eis que encontra uma bela sereia sobre um rochedo à beira-mar, bela como um sorriso de mulher, pura como um sonho de criança. Cantava a história de sua ilha, e a águia, encantada, se aninha para ouvir.

 

Canto I

E assim a bela sereia cantou, contando como o Rei dos Mares defendeu sua ilha da cobiça dos invasores:

 

Quando a primeira estrela surgia

Soava o búzio encantado

De seu palácio prateado

O rei do mar em cortejo saía

 

Carruagem de conchas e estrelas do mar

Do Penedo partia com seus guardiões

Seres encantados, marinhos dragões

Rondavam a ilha à luz do luar

 

Voltava a seu reino aos raios da aurora

Chegavam invasores cheios de ambição

Impondo aos índios a escravidão

Espalhando a cobiça que a tudo devora.

 

Saía Netuno em toque de guerra

Expulsando da ilha do corsário invasor

Hoje deixam oferendas de singelo valor

Os que querem em paz adentrar esta terra.

 

E a sereia se volta para o Penedo e faz uma profunda reverência ao Rei dos Mares, que habita nas profundezas das águas e se levanta para defender a ilha dos ambiciosos piratas. Ainda hoje é costume dos navegantes deixarem oferendas nas águas da baía para que estas, ao tocarem o Penedo, tragam boa sorte.

 

Canto II

Voltando-se agora para o interior da ilha, a bela sereia reverencia duas grandes montanhas de pedra que emolduram a paisagem, uma ao norte e outra ao sul. E a melodia que sai de seus lábios traz um sentimento de uma doce saudade, como a que se tem do primeiro amor de infância. Assim ela canta:

 

Oh, Pedras distantes, nas serras verdejantes

Haverá história de amor tão bela assim?

Os filhos das matas de tribos rivais

Travaram batalhas nos campos sem fim

 

Guaraci era guerreiro valente do norte

Jaciara,da tribo do sul, a mais linda flor

Em segredo se amaram despertando a ira

E viram ser proibido seu amor

           

Transformados em pedra foram separados

Pela força da reza do grande pajé

Tupã, comovido com sua história

Se compadece dos filhos de fé

           

Uma noite por ano voa sobre a ilha

Linda ave de fogo de grande fulgor

Levando aos amantes para sempre apartados

Mensagens tão belas e juras de amor

 

E lá estão as duas montanhas de pedra: ao norte Guaraci, transformado no "Mestre Álvaro", a grande montanha que serve de marco aos navegantes, e ao sul, Jaciara transformada no Moxuara, que se eleva das matas imponente. Ambos aguardam a noite de São João, quando o pássaro de fogo voará sobre  a ilha, levando a mensagem de amor entre os dois.

 

CANTO III

 

Continua a sereia a cantar:

 

Do seio da terra jorra uma fonte

Que brota das pedras da mata escura

Antigas histórias ela murmura

Que belos mistérios ela esconde?

 

Contam que uma bela filha das matas

Viu-se desprezada por seu lusitano amor

De suas lágrimas nasceu esta nascente

Que ao berço da vila primeiro banhou

 

Seu nome empresta aos filhos da terra

Serviram suas águas de pia batismal

Quem delas beber e para longe se for

Voltará à esta ilha com amor filial

 

Cantai águas da Capixaba!

Viste essa vila em cidade se tornar

Mucamas e servos, sinhás e barões,

A ti vieram para se saciar

 

E o murmúrio das águas se fez ouvir, águas da fonte de onde brotou uma cidade, fruto das lágrimas de um coração partido. A bela sereia volta o olhar para o coração da ilha, de onde brota a fonte da vida, guardada pela onça sentinela, enviada por Tupã para proteger esta maravilha.

 

 

CANTO IV

E a sereia juntou um punhado de barro e moldou uma pequena panela com suas mãos. De seu interior surgiram aromas suaves de temperos da terra, enquanto tambores e casacas soavam ao fundo. Fechando os olhos, ela cantou.

 

Entre a terra e o mar surge a vida

À sombra da árvore encantada

Rainha do vale, sua sombra abriga

Quem vive do mangue, povo caiçara

 

Quem te plantou, sagrado Mulembá?

A quantos a tua sombra acolheu?

Vieste também do além-mar

No tumbeiro que ao mar entristeceu?

 

Do barro escuro tiram o sustento

Divina arte de mãos calejadas

De barro panelas, do mar alimento

Da terra temperos e dos tambores, toadas

 

Puxada de mastro, Amores da Lua

Ressoam as casacas em louvação

Os santos negros saem à rua

Sagrado e profano em procissão

 

E a o vento balança os cabelos da linda sereia, tal como balançam as firas coloridas dos estandartes feitos pelas mãos negras, calejadas pelo trabalho. Salve São Benedito e a Virgem da Conceição.

 

CANTO V

A bela sereia agora olha para o céu e pede proteção para cantar. Seu olhar brilha como o fogo e sua voz é grave:

 

A vila crescia em riqueza e poder

Crescia a ambição que a tudo destrói

Um rico senhor, na ganância de ter

Seduziu- pelo ouro que o tempo corrói

 

Ao terrível demônio prometeu entregar

O sangue inocente de seu filho varão

Á meia noite, na laje de pedra,

Em troca de ouro, sem coração.

 

Na hora marcada o demônio aparece

Para cobrar a promessa cruel

Mas a fé do menino de joelhos em prece

Faz o santo em glória descer do Céu

 

Santo Antonio em batalha afugenta o demônio

Risca a pedra deixando o desenho da cruz

O tinhoso vencido deixa a garra impressa

Como lembrança da grande vitória da Luz.

 

Voltando o olhar para fundo da baía, a sereia contempla a pedra do Inhanguetá, onde ficou gravada a marca da garra do demônio, a pegada do santo e a marca da cruz.

 

EPÍLOGO

 

Encantada pelas canções, a águia percebe que é hora de levantar voo e seguir viagem. Antes de partir, pergunta à bela sereia:

"Responda-me, filha dos mares, qual o nome desta ilha encantada, palco destas belas histórias?"

E a sereia responde:

"Os primeiros a chamaram Guananira, a ilha do mel. Depois, os que vieram de além-mar a chamaram Vitória, hoje cidade presépio, cidade Sol, um sorriso de mulher".