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Nas lembranças da infância, um carnaval de esperança (Unidos de Bangu - 2013)

Nas lembranças da infância, um carnaval de esperança (Unidos de Bangu - 2013)

Meus oito anos
Ah que saudades que eu tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais

Casimiro de Abreu

Lendo as palavras do poeta, subitamente sou tomado por um forte sentimento de nostalgia. Estranha situação os versos de Casimiro de Abreu provocaram em mim. Quando tinha meus oito anos, sonhava com a suposta liberdade da vida adulta. Agora, após 24 primaveras, inspirado na poesia, recordo com saudade da infância que antes renegava. Neste carnaval mergulho nas reminiscências de meus oito anos, e, com um filete de lágrima descendo pelo rosto, abro um leve sorriso e me ponho a lembrar, embora não tenha o mesmo talento com as letras.

Lembro-me das tardes em que passava na casa da vovó. Do amor e do carinho que sempre encontrava em seus braços. As lembranças me transportam para seu amplo quintal repleto de flores, e novamente sinto exalar o perfume que desperta minha memória afetiva. Lembro-me do sabor das frutas que, escondido, colhia no pé; traquinagem pueril que ganhava ares de grande aventura. Lembro que no melhor exemplo da típica cumplicidade entre um netinho e sua avó, deliciava-me nas guloseimas que ela preparava, não importando a hora do dia. Como era gostoso me lambuzar naquela fartura de doces! Ah, que saudades da minha avó!

Saudades também das brincadeiras. Eu abria a porta de casa e corria alegre pela rua, atrás da bola que rolava sobre o asfalto quente, típico do meu bairro. Na pelada com os amigos eu era o Rei! Na minha imaginação pueril estava no Maracanã, e com a adrenalina fervendo, driblava carros e postes para marcar mais um gol de placa. Olhando para cima, enxergava minha pipa iluminada pelo sol. Ela bailava levemente entre as nuvens acompanhando a suave dança do vento, mas, se aparecia alguma outra pipa próxima, eu lançava um poderoso ataque ao rival. Cortando todos os adversários, eu me considerava o menino que dominava os céus. Lembro também que, mesmo dentro de casa, eu era feliz. Guardo na memória os vários jogos de tabuleiro. Geralmente à noite, eu e meus amigos nos reuníamos para disputas acirradíssimas pela vitória, seja conquistando um continente, comendo uma peça ou ficando milionário. Lembro-me do meu saudoso videogame, dos jogos que eu mais gostava e me alegrava. Tudo agora é apenas nostalgia.

Por incrível que pareça, agora percebo, tenho saudade até daquilo que não gostava. Eu ia para a escola forçado, confesso, empurrado pela minha mãe e praticamente era trancafiado na sala de aula. Hoje olho para trás e, diante das responsabilidades que agora assumo, compreendo que a minha mente infantil criava fantasmas que não eram tão assustadores assim, pelo contrário. Na escola era como se tivesse que enfrentar o monstro da matemática! Era como se os ditados fossem uma sessão de tortura, e a professora, com aquele sorriso no canto do rosto, uma senhora sádica querendo me fazer sofrer. Hoje, agradeço aos mesmos mestres que antes temia.

Estão guardadas em minha memória as lembranças das tardes de festa no meu bairro. Quando o circo chegava, todos saíam de suas casas para ver a alegria do palhaço, a beleza dos animais, a bravura dos domadores e o talento de toda trupe. Nos finais de semana, cada jogo do Bangu era uma festa animada pela famosa charanga. Ao som das marchinhas, eu e meus amigos torcíamos e dançávamos nas arquibancadas de Moça Bonita. Eu me lembro das tradicionais festas juninas, das ruas tomadas pelas barraquinhas, das comidas típicas e do show das quadrilhas. Lembro, agora com saudade, da agitação que era o dia de São Cosme e Damião, nas ruas e nos terreiros. Os saquinhos de doce conquistados eram verdadeiros troféus! Tudo em Bangu era motivo para fazer festa!

E se tudo era festa em Bangu, nada se compara ao carnaval. Sinto saudade do carnaval dos fantasiados, que misturavam tradição e criatividade. Sinto saudade do carnaval dos blocos, que aliavam alegria e espontaneidade. Como todo morador da Zona Oeste, também sinto saudade da Mocidade da década de 90, forte e vencedora. Ela era sempre uma das favoritas na disputa pelo título. Nestas reminiscências de meus oito anos, percebo que tenho saudade especialmente do dia 11 de fevereiro de 1997, data que exatamente hoje completa 16 anos. Esta foi a última vez que vi a minha Unidos de Bangu desfilar. Então, novamente sou tomado pela mesma adrenalina da infância. O sorriso nostálgico agora é de alegria. A triste lágrima de saudade volta a ser de felicidade. Ao contrário do que disse o poeta, os anos trouxeram de volta esta paixão da aurora da minha vida. Hoje, em outro dia 11 de fevereiro, a luta e o suor de muitos moradores de Bangu transformaram a dor em alegria, a lembrança em esperança. A coincidência de datas, na verdade, é apenas o destino dando seu aval. Nossa história começa a ser recontada de onde paramos, e que, a partir de agora, seja eterna na memória das gerações de ontem, hoje e de amanhã. A Unidos de Bangu está de volta! Destas lembranças da infância, surge o carnaval da esperança.

... Enredo dedicado a todos que tiveram o prazer de passar a infância em Bangu.

Fábio Pavão
(Autor do Enredo)