Para
a Portela, escola que detém o maior número de campeonatos
no carnaval do Rio de Janeiro, nada mais justo que estar bem servida de
bons intérpretes ao longo de sua história. O que ficou
mais tempo com o microfone principal foi Silvinho do Pandeiro.
Durante 17 anos Silvinho foi o puxador oficial do pavilhão
portelense. Tamanha era sua identificação com a escola
que logo ficou conhecido também como Silvinho da Portela.
Começou a desfilar na azul e branco de Madureira aos 16 anos, na
época em que a escola se firmou como a mais vitoriosa da
história do carnaval carioca. Músico e frequentador das
rodas de samba nos subúrbios de Oswaldo Cruz e Madureira, logo
em seguida ingressou na ala de compositores da escola.
Nos anos 60, Silvinho fez parte do bloco carnavalesco Boêmios de
Irajá, no qual atuava como ritmista e compositor. Ao lado dos
ritmistas Elizeu e Jorginho Pessanha, fez parte da
delegação brasileira que se apresentou no 1º
Festival de Arte Negra, em Dakar, no Senegal, em 1966. Na
ocasião, integrou o grupo de músicos que acompanhava
Clementina de Jesus, Elton Medeiros, Ataulfo Alves, Heitor dos
Prazeres, Paulinho da Viola, entre outros.
Assim como seus contemporâneos Ney Vianna e Aroldo Melodia,
Silvinho também viveu a transição do
“puxador de samba” para o “intérprete”.
Apesar de as escolas de samba sempre terem contado com pessoas
responsáveis por puxar o canto, foi só muito mais tarde
que surgiu a figura do intérprete oficial. Silvinho foi o
primeiro a ocupar tal posto na Portela, estreando como puxador
principal em 1969, com “Treze Naus”, samba composto por Ary
do Cavaco.
Em 1970 Silvinho foi o vencedor do concurso de Cidadão Samba da
cidade do Rio de Janeiro. Devido suas altas habilidades com o pandeiro,
acabou incluindo o instrumento musical como sobrenome artístico.
Vivenciou uma época áurea de sambas antológicos
não só na história da Portela como na da
própria MPB. Entre os sambas, cantou “Lendas e
mistérios da Amazônia” (Catoni, Jabolô e
Waltenir), de 1970; “Lapa em três tempos” (Ary do
Cavaco e Rubens), de 1971; “Ilu-Ayê” (Cabana e
Norival Reis), de 1972; “O mundo melhor de Pixinguinha”
(Evaldo Gouvêa, Jair Amorim e Velha), de 1974;
“Macunaíma” (David Corrêa e Norival Reis) e
“Contos de Areia” (Dedé da Portela e Norival Reis).
Em algumas oportunidades, teve o luxo de dividir o microfone com nomes
do quilate de Clara Nunes, Candeia e David Corrêa, como no
carnaval de 1975, no enredo “Macunaíma”.
Silvinho do Pandeiro gravou três discos em sua carreira fora do
carnaval: dois LPs no ano de 1972 – e que foram batizados com seu
nome – mais “Silvinho e Suas Cabrochas”, de 1978. No
ano seguinte participou da coletânea pau-de-sebo “Cinco
Grandes do Samba-Enredo”, que reuniu os puxadores Aroldo Melodia,
Dominguinhos do Estácio e Ney Viana, a cantora Júlia
Miranda, além do próprio Silvinho. Seis anos antes, em
1973, participara de um outro projeto, chamado “A Voz do
Samba”, no qual interpretou duas músicas de sua autoria
com parceiros: “Amor de Raiz” e “Escrevi”. O
grupo A Voz do Samba era formado por sambistas de diferentes escolas,
como os portelenses Silvinho e Walter Rosa, Noel Rosa de Oliveira
(Salgueiro), Darcy (Mangueira) e um jovem compositor vindo das bandas
de Vila Isabel chamado Martinho.
Na década de 80, Silvinho passou a integrar a ala de
compositores da Unidos da Viradouro. Venceu vários carnavais
cantando sambas na vermelho e branco do Barreto no tempo em que a
escola desfilava na Avenida Amaral Ferrador, em Niterói. Na
Portela, conquistou vários prêmios, entre eles, o
Estandarte de Ouro de Melhor Intérprete, pela sua
atuação no carnaval de 1983, cantando o samba-enredo
“A ressurreição das coroas”, de Hilton Veneno
e Mazinho da Piedade.
Silvinho fez seu último desfile na Portela em 1986. Já
estava se acostumando com a aposentadoria como cantor de carnaval
quando a diretoria do Império Serrano o convidou para gravar
“Jorge Amado, Axé Brasil”, de autoria de Beto Sem
Braço, Aluízio Machado, Bicalho e Arlindo Cruz, para o
carnaval de 1989. No entanto, apenas gravou no disco, já que na
avenida quem conduziu o samba foram Paulo Samara e Roger da Fazenda.
Foi o último registro fonográfico com a voz de Silvinho
em um disco oficial de samba-enredo. Em 1993, participou da
coleção Escolas de Samba Enredo, produzida por Rildo
Hora, para a gravadora Sony. No CD dedicado à Portela, colocou
voz nos clássicos “Lendas e Mistérios da
Amazônia” (1970) e “O Mundo Melhor de
Pixinguinha” (1974), mostrando que ainda estava em plena forma
vocal.
O cantor trabalhou em dois filmes. O primeiro, de forma indireta: em
“A Idade da Terra”, o diretor Glauber Rocha filmou os
desfiles de Arrastão de Cascadura, Portela, Salgueiro e
União da Ilha no carnaval de 1978. É possível
ouvir a voz de Silvinho cantando “Mulher à
Brasileira” no trecho em que a Portela aparece, durante uma cena
interpretada pelo ator Tarcísio Meira. O segundo trabalho
cinematográfico aconteceu em “Orfeu”, de Cacá
Diegues, no qual fez uma participação afetiva como
figurante, numa cena em que toma uma xícara de café com o
personagem do ator Paulo Tiefenthaler servida pela atriz Zezé
Motta, que fazia o papel da mãe de Orfeu (vivido por Tony
Garrido), nos primeiros dez minutos do filme.
Silvinho do Pandeiro faleceu às vésperas do carnaval de
2001, aos 66 anos, em decorrência de um câncer na
próstata. Meses antes de falecer, participou da disputa de
samba-enredo na Unidos do Viradouro, concorrendo com um samba de sua
autoria. O veterano intérprete foi enterrado no cemitério
de Inhaúma, no Rio. Deixou cinco filhos, 16 netos e quatro
bisnetos.
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INÍCIO: Bloco Carnavalesco Boêmios de Irajá, em meados da década de 60.
1969 a 1978 – Portela (microfone principal)
1979 a 1982 – Portela (apoio de David Corrêa)
1980 a 1983 – Unidos do Viradouro (microfone principal, desfile na Amaral Ferrador, em Niterói)
1984 a 1986 – Portela
1989 – Império Serrano (gravou a faixa no disco, mas não cantou na avenida)
GRITO DE
GUERRA: Silvinho
era da época em que o grito de guerra não era muito comum
entre os puxadores. Só adotou o recurso a partir de 1983 e se
limitava a bradar o nome da escola esticando as vogais, no caso,
Pooorteeelaaa!! e Império Seerraaanooo!! em seu último
registro fonográfico, no disco de 1989.
CACOS DE
EMPOLGAÇÃO:
Não era muito afeito a cacos. Às vezes destacava
determinados trechos do samba com cacos cantados, casados com a
harmonia do samba, geralmente fazendo a chamada com as primeiras
palavras dos versos do samba.
SAMBAS DE SUA AUTORIA: “Amor em tom maior” (Viradouro/1981, com Passarinho e Zelito).
SUCESSOS:
“Um Grande Amor Se Acaba” (com Onofre do Catete e Xavier)
– Canta: Neguinho da Beija-Flor no disco “É melhor
sorrir” (Top Tape, 1982);
“Saudade Colorida” – Canta: Mestre Marçal no
disco “Pela Sombra” (BMG, 1989); Canta: Silvinho do
Pandeiro no disco “Os Cinco Grandes do Samba Enredo”;
“Samba Manifesto” (com Roberto Nunes) – Canta:
Bezerra da Silva no disco “Violência gera
Violência” (BMG, 1988);
“Só Lágrimas” (com Almir de Oliveira) –
no disco Grêmio Recreativo Escola de Samba da Portela (1972).
PREMIAÇÕES:
Cidadão Samba em 1970.
Estandarte de Ouro: Intérprete (1983).
DISCOGRAFIA SOLO:
LP Silvinho do Pandeiro “Não Posso Ir Pro Samba Assim” (Continental, 1972)
LP Silvinho do Pandeiro “Andaraí Ê” (Musicolor/Continental, 1972)
LP Silvinho do Pandeiro e Suas Cabrochas (Polydor, 1978)
DISCOGRAFIA DE CARNAVAL:
LP Sambas Enredo Grupo 1 1969 (faixa Portela)
LP Sambas Enredo Grupo 1 1970 (faixa Portela)
LP Sambas Enredo Grupo 1 1971 AESEG (faixa Portela)
LP Sambas Enredo Grupo 1 1972 (faixa Portela)
LP Grêmio Recreativo Escola de Samba da Portela – Coletânea Pau-de-Sebo (Continental, 1972)
LP Sambas Enredo Grupo 1 1973 (faixa Portela)
LP Sambas Enredo Grupo 1 1974 (faixa Portela)
LP Sambas Enredo Grupo 1 1976 (faixa Portela)
LP Sambas Enredo Grupo 1 1977 (faixa Portela)
LP Sambas Enredo Grupo 1 1978 (faixa Portela)
LP Cinco Grandes do Samba-Enredo – Coletânea Pau-de-Sebo (Entré/CBS, 1979)
LP Sambas Enredo Carnaval de Niterói 1981 (faixa Unidos do Viradouro)
LP Sambas Enredo Carnaval de Niterói 1982 (faixa Unidos do Viradouro)
LP Sambas Enredo Carnaval de Niterói 1983 (faixa Unidos do Viradouro)
LP Sambas Enredo Grupo 1-A 1983 (faixa Portela)
LP Sambas Enredo Grupo 1-A 1984 (faixa Portela)
LP Sambas Enredo Grupo 1-A 1985 (faixa Portela)
LP Sambas Enredo Grupo 1-A 1986 (faixa Portela)
LP Sambas Enredo Grupo 1-A 1989 (faixa Império Serrano)
CD Escolas de Sambas-Enredo Portela – Coletânea Sony (1993)
FILMOGRAFIA:
A Idade da Terra (1980, de Glauber Rocha)
Orfeu (1999, de Cacá Diegues)
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