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Bravos Malês! A Saga de Luiza Mahin (Alegria da Zona Sul - 2018)

Bravos Malês! A Saga de Luiza Mahin (Alegria da Zona Sul - 2018)

Apresentação/Justificativa

Luiza Mahin, negra alforriada e quituteira. Mahi era o teu povo Jeje, que habitava o antigo reino do Daomé, atual Benim, lá na África dos nossos ancestrais. Luiza fora a única palavra que aceitou, pois, imposição nenhuma de fé ou servidão foram capazes de domar o seu espírito aguerrido.

Na travessia de um continente ao outro a mulher de pele tão negra quanto a noite resiste, persiste e insiste. Toma para si o islamismo como
verdade norteadora do seu destino, é chamada “imale”. É toda a gente “malê”, a negritude que tem fé em Allah! A história registra a “Revolta dos Malês” como a insubmissão das senzalas, e nós, enquanto veículo disseminador de cultura – escola de samba – entendemos que dar voz aos clamores sociais é mais que missão, é dever.

Quando soar a sirene e o nosso manto cruzar a Avenida Marquês de Sapucaí, reverenciaremos a figura de Luiza Mahin. Faremos de cada elemento deste desfile um pedaço de um poema heroico em memória de todos os nossos irmãos negros. Será um cortejo de muitas vozes uníssonas que
ecoarão pelo tempo, revivendo um momento histórico, cessando o estalo da chibata.

Por honra ao sonho Malê e tantas outras contribuições daquela que teria
sido a “Rainha da Bahia e de todos os negros mulçumanos”, o G.R.E.S.
Alegria da Zona Sul, tem a honra de apresentar seu enredo para o Carnaval de 2018: “Bravos Malês! A Saga de Luiza Mahin”.

Celebraremos neste dia quem lutou por nós!

Cantaremos para que as gerações ouçam nossa voz!

Salaam Aleikum!
(Que a paz esteja sobre vós!)

Sinopse

alegriazsSalaam Aleikum, meu querido Brasil!
Minh’ alma é toda alegria por esse momento,
Pelo tanto que tenho para lhes contar.

Os meus ancestrais falavam dos tempos idos,
Quando o mundo fora moldado no infinito.
A morada primitiva da velha deusa das águas,
E das divinas serpentes da criação,
Ayìdohwedo e Dangbalá,
Arroboboi!

Contos do Gbé-Dotó, a sagração da vida,
A dança prateada da lua e da claridade do sol,
Matiz da criação, benção de Nanã Buruku.
Assim nasceram os voduns,
Que sussurraram aos homens os mitos,
Os ritos e alicerçaram o Daomé,
Onde reina o meu povo Jeje!

Foi assim que correram os dias,
Até o meu corpo ser aprisionado.
Escravizada em nome da fé de outra gente,
Pelas mãos de Xaxá entregue ao mar,
E como artimanha do destino,
Quis o renegado batismo me nomear Luiza,
“Gloriosa nas batalhas”.

Enquanto os ventos cortavam o mar,
Os grilhões sangravam minha pele,
E o coração era só saudade do que ficou.
A resistência fez do corpo fortaleza,
Até ser afagado pela brisa daquela terra,
Onde as águas banhavam as pedras do cais,
Na baía de todos santos e pecadores.

Pelas ruas e calçadas fiz o ganho de cada dia,
Enquanto a escravidão trazia o amargo da dor,
A persistência adoçava minha vida de anseios.
Foi então que a luz de Allah me trouxe liberdade,
Me fiz Malê ao lado dos meus semelhantes.

Sonhei em africanizar a cidade,
Para então me tornar Rainha da Bahia.
A palavra em árabe foi disseminada,
Nas bancas, nos ganhos e nas vendas,
Conclamamos a negritude para lutar.
Éramos tantos pelo fim da escravidão,
Éramos muitos para a igualdade reinar,
Éramos imale, mussurumins.

Assim se fez o levante,
A insubmissão negra que sonhava.
Assim se fez a insurreição das senzalas,
Nas veias o sangue Haussá, Tapa, Mina e Nagô,
Na pele a cor que nos irmanava.

Eis que então a traição calou o grito de revolta,
E aos olhos restaram as lágrimas de dor.
Pelas vozes que não mais se ouviram,
Pelos irmãos que foram humilhados,
Pelos muitos heróis esquecidos.
Mas a centelha de esperança persistiu,
Como a chama de uma lamparina,
Abrasando os ideais malês pelo tempo.

Continuei minha luta por outros cantos,
Caminhando por esse rincão muito se falou.
Há quem diga que contribui com as ciências,
Que influenciei manifestações culturais.
Tem quem diga que voltei para África,
E me tornei memória viva na casa da sabedoria.
De certo, só se sabe que virei poesia,
Com carinho de filho para mãe não esquecida
Para a negra, a mulher e a guerreira que há em mim,
Com amor Luís Gama, com amor meu Brasil,
Luiza Mahin!

O que a história não registra é que não importa o lugar onde descansou,
Luiza está lá na eternidade onde vivem Allah e os voduns,
Cultivando ideais e semeando a paz,
Luz para humanidade.

KOLOFÉ, LUIZA MAHIN!
SALAAM ALEIKUM, MALÊ!

Referências Bibliográficas

Artigos e publicações

FERRETTI, Sérgio Figueiredo. Revoltas de Escravos na Bahia em início do século XIX. Disponível em http://www.pppg.ufma.br/cadernosdepesquisa/uploads/files/Artigo%205(5).pdf. Acesso em 01/05/2017.

LIMA, Dulcilei da Conceição. Luiza Mahin: estudo sobre a construção de um mito libertário.

Disponível em http://anais.anpuh.org/wp-content/uploads/mp/pdf/ANPUH.S25.1043.pdf.  Acesso em 01/05/2017.

MELLO, Priscila Leal. Leitura, Encantamento e Rebelião: O Islã Negro no Brasil-Século XIX.

Disponível em http://www.historia.uff.br/stricto/td/1111.pdf. Acesso em 02/05/2017

PEREIRA, Alexandre José Vieira Machado. Revolta dos Malês Um Levante Islâmico no Brasil do Sec. XIX.

Disponível em http://encontro2008.rj.anpuh.org/resources/content/anais/1212959626_ARQUIVO_artigoanphu2008.pdf . Acesso em 02/05/2017.

REIS, João José. A Revolta dos Malês.

Disponível em http://educacao.salvador.ba.gov.br/adm/wp-content/uploads/2015/05/a- revolta-dos-males.pdf. Acesso em 02/05/2017

REIS, João José. O sonho da Bahia muçulmana.

Disponível em http://www.revistadehistoria.com.br/secao/dossie-imigracao- italiana/o-sonho- da-bahia-muculmana Acesso em 03/05/2017

Livros

REIS, João José. Rebelião Escrava no Brasil: A História do Levante dos Malês em 1835. São Paulo: Companhia das Letras, 2003.

REIS, João José et al. O Alufá Rufino. Tráfico, Escravidão e Liberdade no Atlântico Negro (c. 1822- c. 1853). São Paulo: Companhia das Letras, 2010.

Idealização e Colaboração: Marcus Vinícius de Almeida
Carnavalesco: Marco Antônio Falleiros
Pesquisa/Texto: Diego Araújo