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Aruanda
ENREDO 2013
Aruanda

A EVOCAÇÃO 

Aruanda, reduto da luz - Plano espiritual maior! De todos os Orixás e entidades que emanam vibrações e sintonias que energizam aqueles que buscam na regência de Ifá o infinito, o rumo, o destino! Agô, meu pai! Zambi há de abençoar, guiar e iluminar o caminho e toda jornada que se inicia na dor e vai ao encontro do espírito, de vida, de paz.

Crentes no amor de uma força inexplicável que acalenta, conforta e protege de todo pesar. Através da manifestação das forças da natureza, sente a presença do elo vivo no Omolocô. Em rituais sagrados, ritos de oferenda; Adarrum em batida como o pulsar de um coração, danças de louvor, a evocação das entidades pelo seu amor, fé e proteção. É o Amací que purifica e recarrega energias para enfrentar as provações do porvir. Lavando o corpo, lava-se a alma, transforma em energia.

A TRANSCENDÊNCIA

Do berço da humanidade, a origem da verdade! De cada Nação Bantu do continente negro, negra é a origem dos rituais, dos sacrifícios, da Nação Angola. Do sangue derramado em ardor pela resistência de uma cultura, uma religião, o laço eterno entre irmãos, unidos por uma história.

Em terras quentes, em que a fauna espanta e é descomunal, monumental, habitavam povos que se orgulhavam pelos bravos guerreiros que defendiam sua raça. Os povos se unem sob a égide da sabedoria e da lucidez de sua condição, além do espírito aguerrido que os impele a lutar com bravura contra o domínio forçado, imposto na época da expansão ultramar dos lusitanos. Terra é força, é vida! De suas raízes profundas nascem os pequenos ramos de vida. Ignição para uma nova dimensão plácida e serena.

Lutas cruéis, movidas pela ganância da exploração, contra a opressão imposta pelos invasores. Impetuosos conquistadores destruíam os laços entre os povos que antes tinham como sua maior riqueza a liberdade. Impuseram religiões diversas da nativa, aculturação forçada e desconhecida. O afã do amor prevalecia sobre o ódio latente. Separados fisicamente, mas em sintonia com a terra que é seu lar de origem. Energia que pulsa no rufar do tambor, no lamento, na saudade que vai marcada no coração até a eternidade.

Do porto de Luanda partiram os tumbeiros com a dor dos segregados. Interminável e doloroso mar, sua imensidão acalentava toda desilusão. Abandono, tratamento desumano, incerteza do que o destino reservava àqueles que não tiveram chances de escolha, mas carregavam consigo a herança maior: a crença em seus protetores e na virtude que lhes irradiaram.

ELO DE SANGUE! UNIÃO!

A incredulidade dos que viviam no ifá - infinito destino, paraíso de liberdade, e agora sofriam em porões sujos, materializa-se em penúria e sofrimento. Nas terras de São Salvador, haveria salvação? A realidade era castigo e medo. Cada erro sendo traduzido em chibatada, ferida que não cicatriza, e humilhação. Diante de tanto açoite, da solidão forçada por castigos e a saudade da terra distante. Qual seria o alento?

Clamor às forças naturais e a quem as controla. Com fé em Olorum, negro vira Raúra, Abaô, Ofã, Ogã, Yaô. A crença nos espíritos dos Senhores das Casas Grandes acaba por influenciar a fé de quem precisa de um conforto. Miscigenação de cultura, de idéias, de ritmos e sons, surge o tom de uma nova religião, no Congar de toda essa nova nação brasileira genuinamente africana. A cada toque, um chamamento, um alerta que, embora vivo, cansado por dentro. A luz do céu encontra sua materialização na força terrena, arraigada em emanação e incorporação dos elementos naturais.

O sofrimento externado e exprimido na filodoxia de uma crença acaba por levar ao conhecimento da sociedade esse sincretismo afro-brasileiro. A novidade dessa nova fé reúne os que dela se encantam e creem em seus preceitos, tomando-a como alicerce de vida, chama para guiar os caminhos. Verdadeira paixão popular, prelúdio para a luta de todos, irmanados contra o racismo, preconceito, a miséria latente imposta aos negros e a tristeza de sua real condição - liberdade!

Da união de todas as energias reunidas e tendo como catalisador a fé, eis a luz necessária para guiar os caminhos. Elevando o espírito, afirmando conhecimento, saudando as entidades maiores, aquelas plenas e puras, abrem-se as vias da jornada iluminada.

AFIRMAÇÃO

Novos rumos, novos tempos. Alforria dos oprimidos galgada com sangue, suor, lágrimas e muito trabalho. Uma luta incessante até a derradeira abolição. Aconteceu realmente? Dificuldades da inserção do negro na sociedade e no mercado de trabalho. A rejeição, discriminação ainda persiste, mas com a convivência mais próxima entre as raças, o povo brasileiro miscigena-se. O negro integra-se à sociedade urbana e às classes nascentes.

Da mesma forma, com o desenvolvimento do pensamento humanista, em que o ser humano é centralizado no campo das relações interpessoais, valorizado e posto como ápice de toda teorização social. O contato entre os rituais sincréticos dos negros com o espiritismo kardecista acaba por alicerçar os fundamentos da Umbanda.

Em cultos, com explosão contida da fé e da oração, há a manifestação dos espíritos dos antepassados negros - os pretos velhos - repletos de sabedoria, transmitindo conselhos e orientações. Também, a invocação dos espíritos dos índios, os caboclos, guerreiros, bravos, leais. Além da presença dos espíritos dos anjos celestiais, personificados em figuras de crianças, os ibejis. Todos com a mensagem de defesa das entidades oprimidas, sua valorização, conforto aos necessitados e aos sem esperança e luz na direção dos caminhos abertos a seguirem. Acima de tudo, a consagração da paz de espírito e no caminhar de cada um.

Odoyá, Yemanjá! Água para abençoar, para lavar todas as mentes e os males que nos cercam. Procissão de paz, espírito de guarda e acalanto. Flores, velas, esperança que vai, bênçãos que vêm. Ora yê, yê, Oxum!  Irradia seu amor para purificar e guiar os que buscam alento em seu colo de proteção.

Dignidade, a missão. Nessa luta incessante pela afirmação de crença e valores, agarremo-nos com todas as guias, figas, patuás, elementos sagrados de sorte e proteção. Não esqueça sempre das oferendas aos Orixás, com muita humildade, para agradecer a dádiva maior de se estar próximo do irmão. E assim, com muita festa, receber e sentir a força e a luz daqueles a quem tanto se ama e que mostram a verdade e a sabedoria.

UNIDADE E PERDÃO! 

Brasil mestiço, raças valorizadas? Há uma necessidade imensa de trabalho para a definitiva convivência harmoniosa entre as raças formadoras do povo brasileiro. Ainda há mágoas, repressão, dificuldades de convivência, mas há que se exaltar o mestiço! Genuinamente brasileiro, manifestação maior de um povo aguerrido, bravo, lutador. Sonhador por vocação, determinado por realidade.

O universo afro-brasileiro afirma-se a cada dia, através do reconhecimento prático de seus ensinamentos; da fé crescente e latente dos crentes em seus preceitos fundamentais; da inserção definitiva dos ritos como expressão de verdade pelos seus adeptos. Afastar o mal, promover o bem!

Proclamam a caridade como objetivo maior de todos os ensinamentos. A cor branca, neutra, representativa da paz, como cor base de todos os cultos e rituais de Abaçá. O negro abria a gira e dançava Curimba, firmando a umbanda - religião absolutamente brasileira!

Toda essa legitimação e reconhecimento da umbanda, como unidade sincrética e religiosa afro-brasileira remete ao plano maior, Aruanda, que com seus espíritos de luz, guiam os caminhos certeiros para a aclamação de toda essa chama de fé sagrada, que existe, faz-se presente e emana fluidos a quem dela se socorre.

Por todo esse Brasil, terra mágica e mística, reflexo terrestre do firmamento iluminado, consagra-se todo clamor de paz, com a firmação do amor e o perdão - sintonias e vibrações - pilares seculares de força, para então, perceber que Aruanda também é aqui.

Rafael de Lima
Carnavalesco

GLOSSÁRIO:

ABAÇÁ - Templo, tenda, terreiro de Umbanda.

ABAÔ, OFÃ, OGÃ, YAÔ, RAURÁ - Classificações de Médiuns e funções determinadas nos terreiros.

ABRIR A GIRA - Abertura dos trabalhos nos terreiros de Umbanda.

ADARRUM - É o toque feito seguidamente pelos atabaques da invocação dos protetores para incorporarem nos médiuns.

AGÔ - Pedir licença ou permissão

CONGAR - O "altar sagrado" do Terreiro composto de imagens de santos católicos, caboclos, pretos-velhos entre outros.

CURIMBA - Dança do Orixá ou Entidade no meio do Terreiro.

IFÁ - Porta-voz dos Orixás

KARDECISMO - Um dos pontos básicos em que se fundamentam todas as teorias espiritualistas.

OLORUM - Deus Supremo. Entidade suprema, força maior, que está acima de todos os Orixás (Zambi).

OMOLOCÔ - Culto de origem angolense.